quinta-feira, 3 de julho de 2014

ARENGA TRINTA E NOVE


Desressabiados os sacos, arenguemos: Arengávamos sobre a imprestabilidade do sistema democrático de administração pública vez que os administradores são selecionados por um processo altamente defeituoso que escolhe os piores e exclui os melhores administradores. Dizem pelaí que a democracia é a menos pior das formas já experimentadas para ter a posse da chave do cofre que guarda o erário. Um relance de olhar no retrovisor do tempo mostra que as outras formas de usar a chave do cofre são indignas até das sociedades dos irracionais, razão pela qual não é por ser melhor do que elas que seja boa a democracia. Entre os infinitos motivos pelos quais o processo democrático não presta desponta um processo de escolha tão louco que os escolhedores, não obstante a responsabilidade de determinar quem é que vai ficar com a chave do cofre onde se guarda o bem-estar ou o mal-estar da sociedade, apesar de tamanha responsabilidade, a escolha é decidida pela maioria da população que é constituída de pessoas sem a menor noção de cidadania. Não me canso de lembrar a cena do filme Lamarca, na qual o camponês dedura o guerrilheiro Lamarca em troca do dinheiro com o qual compraria um burro novo para sua carroça. Os autores do livro que deu origem a esse filme, Emiliano José e Miranda Oldack, foram imensamente felizes na forma de nos mostrar até onde vai a falta de entrosamento social ou sociabilidade, ou cidadania, ou nenhuma noção da existência de um mundo social e como é que ele funciona, qualidades estas indispensáveis a quem vai ser examinador de um concurso de vestibular de admissão ao poder de usar o erário e, de acordo com esse uso, promover o bem-estar ou o mal-estar social.

Presenciei uma demonstração desta inocência que muito prejudica a sociedade, mas que faz parte do processo democrático de seleção. Em Salvador, um taxista me disse que ele não ligava para esse negócio de político roubar porque não era dele que os políticos roubavam. É exatamente aqui que a porca torce o rabo porque esse tipo de entendimento não tem condição de opinar acertadamente sobre questão tão complexa que exige conhecimentos que passam a anos luz do comum das pessoas. Nesse exato momento estamos assistindo em nosso país à maior demonstração da falibilidade do sistema democrático em função exatamente da incapacidade intelectiva de quem escolhe. Uma parte desta demonstração está na pessoa da vereadora Eloisa Helena. Quem teve oportunidade de conhecê-la sabe da sua vontade inquebrantável de botar ordem nesse país de desordens. Entretanto, em função das tramóias para esse fim elaboradas, os escolhedores não a elegeriam, razão pela qual, certamente, não chegou a ser candidata, e se fosse certamente não teria o merecido reconhecimento que lhe rendesse votos suficientes para que ela viesse a colocar em prática suas idéias de estadista porque o Plínio de Arruda Sampaio, o melhor candidato depois de Eloisa Helena, teve votação inexpressiva das pessoas que realmente tem condições de escolher. Como a escolha é decidida pelos mentalmente desqualificados para outra coisa que não seja requebrar os quadris, comer hóstias e futebola, o que temos é isso que aí está de pular sobre pedaços de cadáver pelas ruas nas quais as balas passam zunindo e atrapalhando ouvir o choro do corredor do hospital.

  É exatamente por serem incapazes de escolher que as escolhas são tão mal feitas a ponto de haver vários escolhidos na cadeia e todos os que estão fora também deveriam estar lá dentro, com exceção de dois ou três gatos pingados que deveriam estar longe dos colegas que tem. É tudo decorrência da falha no processo democrático de escolher o portador da chave do cofre. Da incapacidade de fazer a escolha certa, resulta escolher quem prefere festa a escola e hospital, situação que explica o porquê de terem os Grandes Mestres do Saber dito ser a ignorância a fonte de todos os males que afligem a humanidade. De fato, é da ignorância que leva a escolher ladrões que decorre a situação de haver choro no corredor do hospital e, portanto, é a ignorância do próprio chorão que o faz chorar. Embora as pessoas acreditem que o bem-estar cai do céu, a realidade é que ele está é lá dentro do cofre que guarda o erário. Se o que está lá dentro não é usado para promover o bem-estar, o resultado é que o mal-estar toma conta de tudo como está aí a dominar em virtude da malversação do erário na preferência por estádios em detrimento de escolas e hospitais, tudo por consequência do defeito no processo de escolha.

