sexta-feira, 27 de março de 2015

ARENGA 99


Está faltando gente a espernear contra os desmandos a que as autoridades do nosso país submetem a população, deixando-a subserviente e na condição de servir a todo tipo de exploração, eternizando assim nosso país na situação de colônia ridicularizada perante outros grupos humanos que conseguiram rapar um pouco as arestas da monumental ignorância humana da qual nenhuma nação do mundo escapa. Os que se dizem civilizados, na realidade, apenas avançaram na arte de produzir dinheiro e infelicidade. De sociabilidade, entretanto, são tão bárbaras quanto as outras aglomerações que se digladiam a ponto de se encontrar pedaços de cadáver pelas ruas onde já faz parte da rotina o pipocar de tiros e o zumbido de balas. Os agrupamentos considerados superiores em civilização estão ainda tão inferiores quanto os demais visto que nenhuma sociedade humana ainda conseguiu superar a cultura bárbara de desperdiçar grandes esforços para construir templos tão inúteis quanto suntuosos e caros como o construído pelo rei Salomão através da escravização do seu povo, prática ainda usada hoje, diferenciando-se da primeira apenas no fato de que os trabalhadores dos templos modernos não sabem ser escravos e por isso se consideram homens livres. Se os escravos que fizeram o Templo de Salomão em Jerusalém eram subjugados pela força bruta, os escravos que fizeram o Templo de Salomão em São Paulo o são pela força hipnótica da televisão. Falta à humanidade lucidez que lhe permita optar por outro modelo de civilização por estar este falido. Os povos que alcançaram o objetivo estabelecido pelo atual modelo de civilização baseado no acúmulo de riqueza, são, na verdade, tão infelizes quanto os que ainda se encontram no primeiro degrau da escada que leva até onde eles já chegaram, mas que só é primeiro mundo nesse mundo sem qualquer classificação em termos de elevação mental e espiritual, na verdade uma grande merda. Nenhuma vantagem há em ser o primeirão num mundo de merda.

O sustentáculo das mazelas de onde provêm os transtornos humanos, infinitamente maiores entre grupos compostos de ainda iletrados como o nosso, são os meios de comunicação. Pode parecer estranho porque se pode ouvir nos rádios e televisões ou ler nos jornais e revistas belos e indignados pronunciamentos não só contra a corrupção que suga o erário, mas também pela observação da moralidade. Acontece, porém, não passar de uma grande ilusão na qual acreditam até mesmo muitos destes chamados formadores de opinião que através dos meios de comunicação fazem acreditar que é bom para a saúde beber Coca-Cola e que “celebridades” e “famosos” são realmente pessoas célebres e dignas de fama, motivo pelo qual é preciso interessar-se em saber quais as “celebridades” ou os “famosos” que não usam calcinha ou cueca. O que se verifica na prática é que os meios de comunicação deformam em vez de formar uma opinião coletiva condizente com o comportamento exigido para que se possa formar uma sociedade civilizada.

 Qualquer Zemané sabe que para isso se faz necessário empregar muito dinheiro em saúde e segurança, mas, sobretudo numa educação que ensine cidadania, dinheiro esse que em vez de estar sendo transformado em bem-estar social se encontra escondido nos infernos fiscais, boa parte dele pertencente aos donos dos meios de comunicação de onde saem matérias e mais matérias sugerindo moralização e comportamentos éticos. Como se vê, se a opinião pública é determinada pelos ricos proprietários dos meios de comunicação, e se eles adotam procedimento antissocial, fica evidente que a eles não interessa a moralização porque se beneficiam da imoralidade que se torna ainda mais imoral pelo fato de ser legal a prática de especular através de agiotagem com recursos dos quais depende a segurança social, procedimento adotado pelos donos dos meios de comunicação com fortunas na Suíça na agiotagem do banco HSBC.

Não pode alguém esclarecido o bastante para escrever bem e bonito desconhecer a realidade de ser impossível segurar uma verdadeira malta de desprovidos das mínimas condições de dignidade a se limitar em apenas contemplar as posses que acham muito bonito fazer pose na revista Forbes. Mas, apesar de insustentável tal situação, é no que acreditam os deformadores de opinião como o escritor famoso Vargas Llosa. Pois este senhor, muito mais para artista de cinema do que para formador de opinião, faz veemente defesa dessa coisa desaglutinadora chamada de regime capitalista que precisa urgentemente ser substituído por algo que conduza os seres humanos à paz em vez da guerra. No livro “Conversas com Vargas Llosa”, de Ricardo Setti, na página 215 e seguinte aquele escritor e deformador de opinião diz que o comunismo apodreceu por sua incapacidade de satisfazer as mínimas aspirações das pessoas, enquanto que o capitalismo deu excelente resultado nesse sentido. É o que garante o escritor, demonstrando com tal comportamento a necessidade de mais gente para espernear contra as mazelas que infelicitam a todos sem distinção. Da ignorância do rico à do pobre que chegou aqui independentemente de sua vontade, mas que por não ter onde morar merece ser queimado, não passam de infelizes uns e outros. Os primeiros usam o tempo de vida para produzir infelicidades alheias que haverão de infelicitar sua velhice. Os segundos, estes são infelizes porque desejam ser como os primeiros.

O famoso escritor Llosa acerta quando diz que o comunismo não proporciona bem-estar pessoal, mas erra fragorosamente quando diz que o capitalismo pode fazê-lo. Será que o escritor acredita mesmo ser boa esta forma de governo que governa o mundo através das mesmas guerras de saque com que Deus mandou Josué trombetear e saquear Jericó e dividir os despojos com Ele? Pois este iletrado ousa contradizer o douto senhor Llosa provando ao apontar com o indicador da mão direita absurdos como o fato de convencer o homem de ser normal trabalhar durante sua fase produtiva e ter por recompensa um corredor de hospital onde chorar quando a vitalidade esgotar. É verdade que o comunismo seja monstruoso, mas também o é o capitalismo. Se aquele quer impor o pensamento pela chibata em lugar do convencimento que só se obtém através da verdadeira educação, também o capitalismo impõe a forma de pensar através dos meios de comunicação que transformam jovens sadios em completos idiotas futucadores de telefone e analfabetos de tirar zero na prova do Enem, além de adoradores de igrejas e campos de brincadeiras. Desse modo, fica evidente a carência de gente para buscar um meio de vida onde se possa viver em harmonia com a natureza porque não vai dar certo ser inimigo dela como querem os defensores de uma cultura baseada na produção de grandes e desnecessárias riquezas, procedimento do qual resultarão consequências muito desagradáveis.

Entretanto, a insinceridade dos meios de comunicação se expõe pelo entusiasmo com que se refere a atividades esportivas, havendo eles até quem afirme que o esporte educa, o que não tem fundamento porque da educação se pressupõe a cooperação em vez da competição. Na verdade, a distração que o esporte proporciona custa um preço tão caro que seria capaz de desestimular a euforia caso viesse ao conhecimento público o mar da mesma lama que emporcalha a política também a emporcalhar o esporte, principalmente o futebola. Sabedores destas coisas, por que será que os meios de comunicação incentivam monstruosidades como o fato de um jovem ser transformado em multimilionário apenas por jogar bola? Quem gosta de seus filhos precisa ser gente a espernear por tranquilidade porque o rumo indicado pelos meios de comunicação sugere intranquilidade. Inté.

 

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