Certa vez
recorri à única instituição que reúne uma juventude de se botar fé: o
MINISTÉRIO PÚBLICO. Antes disso, descobri coisa do arco da velha procurando
saber o que a legislação diz a respeito do barulho, uma vez que eu queria pedir
àquele órgão que com muita justiça se faz acompanhar da qualificação de “douto”
porque o sentido dessa palavra inclui a noção de “grande sabedoria”, qualidade
presente em jovens que batalham para organizar uma sociedade honrada, mesmo se
arriscando a contrariar interesses mafiosos inseparáveis do sistema capitalista
e sua sede de riqueza responsável pela criação de muitas infelicidades. O certo
é que para me dirigir a tão nobre instituição pesquei por meio do amigão Google
alguma coisa do que diz a legislação sobre a poluição sonora, e pedi que a
promotoria obrigasse nossa prefeitura a cumprir seu dever de nos livrar do
inferno provocado pelos vários tipos de veículos portando alto-falantes a todo
volume. Descobri que cientistas da ONU afirmam decorrerem do barulho, além de outros
males, o envelhecimento precoce e impotência sexual. Embora nas entrelinhas da
declaração pode-se ler não se tratar de espírito de solidariedade humana, mas
tão somente evitar gastos com a saúde dos frequentadores de igrejas e terreiros
de brincadeiras de todo o mundo, com o que diminui a possibilidade de
inadimplência das prestações mensais de suas compras através das quais se fazem
as riquezas a serem enviadas para os infernos fiscais. A ONU
recomendou a todos os governos do mundo a dar prioridade ao combate à poluição
sonora em virtude dos graves danos à saúde dela decorrentes. Se eu fosse a ONU,
eu escreveria em todos os muros do mundo a necessidade de dar prioridade urgente
urgentíssima (sem ser de brincadeirinha) ao combate à ignorância por decorrerem
dela todos os outros males, inclusive o barulho. Basta uma olhadinha nas lojas
para se perceber que as mais barulhentas são as preferidas da manada, razão dos
alto-falantes que atraem povo como açúcar atrai formiga. Ao lado da
recomendação para combater a ignorância, eu acrescentaria que Rui Barbosa
aprendeu e nos ensinou que a ignorância é a mãe de todos os males do mundo,
expressão que expõe uma realidade infelizmente desconhecida do povo porque povo
não é ainda gente, não pensa, não lê nas entrelinhas, onde se esconde a
verdade.
O oba-oba
em torno da excrescência social da redução penal para dezesseis anos é uma
espetacular evidência da veracidade da afirmação de Rui Barbosa. É um mal digno
do inferno, decorrente da mesma ignorância que levou o pobre diabo espiritual a
mostrar onde estava escondido o Lamarca, em troca do dinheiro para comprar um
burro novo prá sua carroça. Outra demonstração de ignorância foi o apoio que os
frequentadores de igreja e de axé deram ao movimento militar de 1964 que matou
vários jovens, inclusive um grande amigo meu cuja única maldade era querer
menos injustiça social. O projeto aplaudido pelos meios de comunicação que
pensam pelo povo e que o leva a agir contrariamente aos próprios interesses
para agir a favor dos interesses deles, dos meios de comunicação, visa tal
projeto atender ao interesse dos ricos donos do mundo em dar sumiço no
excedente de pobres necessários para ligar os motores das indústrias. O projeto
de meter crianças em cárceres imundos onde serão vítimas das mais torpes
brutalidades e doenças que pais nenhuns admitiriam para seus filhos só trará
malefícios por se tratar da fracassada e retrógrada política de combater a
violência com truculência em lugar da sabedoria que ensina ser o convencimento
o mais eficiente dos meios de se criar um comportamento. Se pessoas são
convencidas de ser beleza pura para Deus ver cepar fora a cabeça de outra
pessoa ou mesmo a própria, muito mais fácil é convencer uma criança a ser
cidadã.
Nas
entrelinhas dos pronunciamentos sobre a necessidade de meter na cadeia esses
moleques, está o conluio baseado na monumental ignorância referida por Rui
Barbosa. Os politiqueiros passam a aparecer nos meios de comunicação como
agindo em benefício da tranquilidade, com o que garante o voto da turba que não
sabe que pode pensar, enquanto que os meios de comunicação se veem livres do
excedente de pobres. Aí se fecha o círculo da maldade desse sistema desumano de
vida.
