Apenas duas coisas explicam a
religiosidade: falta de leitura da bíblia ou incapacidade de entender o que lê.
Como disseram grandes pensadores, entre eles Rui Barbosa, todo o mal da
humanidade tem por fundamento a ignorância. A ignorância deve ser entendida
como a falta da oportunidade para se tomar conhecimento, aprender, aquilo que
até então desconhecia ou ignorava. Quem ainda não aprendeu, não pode saber, se
não sabe, ignora, se ignora é ignorante daquilo que não ainda não sabe, mas que
pode vir a saber porque todos temos capacidade de aprender. Quando começamos a
tirar nossas próprias conclusões sobre a vida e o mundo, estas conclusões
tinham por base unicamente aquilo que nos fora ensinado. Se nos ensinaram
bobagens, não nos era possível chegar a conclusões sábias.
Como disse Mandela, ninguém nasce odiando. Para odiar, é preciso aprender. Se
podemos aprender a odiar, também podemos aprender a amar. Conclui-se que se
crianças aprendessem verdades em lugar de crendices e mentiras, paz em lugar do
ódio, se aprendessem o contrário do que aprendem, a paz tomaria o lugar da
guerra e a absolutíssima maioria dos sofrimentos não teriam lugar em nossas
vidas.
Como a religiosidade é ensinada antes
da capacidade de discernimento, e como ela, a religiosidade, proibia sob pena
de virar cinzas, outro discernimento senão aquele que ela ensinava, ninguém
ousava chegar a quaisquer conclusões diferentes das apresentadas pela religião,
de modo que suas afirmações prevalecem até hoje unicamente por falta de uma
análise sobre o que ela afirma e o que acontece. A leitura da bíblia não indica
nada do que é pregado nos templos sobre a existência de um Deus bom.
A ilusão faz com que se tenha por
dogma o conteúdo da bíblia sem que dela se tenha conhecimento. Da leitura
daquele livro considerado sagrado, chega-se à conclusão de se tratara de
mitologia. Ele surgiu quando os seres humanos eram ainda mais bichos do que
são, época em que a riqueza consistia na posse de escravos, jumento, ovelhas,
cordeiros, cabras, cabritos, burros e bois, razão pelas quais estes elementos
fazem parte dos textos bíblicos. Os possuidores destes animais, os ricos de
então, inventaram um ser tão poderoso que foi capaz de criar o universo para
castigar os ladrões de suas riquezas porque ainda não havia penitenciárias nem
cadeias e nem polícias para proteger a riqueza dos ricos donos de animais, como
hoje existe todo um aparato policial que protege as riquezas dos ricos de
dinheiro, inclusive das igrejas.
A ausência de sabedoria no que se
aprende, vez que só se aprende mentiras, levou à insensatez de se criar um
sistema onde os necessitados são convencidos de terem o suficiente para não
avançarem sobre as riquezas sob sua guarda e permanecer eternamente contemplando
uma riqueza que não lhe pertence, mas que lhe faz falta. Antes de haver os
meios modernos de convencimento através da luminosidade da televisão, de falsos
filósofos e de escritores assalariados para manter o povo certo da
desnecessidade de se contemplar a vida em outro espelho, não contando com tal
proteção, os donos de jumentos, cabras, etc., inventaram um Deus de poder
absoluto para castigar quem tivesse outro comportamento que não o desejado por
eles. Como o medo maior a nos ameaçar amedronta mais, como prova o fato de não
se temer uma formiguinha com a mesma intensidade com que se teme um leão, tornaram
o Deus dotado de uma crueldade sem limite, crueldade, esta, entretanto,
escondida dos próprios religiosos porque eles estão certos em sua fantasia de
que o seu Deus é de bondade infinita.
Não há mais motivos para as fantasias
porque o conhecimento desenvolveu e já permite explicação para grande parte do
desconhecido. Embora não abranja ainda o conhecimento a totalidade do exigido
pela curiosidade, é suficiente para dispensar as fantasias dos gregos e romanos
descritas no maravilhoso livro de Thomas Bulfinch, MITOLOGIA, versando sobre
histórias de deuses e heróis. Diferentemente das fantasias atuais, lá, a primeira
mulher se chamava Pandora, e o mal não teve origem por instigação de uma cobra,
mas, da ação de Pandora ao abrir uma caixa onde o deus seu marido havia
guardado todos os males. São tão inverossímeis as explicações que aqueles povos
tinham para a existência das coisas que ninguém será capaz de lhes dar crédito,
assim como não merecerão crédito amanhã as crenças de hoje. Num futuro não
muito distante elas serão apenas curiosidade como a da Caixa de Pandora.
