Não se pode
desconhecer que nosso desassossego predomina sobre o sossego, a infelicidade
sobre a felicidade, a guerra sobre a paz, a desarmonia sobre a harmonia e a
competição sobre a cooperação. Cumpre saber o motivo pelo qual isto ocorre, se queremos
sossego, felicidade, harmonia, e a ninguém mais é dado desconhecer que a
competição gera violência. Este aparente enigma deixa de intrigar quando se
analisa o comportamento individual das pessoas. Percebe-se então que os vexames
são buscados voluntariamente por cada um. Percebe-se também que tal comportamento
decorre do fato de ignorar que daquele comportamento resulte uma situação
vexatória. Em determinado escritório desta nossa cidade, vi uma senhora grávida
que manuseava dinheiro e as fichas de um fichário, sendo que para esta segunda
operação ela umedecia o dedo na boca para melhor desgarrar uma ficha da outra,
comportamento que pode afetar seriamente a saúde daquela mulher e a criança
dentro dela. Se ela pudesse ver os germes transferidos do dinheiro e das fichas
para sua boca e dali para o sangue que nutre sua criança, tal convencimento
certamente a impediria de agir assim.
Do mesmo
modo, ignorar o indivíduo a maneira correta de agir socialmente também é fonte
de vexames para a sociedade. Os pobres diabos que buzinam na madrugada, que
berram ao celular, que passam na frente de quem espera o elevador, que praticam
vilanias em busca de riqueza, que acreditam ser a caridade sua única obrigação
para com os deserdados pela sorte, estes tem comportamento tão danoso para a
sociedade quanto tem aquela mulher lambedeira de dedo para si e seu filho ou
filha. Entende-se a razão pela qual os Mestres do Saber afirmam que a
infelicidade humana tem uma única causa: A IGNORÂNCIA.
É a
ignorância dos conduzidos que dá sustentação aos condutores da sociedade. A
política e a religião determinam o destino da humanidade e ambas só se mantém
devido à ignorância que produz a indiferença quanto as coisas verdadeiramente
importantes. Se a política visa a luxúria de poucos, a religião torna o resto
indiferente à realidade e convictos de que só Deus pode melhorar o mundo.
Nestas duas instituições está a força que subjuga a humanidade.
A situação
em que nos encontramos pode ser representada no seguinte exemplo: Suponhamos a criação
de duas grandes e influentes instituições. A primeira seria um imenso clube recreativo
no qual a única participação de seus duzentos milhões de sócios se limitaria ao
pagamento das mensalidades, uma riqueza fabulosa a ser administrada por pessoas
cuja personalidade e caráter foram moldados por uma cultura na qual a desonestidade
prevalece sobre a honestidade, o enriquecimento a qualquer custo é considerado a
base da felicidade, e o sofrimento dos que sofrem é problema dos próprios
sofredores que não quiseram escolher o caminho correto lá na encruzilhada do
livre arbítrio. A segunda instituição deste exemplo teria por função manter os
pagadores das mensalidades eternamente num mundo tão fantasioso que passam de
geração a geração a convicção de que um velhinho viaja pelo espaço numa carroça
puxada por veados voadores.
Estas duas
instituições se completam na formulação do comportamento de quem paga impostos
e dízimos para manutenção de fabulosas riquezas e vida faustosa para poucos em
suntuosos palácios onde realmente se vive um mundo de fantasia.
Arengaremos
mais depois de esvaziados os sacos. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário