quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ARENGA NÚMERO TRÊS.


 

Trabalhadores que abastecem os carros; que cortam mármore, azulejo ou amianto; que manipulam produtos químicos nas lojas; agricultores que se expõem aos raios solares ou manipulam venenos; todas estas pessoas que trabalham desprovidas dos meios de proteção, todas elas estão tendo um comportamento que lhes acarretará sofrimento no futuro. Aos requebradores de quadris no axé e no futebola, dos quais faz parte a quase totalidade dos brasileiros, este é assunto que não lhes toca. Entretanto, só aparentemente. Tal indiferença demonstra não só insensibilidade e falta de solidariedade humana, mas também total desconhecimento do que seja sociabilidade, ou a arte de se viver bem em grupo. As doenças que afetarão milhares de trabalhadores desprotegidos exercerão influência maléfica diretamente sobre todas as demais pessoas tanto porque podem ser contagiosas quanto por ocasionarem a ocupação de leitos nos hospitais, ou ainda porque priva a sociedade da participação no trabalho dos trabalhadores afetados, e aumenta a carga previdenciária em caso de invalidez ou morte. São, portanto, comportamentos errados do ponto de vista da formação de uma sociedade melhor.

Estas conjecturas, apesar de facilmente observáveis, são totalmente ignoradas tanto por quem as pratica quanto por quem pensa não ter nada com isso, estando todos completamente equivocados. Destes equívocos pessoais nasce o equívoco coletivo provedor da desarrumação social que produz os sofrimentos, razão pela qual os sábios afirmam ser a ignorância a única causa de toda a infelicidade existente. Pode parecer à primeira vista que a ignorância ou o desconhecimento dos comportamentos sociais adequados são privilégio daqueles integrantes de manada que buzinam durante a noite, que gritam ao celular, que passa na frente de quem espera o elevador, enfim, esse tipo de bicho de dois pés. Mas não é assim porque doutores de anéis de todas as cores adotam comportamento idêntico ao comportamento dos bichos de dois pés.

Quando o médico procede como o comerciante avarento e faz da saúde alheia um meio de enriquecimento pessoal, e é raro aquele que não faz, está adotando comportamento oposto àquele necessário para formação de uma sociedade equilibrada. Quando o advogado entra em conluio aos cochichos com os criminosos do Mensalão para ficar com parte do roubo que eles praticaram, também está se comportando erradamente do ponto de vista da sociabilidade, além de ter o nariz aumentado. Quando cientistas emitem opinião em troca de dinheiro como fazem os que se vendem ao Instituto Templeton para opinarem favoravelmente à religião, ou para afirmarem que as mudanças climáticas não se constituem em ameaça, estão tendo comportando avesso ao que deveriam ter para formação de uma sociedade sadia.

Dá o que pensar o fato de os Estados Unidos gastarem um bilhão de dólares todo ano comprando pareceres científicos sobre a normalidade das mudanças climáticas, ou do Instituto Templeton pagando gordas quantias de dinheiro anualmente em troca de pareceres favoráveis à existência de proteção divina. Por que será que ocorrem estas coisas? Se nada está ocorrendo de anormal na natureza, não há necessidade de comprar opiniões científicas que garantam esta realidade. Entretanto, estará a humanidade tão obtusa a ponto de não ver a bronca que está a caminho? Estaremos todos tão burros a ponto de não perceber a inexistência de proteção divina e da farsa que é ela precisar da confirmação de cientistas? Além do mais, tal proteção não protege nem mesmo seus mais graduados pregadores.

Veremos na próxima arenga, depois de esvaziados os sacos, o porquê de tudo isso. Inté.  

 

 

  

 

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