domingo, 29 de dezembro de 2013

RESPOSTA À PERGUNTA DE MILLÔR


Millôr Fernandes escreveu um livro cujo título é esta pergunta: “QUE PAÍS É ESTE?” e ele mesmo apresenta algumas respostas que justificam o motivo da sua perplexidade ante a bagunça total que o induziu à pergunta/título. Entretanto, este iletrado aqui, que se preocupa mais com os filhos dos jovens do que eles próprios, e que nem sabe escrever mas sabe pensar, tem uma resposta só, apenas uma, mas que esclarece melhor do que todas as respostas apresentadas pelo genial Millôr, irmão do genial Hélio Fernandes, ambos membros de uma família portadora do gene da genialidade. Minha resposta à pergunta do porquê de ser este país uma total esculhambação é o fato de ser ele habitado por idiotas. É um país de idiotas tão idiotas que a juventude prefere comungar as idéias religiosas lastreadas no conhecimento empírico dos analfabetos, desprezando as idéias científicas que nos garantem ser impossível ao ser humano ter um mundinho particular de paz fora da sociedade como creem os jovens encontrar na companhia da divindade.

Foi um cientista que afirmou ser o homem um animal social. Para os jovens idiotizados pela idiotia coletiva isto nada significa. Sua cuca ocupada com a necessidade de acumular dinheiro com o qual acreditam fazer seu mundinho particular de bem-estar não lhes permite entender o significado daquelas sábias palavras. Se eles tivessem em companhia de sábios em vez de analfabetos, tomariam conhecimento do fato inegável de não ser possível viver bem isoladamente dos outros seres humanos. Nós necessitamos uns dos outros como necessitamos de respirar ar puro. Se as próximas gerações estão condenadas a respirar, comer, beber veneno e estraçalharem-se mutuamente, deve-se este futuro de sofrimento exatamente ao desconhecimento da necessidade de sermos irmãos em vez de inimigos.

Na religião e no capitalismo, entretanto, não encontramos tais ensinamentos. Embora ambos tragam mensagem de paz e felicidade, sua pregação não corresponde à realidade. A história tanto de uma como do outro é pintada de vermelho pelo sangue de seres humanos trespassados desde espada às modernas balas disparadas até por aviões invisíveis ou que voam sozinhos. A religião tem por objetivo ajudar o capitalismo a enganar as pessoas fazendo-as se sentirem bem na escravidão aprovada por Deus em várias passagens bíblicas. As infelizes criaturas que se postam nas portas dos supermercados para constranger outros pobres de dinheiro e de espírito a lhes dar um quilo de qualquer coisa são lacaios da religião e ajudantes do capitalismo ao obrigar pessoas também idiotizadas a comprar mais um quilo disso ou daquilo, e, ao mesmo tempo, aliviar os politiqueiros do cumprimento do seu dever de cuidar dos problemas sociais.

A desarmonia é o combustível do capitalismo cuja premissa é haver vantagem na competição, quando, na realidade, só poderá a humanidade encontrar paz de espírito na cooperação. Estas são as conclusões de homens que estudaram as sociedades humanas e cujas idéias são rejeitadas em prol das idéias de analfabetos inoculadas nas pessoas quando crianças.

A idiotia é a causa de toda a infelicidade desse povo que festeja sua indignidade de ser tão idiota a ponto de viver a babar o saco do “American Way of Life”. Abacate já passou a ser avocato, jacaré virou aligátor, treinador pessoal é Personal treiner. No shopingue Conquista Sul há um local onde se vendem sapatos onde se lê “shoes”. E assim vamos seguindo como macacos.

