domingo, 16 de novembro de 2014

ARENGA SETENTA E QUATRO


Há uma indisposição generalizada em observar a confusão que se faz em torno da tarefa simples de viver a vida. Livros e mais livros são escritos sobre os mais diversos assuntos, porém nada sobre a tarefa de viver desvinculada da tarefa de fazer alguma coisa em troca de dinheiro. Ao contrário, papagaios alardeiam mundo afora em microfones papagaiamentos massacrando a mente humana até tornar verdade a mentira de ser preciso comprar cada vez mais coisas num frenesi tão alucinado que bichos em forma de gente se amontoam esperando o momento de baixarem as portas de lojas para, em profusão, como estouro de boiada, atender ao chamamento dos papagaios de microfone. Quando as compras diminuem, os papagaios metem na cabeça vazia do populacho que isso é muito ruim para a sociedade que é preciso comprar porque disto depende o desenvolvimento. Acontece que o desenvolvimento no sentido dado pelos papagaios é que é ruim. O dicionário indica vários sentidos para a palavra desenvolvimento que podem ser resumido em “fazer crescer”. Portanto só há vantagem em se desenvolver o que é benéfico para a sociedade. As indústrias que produzem as coisas que os papagaios alardeiam, os automóveis, bancos e empreiteiras são terrivelmente nocivos à sociedade. Se a vida está se tornando inviável e se as crianças irão sofrer falta dos bens naturais indispensáveis à vida, tal circunstância se deve à ação de produzir coisas para serem trocadas por riqueza acumulada nas mãos dos aproveitadores que desde sempre transformaram em dinheiro os recursos naturais com o único intuito de fazer pose por ter uma montanha de riqueza e fazer bonito na revista Forbes. Não é à toa que um cara desses que sabem onde tem o nariz falou que a mentira repetida muitas e muitas vezes vira verdade. Embora não seja verdade haver vantagem no compra-compra porque ele está destruindo a saúde e logo destruirá a vida, as cabeças de pouco cérebro tomam esta mentira verdade. É impossível encontrar alguma correspondência entre a realidade da vida e as mentiras dos papagaiamentos sobre dólar, cotação, câmbio, superávit, material humano, capital de giro, capital circulante, tantas coisas mais, e todas falsas do ponto de vista da harmonia social, que escapam ao meu conhecimento e ao interesse em digitá-las. As coisas papagaiadas como necessárias à vida servem apenas para a formação de uma riqueza que de nada serve à sociedade como um todo, mas tão somente a um grupinho de apaniguados dos palácios dos governos de onde saem todas as tramoias que o povo nem sequer imagina e nem pode imaginar em função de sua qualidade de manada para quem a vida se resume em contorcer os quadris e fazer orações tão inúteis quanto os apelos do papa pela paz ou sua pregação também antissocial em papagaiar para as cabeças de pouco cérebro que o aborto e a eutanásia são negativos para a sociedade, quando, na realidade, são benéficos.

Nenhuma justificava pode haver para a displicência com que estão sendo encarados os desastres de secas pavorosas e enchentes monumentais que irão envolver a massa amorfa de imbecis alheios a tal situação. É como se nada estivesse acontecendo. Aos domingos os papagaios papagaiam as excelências dos esportes quando deveriam estar alertando para a situação prevista pelo relatório da ONU sobre as condições futuras de vida. A matança que os brutos seres humanos empreendem entre si parece ser de cooperação com a natureza ajudando-a a se livrar da pior espécie animal de cuja criação teria ela se arrependido e resolvido banir por absoluta falta de competência para gerir o belo planeta azul em função de tanta brutalidade. Na sociedade americana se disputa quem teve a glória de matar o Bin Laden, numa demonstração de animalismo porque matar é próprio de bichos. Pois, para o religioso povo americano da bunda branca, criador da figura política do Bin Laden, é motivo de glória que justifica a disputa entre os soldados cada um reivindicando o direito de ter disparado o tiro que o matou. É este tipo de gente que é invejada pela sociedade brasileira moralmente aleijada e tão inferior em termos de evolução espiritual que a prostituição, a jogatina, o roubo, a amoralidade e a imoralidade orientam seu comportamento. A afirmação de ser a família a célula mãe da sociedade explica a baixa qualidade moral da sociedade brasileira porquanto família que se reúne para assistir Fazenda e BBB não pode ser exemplo de moralidade.

Está tudo de cabeça para baixo e a humanidade não pode saber por que a constante repetição da mentira de que o negócio deve ser resolvido no trinta e oito tomou o lugar da verdade de que o negócio deve ser resolvido no diálogo educado de pessoas educadas. O problema é que não parece haver pessoas educadas em parte alguma de um mundo com tanta selvageria porque a educação não prescinde do conhecimento da sociabilidade ou da necessidade de comportamentos adequados para se viver em grupo, uma vez que isto é vital para a humanidade. Falam em globalização sob o princípio animalesco de levar vantagem, defendido pelo Secretário de Estado americano que aprendeu errado e ensinou errado aos tolos que lhe seguem os passos e também passaram a pensar que o bom mesmo é aprender a fazer coisas e convencer o mundo da vantagem de comprá-las. Mas, se tudo está ruim em função de se adotar a mentira por verdade, por que não sair da mentira e seguir na direção contrária aos papagaiamentos mentirosos? Dar ouvidos aos papagaios é destruir a felicidade das criancinhas de hoje. A estupidez de fazer e vender coisas ou de acreditar ser importante a corrupção do esporte, havendo até papagaios que aprenderam a papagaiar que o esporte educa. Cientistas afirmam a necessidade urgente de medidas que revertam a agressão feita à natureza enquanto os principais falsos líderes do mundo anunciam o começo de tais medidas para daqui a trinta anos.

Se os papagaios treinados pelo governo papagaiam que da venda dos carros resultará bem-estar social, os das fábricas de carros mostram na televisão belos automóveis fazendo ziguezagues com muita pose e muita mulher gostosa e seminua, enquanto os papagaios dos bancos garantem ser a maior moleza do mundo comprar seu carro financiado para fazer bonito pelaí, e os papagaios da religião orientam para escrever no carro que foi Deus que deu ele de presente àquele felizardo no seu imaginário compadrio divino. Como se vê, é tudo falsidade e é daí que vem a infelicidade humana porque a falsidade só gera ambiente negativo. A humanidade não terá tempo de construir um ambiente civilizado e bom para se viver em virtude de sua estupidez. Comenta-se que isso não está certo, que aquilo está errado, mas não se procura endireitar. Que tal começar o endireitamento exigindo um sistema de educação que torne as crianças socialmente preparadas para viver em grupo em vez de educadas apenas para serem bichos fazedores de dinheiro? Inté.

 

 

 

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