Filhinhos
de papais do tipo “sabe com quem está falando?” em seus sofisticados e luxuosos
automóveis dirigidos por bêbados e em alta velocidade matam os frequentadores
de igreja, e, como consequência, em vez da cadeia, tem aumentadas suas qualidades
de “famosos” e “celebridades” festejadas por esse mesmo populacho que quer ver
nas masmorras as pobres crianças pobres. Ouvi no boteco que um destes garotões
tidos por “celebridades” foi barrado na entrada de um clube pelo porteiro. Com
a empáfia dos arrogantes, perguntou ao porteiro se ele sabia quem era o seu pai,
ao que o porteiro respondeu que se nem mesmo a mãe do garotão grã-fino sabia
quem era o pai dele, como poderia ele, o porteiro, saber? A realidade é que o
congresso que vai votar a medida monstruosa é formado por criminosos, segundo a
imprensa, e religiosos acostumados com a matança bíblica de crianças, e por
isso certamente será aprovada a medida monstruosa em todos os sentidos. Os frequentadores
de igreja e campo de futebola certamente retrucariam que se levar essa criança
de dezesseis anos à escola ela mataria a professora no primeiro dia de aula, o
que é verdade. Mas é verdade também que estas crianças cometem crimes porque
foram criadas como bichos abandonados à própria sorte. A criança que mataria a
professora, na verdade, só tem o aspecto de criança. No lugar da
espiritualidade que caracteriza e orienta quem convive com gente, estas
crianças são orientadas apenas por instinto. É por isso que ela mataria a
professora, do mesmo modo como o faria um cão raivoso. O comportamento aos
dezesseis anos reflete o aprendizado dos tempos de cueiro, tempos em que as
crianças que os religiosos como Datena querem meter na cadeia, em lugar do
bê-a-bá, aprendiam a roubar para comer. Quando eu era vaqueiro, acontecia de uma
vaca rejeitar o bezerro. Nós cuidávamos de alimentá-lo e protegê-lo até saber
se virar e tomar conta de si, com o detalhe de que o garrote em que se
transformou o bezerro abandonado não precisava comprar nada. Caso ele só
pudesse viver se fosse obrigado a comprar capim e água, aí nós teríamos também
a obrigação de providenciar para que não lhe faltasse o dinheiro do qual
dependia sua vida. A forma irresponsável de administrar a riqueza pública é a
causa da falta de condições para cuidar das crianças rejeitadas. Sendo a
sociedade responsável pela escolha dos administradores irresponsáveis, a
sociedade é diretamente responsável pela situação destas crianças, razão pela
qual se configura a punição da vítima no lugar do causador do dano. Os gestores
públicos escolhidos pela malta ignorante de que se constitui a sociedade, e que
elege palhaço para senador, tem como única atividade construir bueiros por onde
escoar o dinheiro fazer daquelas crianças grandes seres humanos em vez de
raivosos e perigosos como feras. Os estrangeiros, que conhecem mais o Brasil do
que os brasileiros, publicaram no jornal “The Economist” um escândalo ainda
maior do que o Lava Jato. O assunto mereceu matéria do jornal do Brasil e dá
conta de que a Polícia Federal executa agora a operação Zelotes no encalço de
mais dezenove bilhões surrupiados do Conselho Administrativo de Recursos
Financeiros. Coisa reveladora da situação degradante em que se encontra nossa
sociedade é o fato de ter o Jornal do Brasil perguntado onde se encontrava a
repulsa da sociedade brasileira, resposta que está lá dentro do mesmo jornal
dando noticia de que a Via Sacra levou multidão à Rocinha. É nas igrejas e nos
campos de brincadeira os lugares onde está o povo, e sua indignação só acontece
quando algum espetáculo de dança ou oração é cancelado. Desse modo, com tal
mentalidade, jamais perceberá que a ideia da redução da maioridade penal é uma
grande maldade e indiferença ante a figura inocente da criancinha que vai deixar
de ser criança no inferno de uma cadeia. A tudo isso falta ajuntar a hipocrisia
que leva a uma ocorrência que mencionei nesse arremedo de blog há muito tempo e
que se refere a duas senhoras conversando sobre o desrespeito que era um lugar aqui
em nossa cidade onde as crianças se reuniam para consumir droga. Em resposta a
esse comentário da primeira senhora, a segunda senhora respondeu que eles eram
os culpados pela situação em que se encontravam por terem usado errado seu
livre arbítrio. É com esta indiferença e ignorância de sociabilidade que os
enchedores de igrejas, terreiro de brincadeiras e latrinas se referem a estas
infelizes crianças que se cuidadas não teriam nenhuma diferença das que fingem
dirigir o carrinho no supermercado, como também não há diferença entre o
cadáver de uma criança pobre morta pela polícia e uma criança rica morta pela
natureza. Se houvesse inteligência na natureza ela não colocaria no lixão uma
criança amada por Cristo. Tá faltando juízo pelaí, nuntanão? Inté.
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