sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A BÍBLIA E A REALIDADE XII


Apenas duas coisas explicam a religiosidade: falta de leitura da bíblia ou incapacidade de entender o que lê. Como disseram grandes pensadores, entre eles Rui Barbosa, todo o mal da humanidade tem por fundamento a ignorância. A ignorância deve ser entendida como a falta da oportunidade para se tomar conhecimento, aprender, aquilo que até então desconhecia ou ignorava. Quem ainda não aprendeu, não pode saber, se não sabe, ignora, se ignora é ignorante daquilo que não ainda não sabe, mas que pode vir a saber porque todos temos capacidade de aprender. Quando começamos a tirar nossas próprias conclusões sobre a vida e o mundo, estas conclusões tinham por base unicamente aquilo que nos fora ensinado. Se nos ensinaram bobagens, não nos era possível chegar a conclusões sábias. Como disse Mandela, ninguém nasce odiando. Para odiar, é preciso aprender. Se podemos aprender a odiar, também podemos aprender a amar. Conclui-se que se crianças aprendessem verdades em lugar de crendices e mentiras, paz em lugar do ódio, se aprendessem o contrário do que aprendem, a paz tomaria o lugar da guerra e a absolutíssima maioria dos sofrimentos não teriam lugar em nossas vidas.

Como a religiosidade é ensinada antes da capacidade de discernimento, e como ela, a religiosidade, proibia sob pena de virar cinzas, outro discernimento senão aquele que ela ensinava, ninguém ousava chegar a quaisquer conclusões diferentes das apresentadas pela religião, de modo que suas afirmações prevalecem até hoje unicamente por falta de uma análise sobre o que ela afirma e o que acontece. A leitura da bíblia não indica nada do que é pregado nos templos sobre a existência de um Deus bom.

A ilusão faz com que se tenha por dogma o conteúdo da bíblia sem que dela se tenha conhecimento. Da leitura daquele livro considerado sagrado, chega-se à conclusão de se tratara de mitologia. Ele surgiu quando os seres humanos eram ainda mais bichos do que são, época em que a riqueza consistia na posse de escravos, jumento, ovelhas, cordeiros, cabras, cabritos, burros e bois, razão pelas quais estes elementos fazem parte dos textos bíblicos. Os possuidores destes animais, os ricos de então, inventaram um ser tão poderoso que foi capaz de criar o universo para castigar os ladrões de suas riquezas porque ainda não havia penitenciárias nem cadeias e nem polícias para proteger a riqueza dos ricos donos de animais, como hoje existe todo um aparato policial que protege as riquezas dos ricos de dinheiro, inclusive das igrejas.

A ausência de sabedoria no que se aprende, vez que só se aprende mentiras, levou à insensatez de se criar um sistema onde os necessitados são convencidos de terem o suficiente para não avançarem sobre as riquezas sob sua guarda e permanecer eternamente contemplando uma riqueza que não lhe pertence, mas que lhe faz falta. Antes de haver os meios modernos de convencimento através da luminosidade da televisão, de falsos filósofos e de escritores assalariados para manter o povo certo da desnecessidade de se contemplar a vida em outro espelho, não contando com tal proteção, os donos de jumentos, cabras, etc., inventaram um Deus de poder absoluto para castigar quem tivesse outro comportamento que não o desejado por eles. Como o medo maior a nos ameaçar amedronta mais, como prova o fato de não se temer uma formiguinha com a mesma intensidade com que se teme um leão, tornaram o Deus dotado de uma crueldade sem limite, crueldade, esta, entretanto, escondida dos próprios religiosos porque eles estão certos em sua fantasia de que o seu Deus é de bondade infinita.

Não há mais motivos para as fantasias porque o conhecimento desenvolveu e já permite explicação para grande parte do desconhecido. Embora não abranja ainda o conhecimento a totalidade do exigido pela curiosidade, é suficiente para dispensar as fantasias dos gregos e romanos descritas no maravilhoso livro de Thomas Bulfinch, MITOLOGIA, versando sobre histórias de deuses e heróis. Diferentemente das fantasias atuais, lá, a primeira mulher se chamava Pandora, e o mal não teve origem por instigação de uma cobra, mas, da ação de Pandora ao abrir uma caixa onde o deus seu marido havia guardado todos os males. São tão inverossímeis as explicações que aqueles povos tinham para a existência das coisas que ninguém será capaz de lhes dar crédito, assim como não merecerão crédito amanhã as crenças de hoje. Num futuro não muito distante elas serão apenas curiosidade como a da Caixa de Pandora.

A religiosidade nada mais é do que a indisposição de se observar a vida. Por exemplo: O Estado do Tocantins está sofrendo terrivelmente os efeitos de uma seca devastadora, o que contradiz a crença de ser Deus o responsável por tudo, porquanto não pode um ser de bondade infinita proibir a chuva para se comprazer com o sofrimento de seres humanos e irracionais. Neste mesmo exemplo, temos que a pouca água servida para amenizar a sede dos pobres, os preferidos por Deus, segundo a crença, está envenenada pelo óleo diesel e gasolina que eram transportados nos mesmos tanques que agora transportam água, o que já matou cerca de cento e cinquenta pessoas de diarréia, principalmente crianças, e outras tantas morrerão futuramente por câncer, o que deixa sem pé nem cabeça a afirmação de que só se morre no dia marcado por Deus. Não dá para se crer que Ele escolhesse um modo tão cruel de morte.

Alguém me disse que ao beber um copo d’água ou ao respirar, deve-se ser grato a Deus pelo benefício decorrente ao corpo. Entretanto, os pobres do Tocantins vão ter câncer causado pela água que bebem e os paulistas, principalmente as crianças estão sendo envenenados pelo ar que respiram. Além disso, eu e os bichos irracionais que me são companhia menos desagradável do que a dos bichos humanos respiramos e bebemos água sem tomarmos conhecimento de Deus, além do que, nas UTIs, se encontram muitos dependentes de Deus que não podem respirar nem beber água.  

A bíblia vista sem o tapa-olho da ignorância só tem estupidez. É preciso ter um saco do tamanho do desconhecimento do povo para lê-la. Tentei fazer isso do começo ao fim, mas não aguentei. O sofrimento tomou conta do meu ser ao sentir estar vivendo entre pessoas completamente alienadas das causas de toda a infelicidade que produz tanto choro pelo mundo. Pessoas incapazes do mínimo raciocínio lógico; pessoas instruídas que comungam com analfabetos o mesmo modo de pensar; pessoas que estão absolutamente certas de que Deus determina a morte de cada um, sem lhes passar pela lembrança o contra censo na quantidade de  inocentes crianças a morrer de câncer e diarréia porque Deus teria feito lá a seca e mandado os caminhões servir ao povo água envenenada.

Entretanto, nesta penosa, triste e incompreendida vontade de levar alguma luz onde só há as trevas nas quais também vivi, trevas que não permitem o surgimento de um mundo bom porque ele não pode ser alcançado em meio a tanta ignorância e competição contrária.ao sentimento de irmandade. Uma vontade que não se inspira em bondade por não depender do meu querer me leva dedicar a velhice à tarefa de tentar conseguir companheiros na luta pela diminuição de tanto sofrimento oriundo unicamente da ignorância. Como disse Che Guevara, “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”. Percebe-se quão errado está o mundo ao se refletir o quanto sofrem as pessoas que buscam justiça para todos.

Voltando para a bíblia, não suportando tanta bestagem, pousei sobre uma afirmação aqui, outra ali, outra mais acolá, todas, entretanto, completamente fora da lógica da vida. Em Josué – 7 há a seguinte história: Por ocasião da tomada da cidade de Jericó, um espertinho chamado Acã tirou para si um pouco da riqueza tomada do povo destroçado daquela cidade e que deveria ser remetida ao tesouro do Senhor Deus. Quem praticou o roubo foi só Acã. Entretanto, como castigo imposto pelo Deus muito bom, não só o ladrãozinho, mas também sua mulher, filhos, jumentos, bois, ovelhas, foram todos apedrejados até morrer e tiveram os corpos queimados.

Mas adiante, em 2 – Samuel, 24;11 encontramos outro absurdo: Pelo fato de ter feito um recenseamento, o rei Davi incorreu na ira de Deus. Como punição, foi obrigado a escolher entre os seguintes castigos: Sete anos de fome no seu reino. Passar três meses viajando e sendo perseguido por seus inimigos. Ou sujeitar-se que uma peste se abatesse sobre seu povo por três dias. Davi escolheu o terceiro castigo e a peste matou setenta mil pessoas, entre elas crianças.

É possível alguém enxergar esta estupidez como algo digno de respeito? O que tinha feito para merecer tal castigo aquelas inocentes crianças e mesmo os adultos, e mesmo o autor de um simples censo?

Mais adiante, no Livro Segundo de Reis – 2; 23. 24 encontramos a seguinte poesia escrita com sangue nesta maravilhosa inversão do amor, piedade, compreensão: Uma turma de rapazinhos fez zombaria com Eliseu chamando-o de careca, atitude própria de jovens, Eliseu amaldiçoou os garotos em nome de Deus e surgiram duas ursas que despedaçaram quarenta e dois dos garotos. Esta brutalidade deve ter servido de inspiração ao apoio que os também religiosos eleitores americanos das bundas brancas conferiram ao religiosíssimo Bush na sanha satânica de estraçalhar os jovens iraquianos.

Diante de tanto sangue, o saco se recusa a prosseguir nessa jornada. É preciso substituir estas imbecilidades por coisas racionais porque do jeito que está não pode ficar. Inté.
 

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