 Continuando na trilha deixada pelas imperfeições dessa tal de democracia, depois do processo defeituoso de escolha, o erradamente escolhido não pode se ocupar do bem-estar social porque para receber votos suficientes para lhe dar direito à posse da chave do cofre, o pretendente usa dinheiro de empresário para fazer propaganda e convencer os eleitores sem discernimento de que aquele é que é o cara. Como o que bancou a propaganda quer seu dinheiro de volta dobrado ou triplicado, e o escolhido além dessa obrigação ainda tem a de amealhar riqueza para levar prá casa, e ainda tem que arrumar boas posições para os familiares e os amigos, e ainda tem de fazer um templo onde sua lembrança será preservada (e que lembrança!). Depois de tudo isso não sobra tempo e nem dinheiro para mais nada.

A trilha deixada pelas imperfeições do sistema democrático a partir do processo de escolha é maior que o Caminho de São Tiago. Graças a uma cultura esquisita onde quem vale menos vale mais, temos aí uma situação em que a destreza em manejar uma bola com os pés merece reconhecimento social maior do que habilidade em alfabetizar e educar, chegando ao extremo de dizer que estádio de chutar bola é mais importante do que escola e hospital. Dada a credibilidade desfrutada por que vale menos, um deles, por ter habilidade em manejar a bola com os pés, foi encarregado de comunicar à sociedade a insignificância de escolas e hospitais ante a prioridade dos estádios. A credibilidade de um chutador de bola é tão grande perante a pequenez da mentalidade dos escolhedores ou eleitores que até consideram tais pessoas como sendo entendedoras ou versadas em assuntos sociais. A presença de um chutador de bola na campanha do pretendente à chave do cofre de Pernambuco como recomendação de eficiência prova o quanto estamos distante de um processo sadio de eleições porque quem escolhe por indicação de quem só sabe jogar futebola, com absoluta certeza escolhe mal. Nada senão a indiferença da juventude quanto ao futuro de seus filhos faz com que se encare com naturalidade um descompasso tão grande que permite sejam as pessoas de mais baixo nível de intelectualidade exatamente as que tenham a responsabilidade de indicar quem vai ser o chefe maior na gastança pública, decorrendo daí que terreiro de brincadeira se torna mais importante que o hospital, resultando desta estupidez a falta de hospitais suficientes para evitar choro nos corredores.

A outra parte da demonstração de falibilidade do sistema democrático em função da esquisitice de valer mais quem vale menos leva à preferência pelos que valem menos como prova a ingratidão e erro crasso em ignorar não só Eloisa Helena, é procurar fazer também ser ignorado o doutor Joaquim Barbosa, um verdadeiro dom Quixote na defesa da moralidade no uso da chave do cofre do erário. Quem tem percepção percebeu perfeitamente não só o esforço de alguns ministros do STF para proteger os bandidos do Mensalão, mas também o enfrentamento que encontraram em defesa da sociedade na pessoa de estatura moral gigantesca, o doutor Joaquim Barbosa. Maior mérito não há do que ser útil à sociedade cumprindo com lealdade as obrigações exigidas pelo cargo que ocupa. Entretanto, por ser leal à sua sociedade, os defeitos do sistema democrático lhe devolvem como recompensa a tentativa de menosprezo por parte dos aspirantes à chave do cofre. Sabendo que com Joaquim Barbosa por perto a chave teria de ser usado para produzir bem-estar social, procuram denegrir a imagem de integridade que deixou e que é sincera como se pode perceber na sua fisionomia de homem sem frescura de palavras doces que escondam fel.

É um espetáculo monumental de desfaçatez a pose que ministros políticos fazem para procurar um meio de prejudicar a imagem do Barbosão que mais do que ninguém honrou aquele tribunal em toda sua história. Há até quem diga que ele manchou aquela história, o que é o cúmulo da calúnia e cinismo, prova material da prevalência dos ruins sobre os bons, consequência dos defeitos escondidos debaixo da saia da democracia. Tentaram também denegrir a imagem de Eliana Calmon por impor ordem no Conselho Nacional de Justiça, e as medidas moralizadoras por ela implantadas a imprensa mostra que o substituto de Joaquim Barbosa vai anular. Ante tais fatos, fica evidente quem é o verdadeiramente bem intencionado do colegiado do STF. Como prevalece os ruins, o único bom daquele ambiente está sendo espinafrado exatamente por ser o bom e impedir uma farra monumental, quase equivalente à da Copa adorada pelos maus e os idiotas e que estava sendo arquitetada pelos politiqueiros, os bandidos de toga aludidos por Eliana Calmon e as empreiteiras, com a criação dos tribunais federais, mas que dependia da opinião do doutor Joaquim Barbosa que cortou o barato da canalha impatriótica. Para os inocentes que determinam a quem cabe a chave do cofre o ruim é quem é do lado da ordem e do bem-estar social, razão pela qual as balas passam zunindo e fazendo vítimas, enquanto se corre saltitando por sobre pedaços de cadáver. Como os sacos reclamam, inté.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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