Trabalhadores
que abastecem os carros; que cortam mármore, azulejo ou amianto; que manipulam
produtos químicos nas lojas; agricultores que se expõem aos raios solares ou
manipulam venenos; todas estas pessoas que trabalham desprovidas dos meios de
proteção, todas elas estão tendo um comportamento que lhes acarretará
sofrimento no futuro. Aos requebradores de quadris no axé e no futebola, dos
quais faz parte a quase totalidade dos brasileiros, este é assunto que não lhes
toca. Entretanto, só aparentemente. Tal indiferença demonstra não só
insensibilidade e falta de solidariedade humana, mas também total
desconhecimento do que seja sociabilidade, ou a arte de se viver bem em grupo.
As doenças que afetarão milhares de trabalhadores desprotegidos exercerão
influência maléfica diretamente sobre todas as demais pessoas tanto porque
podem ser contagiosas quanto por ocasionarem a ocupação de leitos nos hospitais,
ou ainda porque priva a sociedade da participação no trabalho dos trabalhadores
afetados, e aumenta a carga previdenciária em caso de invalidez ou morte. São,
portanto, comportamentos errados do ponto de vista da formação de uma sociedade
melhor.
Estas
conjecturas, apesar de facilmente observáveis, são totalmente ignoradas tanto
por quem as pratica quanto por quem pensa não ter nada com isso, estando todos
completamente equivocados. Destes equívocos pessoais nasce o equívoco coletivo
provedor da desarrumação social que produz os sofrimentos, razão pela qual os
sábios afirmam ser a ignorância a única causa de toda a infelicidade existente.
Pode parecer à primeira vista que a ignorância ou o desconhecimento dos
comportamentos sociais adequados são privilégio daqueles integrantes de manada
que buzinam durante a noite, que gritam ao celular, que passa na frente de quem
espera o elevador, enfim, esse tipo de bicho de dois pés. Mas não é assim
porque doutores de anéis de todas as cores adotam comportamento idêntico ao
comportamento dos bichos de dois pés.
Quando o
médico procede como o comerciante avarento e faz da saúde alheia um meio de
enriquecimento pessoal, e é raro aquele que não faz, está adotando comportamento
oposto àquele necessário para formação de uma sociedade equilibrada. Quando o
advogado entra em conluio aos cochichos com os criminosos do Mensalão para
ficar com parte do roubo que eles praticaram, também está se comportando
erradamente do ponto de vista da sociabilidade, além de ter o nariz aumentado.
Quando cientistas emitem opinião em troca de dinheiro como fazem os que se
vendem ao Instituto Templeton para opinarem favoravelmente à religião, ou para
afirmarem que as mudanças climáticas não se constituem em ameaça, estão tendo
comportando avesso ao que deveriam ter para formação de uma sociedade sadia.
Dá o que
pensar o fato de os Estados Unidos gastarem um bilhão de dólares todo ano
comprando pareceres científicos sobre a normalidade das mudanças climáticas, ou
do Instituto Templeton pagando gordas quantias de dinheiro anualmente em troca
de pareceres favoráveis à existência de proteção divina. Por que será que
ocorrem estas coisas? Se nada está ocorrendo de anormal na natureza, não há
necessidade de comprar opiniões científicas que garantam esta realidade.
Entretanto, estará a humanidade tão obtusa a ponto de não ver a bronca que está
a caminho? Estaremos todos tão burros a ponto de não perceber a inexistência de
proteção divina e da farsa que é ela precisar da confirmação de cientistas?
Além do mais, tal proteção não protege nem mesmo seus mais graduados pregadores.
Veremos na próxima
arenga, depois de esvaziados os sacos, o porquê de tudo isso. Inté.
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