Idiotas colocam na cabeça um gorro vermelho e vão servir panetone e cola-cola a mendigos em vez de lhes ensinar dignidade. Idiotas abarrotam aviões para fazer compras em Miami. Idiotas enchem supermercados, ruas e shopingues em obediência à orientação do berrante capitalista. Idiotas procuram proteção divina em templos religiosos cujos tetos desabam sobre eles. Idiotas ensinam a seus filhos a invenção americana de Papai Noel para promover vendas. Idiotas aplaudem um governo onde as festas tem maior importância do que a infelicidade dos que choram no corredor do hospital. Idiotas Assistem indiferentes à desfaçatez de politiqueiros canalhas a pregar moralidade na televisão. Idiotas não percebem o absurdo de não ter o governo a menor vergonha de mostrar eficiência através do fato escabroso de ter morrido menos gente assassinada e vitimada por desastres nas estradas neste ano do que morreram no ano anterior, quando o normal é não morrer ninguém em ano nenhum. Idiotas levam seus filhos para campos de futebola onde idiotas promovem banho de sangue na disputa para saber quem é mais idiota.

A falta de discernimento é compreensível na infância. A partir do momento em que não precisa mais de alguém para impedir que se coloque o dedo na tomada de eletricidade é porque já tem discernimento suficiente para analisar se o que é dito corresponde à realidade.  Na maturidade, então, é incompreensível a incapacidade de seres adultos, e mesmo velhos, permanecerem atolados numa idiotia que os leva a ter comportamento de boiada a seguir a orientação do berrante do Mercado para atacar furiosamente o “ir às compras” recomendado por Papai Noel. Quando criança, há mais de três quartos de século, participei do ambiente de Papai Noel, coisa que até hoje embevece os adultos. Como idiotice pouca é pouca idiotice, criaram uma Mamãe Noela e logo criarão um Bebê Noel para conduzir às compras. Se no tempo do Vinícius de Morais os bares estavam cheios de homens vazios, hoje, as ruas, muito mais que os bares, estão repletas de pessoas vazias entre as quais se incluem velhos e velhas fascinados e fascinadas pelo compra-compra dos americanos das bundas brancas.

O comportamento dos adultos de hoje equivale ao comportamento das crianças do meu tempo de criança quando a idiotia nos apaixonava pelo “American Way os Life” de tal modo que aquele mundo nos afigurava como um paraíso. Os idiotas que chegavam de lá atravessavam os saguões dos aeroportos com ar de superioridade em relação à inferioridade daqueles que não conviveram em terras americanas e não tiveram o privilégio de pisar as calçadas da Quinta Avenida e fazer compras em Miami. Ainda me lembro de um “felizardo” recém chegado de lá que me contou entre as novidades desconhecidas por nós simples mortais, o fato de ter visto um brasileiro atirar ao chão uma ponta de cigarro e que um policial a apanhou e colocou numa cesta de lixo, acrescentando com ar de superioridade: “Em todo canto por lá há uma cesta de lixo”. Também já ouvi a seguinte idiotice: Às gargalhadas, uma família “superior” porque acabava de chegar das “Oropa”, enroscava de tanto rir porque um dos rapazolas chegou perto de um daqueles soldados que mais parecem estátuas e passou a mão prá lá e prá cá perto dos olhos do policial e ele permaneceu impassível.

O brasileiro é um povo tão idiota que se deixa embevecer pelas mesuras dos funcionários de hotéis caros sem saber que aquilo é só fingimento e que por trás de toda aquela reverência não representa mais do que um “cucaracha” idiota. O povo brasileiro é o único do mundo que continua cem por cento colonizado. Empresas estrangeiras encontram aqui um verdadeiro paraíso para suas falcatruas. A imprensa noticiou recentemente que o ministro mambembe mantega mandou esquecer um débito fiscal de um trilhão de reais devidos por grandes empresas, muitas delas estrangeiras, entre as quais o banco Santander. Os minérios vão ser transformados em objetos em outros países. O ouro é explorado pelo Canadá. A telefonia beneficia outros países entre eles a Espanha, e assim por diante.

Nossa política virou imoralidade. Sua história é registrada no noticiário policial. A qualidade exigida para ser um executor político, em vez da virtude, é ser um canalha menor do que os grandes canalhas. O deputado João Paulo Cunha, condenado à prisão pela canalhice do Mensalão, acaba de declarar que sua canalhice é uma canalhice menor do que a canalhice dos fiscais do ISS em São Paulo. Sarney, aquele personagem do livro Honoráveis Bandidos, ante o fato escabroso da situação dos presídios no Maranhão que se tornou propriedade de sua família e onde uma guerra entre os presidiários causa dezenas de mortes, e as mulheres que entram lá são estupradas, acaba de apresentar como eficiência do governo de sua filha o fato de que lá no Maranhão a violência fica dentro dos presídios e não vai para as ruas. Não pode haver nenhuma escala capaz de medir o tamanho da idiotia de um povo que houve indiferente uma declaração desavergonhada deste tipo e tece loas para o governo do qual participa tão energúmena figura.

O governo paga com o dinheiro do povo idiotizado as empresas de pesquisa para dizerem que o governo é bom e o povo acredita. Como pode ser bom um governo em cuja administração morrem cinquenta mil pessoas anualmente vitimadas por uma violência fora de controle, além de ser um dos mais corruptos países do mundo, e com o mais baixo nível educacional dos jovens em todo o mundo?  Duas situações apenas podem explicar a aprovação para tal governo: a facilidade de ser enganado ou gostar de degradação, porque, afinal, o que é do chão não quer colchão.

Ante tal situação, onde fica a juventude que não desperta para outro tipo de vida senão o de comprar e comprar tudo que a televisão lhes manda comprar, além de freqüentar templos religiosos que lhes “fazem a cabeça” para receber dízimo? Não percebem os jovens que este caminho leva à infelicidade dos seus filhos? Será tarde quando a juventude idiotizada perceber que nenhum Deus evitará que seus filhos sofram os efeitos danosos do compra-compra desenfreado. A fumaça saída dos automóveis transformados em sonho pela propaganda e as lufadas saídas dos bueiros das indústrias que abastecem o consumismo serão a desgraça dos pulmões das criancinhas do presente. Não percebe a juventude que nenhuma proteção divina tirará dos alimentos, da água e do ar os venenos que transformam alimento, água e ar em inimigos da saúde? É este o mundo que pretendem os jovens para seus filhos? Se é, estão loucos. Se não é, como não pode ser, estão indiferentes porque é o que está sendo colocado à sua disposição.

Não aceitem este tipo de vida, jovens, o ser humano tem dignidade e não deve ser orientado a proceder como idiota. Não é nas igrejas que está a possibilidade de uma vida que vocês devem aspirar para seus filhos. Não é verdade que a canalhice compensa. O que compensa é a sabedoria de saber escolher um caminho melhor para ser caminhado. Este pelo qual trilhamos por orientação de falsos líderes nos trouxe ao impasse. Chegamos ao cúmulo de nossos falsos líderes pleitearem o cerceamento do direito da Promotoria Pública investigar crimes políticos. Se vocês não estivessem tão alienados saberiam que esta intenção tem tudo a ver com o que é ruim para seus descendentes. A Promotoria Pública foi quem denunciou um esquema criminoso montado pela corrupção dos politiqueiros paulistas que embolsavam gordas propinas para diminuir débitos de empresários desonestos e tão ladrões quanto os funcionários corruptos.

Chega-se ao cúmulo de haver o deputado João Paulo Cunha, presidiário pelo roubo do Mensalão, alegado em sua defesa que este roubo do ISS de São Paulo é infinitamente menor do que aquele do qual ele participou. Tal ambiente, não fosse a idiotia, seria repudiado pela juventude que precisa se mirar no espelho de Nelson Mandela e condenar à sua insignificância os falsos líderes que reverenciavam o cadáver daquele líder autêntico, mas cuja reverência tinha o mesmo significado que tem a simpatia demonstrada no sorriso do gerente de hotel americano de luxo onde milhões de brasileiros fazem papel de bobo, papel desempenhado pelos jovens idiotizados a correr atrás de dinheiro para comprar coisas idiotas.

Deixemos, pois, a idiotia que nos idiotiza. Inté.

 

 

 

 

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