quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ARENGA NÚMERO DOIS


 

Se a qualidade de vida depende do comportamento coletivo, e se o comportamento coletivo é o resultado da soma dos comportamentos individuais, por que, então, os comportamentos individuais são tão inadequados a ponto de não conseguirem formar um comportamento coletivo do qual resultasse um ambiente compatível com a dignidade a que todo ser humano tem direito? Não há justificativa para que seres racionais formem uma sociedade fundamentada na competição, inferior, portanto, à sociedade das abelhas e seu sistema de cooperação. Graças à racionalidade, o ser humano superou muitos dos sofrimentos impostos pela natureza, coisa que nenhuma outra espécie faz. Por outro lado, inexplicavelmente, criou outros sofrimentos para si próprio, coisa que nenhuma outra espécie faz. É desse tipo de comportamento individual distorcido que surge o comportamento coletivo pervertido em termos de convivência humana.

A afirmação do Frei Beto de estar errada a convicção de que o TER é superior ao SER deixa ver a realidade de ter nossa sociedade adotado  comportamento coletivo errado ao escolher este caminho.

A indiferença dos que tudo tem ante o sofrimento e o conformismo dos que nada tem indica que ambos estão no caminho errado. A crença dos ricos de que os pobres serão eternamente guardiões de suas riquezas indica que os ricos estão no caminho errado. O fato assombroso acontecido em São Paulo semana passada de dois bolivianos expostos à venda como no tempo dos escravos, é indicativo de caminho errado. Um inculto ter vida de rei e um professor ter vida de inculto indica caminho errado. Cenas televisivas de prostituição dentro dos lares doces lares também é sinal de rumo errado. Retratos de ricos na Revista Forbes disputando quem tem a maior montanha de dinheiro também indica rumo sem prumo porque estão arrodeados de famintos. Uma imprensa que se recusa a publicar um comentário sobre a vantagem de legalizar maconha sobre a luta perdida e cara da proibição também é indicativo de caminho errado. Estar convicto de que o sofrimento é obra do próprio sofredor como castigo divino por não observar preceitos religiosos é também caminhar pelo caminho errado porque a proteção divina poderia muitíssimo bem fazer com que todos se comportassem do modo como ela deseja em vez de ficar à espreita para flagrar o sujeito fazendo alguma besteira e nocauteá-lo. Rui Barbosa afirmava ser a ignorância o único motivo de todo o sofrimento humano, afirmação que encerra uma verdade absoluta.

Os comportamentos individuais equivocados resultam da maneira equivocada de se encarar a vida. O fato de desconhecer esta realidade produz a ignorância aludida pela genialidade do Rui. Enquanto se desconhece o fato de ser venenosa uma fruta, alguém pode comê-la e morrer. Isto já aconteceu muitas vezes quando os primitivos não sabiam produzir os alimentos e se alimentavam daquilo que encontravam. Do mesmo modo, não sabendo qual o comportamento certo, as pessoas adotam comportamentos errados e o resultado é sua própria infelicidade. É, pois, a própria pessoa que produz sua infelicidade. Entretanto, não é por desagradar às divindades, mas sim por ignorar que comportamento deveria ter. Espantosa é a constatação de que mesmo as pessoas com bom coeficiente de inteligência não sabem escolher o caminho certo por onde caminhar e adotam o mesmo comportamento não só dos menos inteligentes, mas também dos totalmente desinteligentes. O porquê deste fenômeno veremos depois de esvaziados os sacos. Inté.

 

 

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