A religiosidade nada mais é do que a
indisposição de se observar a vida. Por exemplo: O Estado do Tocantins está
sofrendo terrivelmente os efeitos de uma seca devastadora, o que contradiz a
crença de ser Deus o responsável por tudo, porquanto não pode um ser de bondade
infinita proibir a chuva para se comprazer com o sofrimento de seres humanos e
irracionais. Neste mesmo exemplo, temos que a pouca água servida para amenizar
a sede dos pobres, os preferidos por Deus, segundo a crença, está envenenada
pelo óleo diesel e gasolina que eram transportados nos mesmos tanques que agora
transportam água, o que já matou cerca de cento e cinquenta pessoas de
diarréia, principalmente crianças, e outras tantas morrerão futuramente por
câncer, o que deixa sem pé nem cabeça a afirmação de que só se morre no dia
marcado por Deus. Não dá para se crer que Ele escolhesse um modo tão cruel de
morte.
Alguém me disse que ao beber um copo
d’água ou ao respirar, deve-se ser grato a Deus pelo benefício decorrente ao
corpo. Entretanto, os pobres do Tocantins vão ter câncer causado pela água que
bebem e os paulistas, principalmente as crianças estão sendo envenenados pelo
ar que respiram. Além disso, eu e os bichos irracionais que me são companhia
menos desagradável do que a dos bichos humanos respiramos e bebemos água sem
tomarmos conhecimento de Deus, além do que, nas UTIs, se encontram muitos
dependentes de Deus que não podem respirar nem beber água.
A bíblia vista sem o tapa-olho da
ignorância só tem estupidez. É preciso ter um saco do tamanho do desconhecimento
do povo para lê-la. Tentei fazer isso do começo ao fim, mas não aguentei. O
sofrimento tomou conta do meu ser ao sentir estar vivendo entre pessoas
completamente alienadas das causas de toda a infelicidade que produz tanto
choro pelo mundo. Pessoas incapazes do mínimo raciocínio lógico; pessoas
instruídas que comungam com analfabetos o mesmo modo de pensar; pessoas que
estão absolutamente certas de que Deus determina a morte de cada um, sem lhes
passar pela lembrança o contra censo na quantidade de inocentes crianças a morrer de câncer e diarréia
porque Deus teria feito lá a seca e mandado os caminhões servir ao povo água
envenenada.
Entretanto, nesta penosa, triste e
incompreendida vontade de levar alguma luz onde só há as trevas nas quais
também vivi, trevas que não permitem o surgimento de um mundo bom porque ele
não pode ser alcançado em meio a tanta ignorância e competição contrária.ao
sentimento de irmandade. Uma vontade que não se inspira em bondade por não
depender do meu querer me leva dedicar a velhice à tarefa de tentar conseguir
companheiros na luta pela diminuição de tanto sofrimento oriundo unicamente da
ignorância. Como disse Che Guevara, “Se
você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no
mundo, então somos companheiros”. Percebe-se
quão errado está o mundo ao se refletir o quanto sofrem as pessoas que buscam
justiça para todos.
Voltando
para a bíblia, não suportando tanta bestagem, pousei sobre uma afirmação aqui,
outra ali, outra mais acolá, todas, entretanto, completamente fora da lógica da
vida. Em Josué – 7 há a seguinte história: Por ocasião da tomada da cidade de
Jericó, um espertinho chamado Acã tirou para si um pouco da riqueza tomada do
povo destroçado daquela cidade e que deveria ser remetida ao tesouro do Senhor
Deus. Quem praticou o roubo foi só Acã. Entretanto, como castigo imposto pelo
Deus muito bom, não só o ladrãozinho, mas também sua mulher, filhos, jumentos,
bois, ovelhas, foram todos apedrejados até morrer e tiveram os corpos
queimados.
Mas
adiante, em 2 – Samuel, 24;11 encontramos outro absurdo: Pelo fato de ter feito
um recenseamento, o rei Davi incorreu na ira de Deus. Como punição, foi
obrigado a escolher entre os seguintes castigos: Sete anos de fome no seu
reino. Passar três meses viajando e sendo perseguido por seus inimigos. Ou
sujeitar-se que uma peste se abatesse sobre seu povo por três dias. Davi
escolheu o terceiro castigo e a peste matou setenta mil pessoas, entre elas
crianças.
É
possível alguém enxergar esta estupidez como algo digno de respeito? O que
tinha feito para merecer tal castigo aquelas inocentes crianças e mesmo os
adultos, e mesmo o autor de um simples censo?
Mais
adiante, no Livro Segundo de Reis – 2; 23. 24 encontramos a seguinte poesia escrita
com sangue nesta maravilhosa inversão do amor, piedade, compreensão: Uma turma
de rapazinhos fez zombaria com Eliseu chamando-o de careca, atitude própria de
jovens, Eliseu amaldiçoou os garotos em nome de Deus e surgiram duas ursas que
despedaçaram quarenta e dois dos garotos. Esta brutalidade deve ter servido de
inspiração ao apoio que os também religiosos eleitores americanos das bundas
brancas conferiram ao religiosíssimo Bush na sanha satânica de estraçalhar os
jovens iraquianos.
Diante
de tanto sangue, o saco se recusa a prosseguir nessa jornada. É preciso
substituir estas imbecilidades por coisas racionais porque do jeito que está
não pode ficar. Inté.
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