Nos tempos
em que a televisão que o povo via também podia ser vista por gente, a palavra
“corrupto” deu muitas dicas para o coronel Limoeiro. Otrope (Eutrópio) era
xingado de corrupo (corrupto) por dizer algo que desagradasse ao coronel. Pois,
com a mesma frequência com que se pronunciava a palavra corrupto na época em
que os Estados Unidos mandaram os militares brasileiros fazer um movimento dito
revolucionário com o pretexto de acabar com a corrupção, com aquela mesma
frequência se ouve atualmente a palavra democracia. Ela é encarada como
sinônima de sociedade. Diz-se amiúde isso é ruim para a democracia,
aquilo não serve à democracia, como se o governo tivesse por finalidade zelar
pelo regime democrático em vez de garantir a segurança e a paz a fim de poder a
sociedade desfrutar de bem-estar, como é do dever de todo governo. Deitar
falação prá cima da democracia que temos é tão incompreensível quanto a falação
deitada em torno de “famosos” e “celebridades” que na realidade não valem um
centavo furado e ainda por cima insinua à juventude a desnecessidade de
formação intelectual para se vencer na vida. A babação em torno da democracia é
de deixar com uma interrogação preta em cima da cabeça porque é nesta endeusada
democracia que o desafortunado trabalhador é escravizado. É ainda na democracia
que a Constituição Federal serve apenas para ser mencionada nos discursos de
políticos ou para perseguir jornalistas, além da inconcebível situação em que
os postos mais elevados da administração pública sejam preenchidos por pessoas
envolvidas em assuntos de roubalheira, podendo permanecer tranquilamente neles
depois de se declararem inocentes. “Estou tranquilo”, dizem sempre, ante a
certeza da impunidade. E onde mais, senão nesta badalada democracia, o órgão máximo
da justiça acoberta mal feitos dos inimigos da sociedade, chegando o ministro
da justiça a declarar ter atuado junto ao governo americano para proteger
Maluf, um aliado do seu partido político? São infinitos os males decorrentes
desta tal de democracia, inclusive o processo de escolha das autoridades que é
decidido pelo povo, quando devia ser decidido por gente. Absolutamente ninguém
do povo sabe quem são Joaquim Barbosa, Heloisa Helena, Eliana Calmon, Sergio
Moro, Rodrigo Janot.
Sem o
exagero de Platão de que todo governo devia ser exercido por filósofos, na
realidade, os escolhedores dos governos é que deviam ter o conhecimento que
lhes permitisse fazer uma escolha pelo menos razoável. Ao povo, na verdade,
cabe arcar com as fabulosas somas que decidem quem será o escolhido. Até na
bíblia, fonte das verdades para os perfumados frequentadores de igrejas, traz
exemplo dessa submissão a que sempre subjugou o povo. Quando o povo que mais
sofreu atribulações em sua vida, o povo de Deus, queria um rei, Deus tentou
dissuadi-lo da ideia mostrando a Samuel as obrigações a que estaria sujeito o
povo sob o poder de um rei, como se vê em Samuel 8: ll - 17. Deus diz a Samuel
que o rei iria tomar do povo os rebanhos, as lavouras, os filhos e as filhas
para escravos. Mas como o povo queria porque queria um rei, Deus mandou Samuel
ungir um sujeito chamado Saul que andava a procura de um rebanho de jumentas do
seu pai a fim de torná-lo rei, tendo Samuel dito a Saul não haver motivo de
preocupação com o prejuízo das jumentas porque como rei, tanto ele quanto sua
família teriam à disposição toda a riqueza do povo de Israel. Como se vê, não é
de hoje que o povo carrega no lombo o ônus de prover os meios de cobrir os
encargos sociais, razão pela qual se trata de uma forma injusta que deve ser
corrigida porque está muito enviesado tudo isso aí. Se o povo tiver tempo
de virar gente, perceberá que a finalidade de Deus é fazer o povo encarar como
verdade a obrigação de ser o único responsável pelo trabalho pesado de
conseguir recursos suficientes até para governante trepar acima das nuvens.
Enfim, em razão do sentido atribuído à palavra “democracia” perderam o sentido
as palavras “paz” e “civilização”. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário