segunda-feira, 20 de abril de 2015

ARENGA 105

                Escrever vicia igual tomar coca-cola e fumar roliúde. Quem se dá bem com isso são os escritores que escrevem bonito porque ganham dinheiro com seus livros bons de venda ao tempo em que satisfazem o vício de escrever, ao contrário dos que gastam dinheiro para cumprir os caprichos de seus vícios. Como o vício de escrever não é privilégio dos almofadinhas das letras, também os caras-de-pau que escrevem sem saber tem coceira se não escrever. Foi por isso que não sabendo sobre o que escrever, inventei ter sonhado que a juventude futucadora de telefone tinha sido torrada em fornos crematórios e substituída por outra juventude inteligente que atormentou tanto o governo, puxando sua casaca prá lá e prá cá, até que o ele resolveu implantar um sistema de educação onde se aprendia a ser cidadão. Não acreditando no que li e ouvi na imprensa sobre o assunto, perguntei à professora Heloisa Helena se era verdadeora esta notícia, e ela respondeu que era sim sinhô. Disse com ares de preocupação que ela era a presidente da república e que em lugar do Congresso Nacional havia agora um Conselho de Ministros formado pela doutora Eliana Calmon, os doutores Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Rodrigo Janot e os mais velhos entre a rapaziada da Lava Jato e Polícia Federal, e que este órão tinha aprovado uma lei instituindo uma educação que ensiva cidadania em vez de ganhar dinheiro. Eu estava que não cabia em mim de tanto contentamento com a possibilidade de um futuro digno para as crianças. A presidente Heloisa Helena notou meu entusiasmo e me chamou para tomar um cafezinho enquanto me falava que as pessoas passariam a ter educação, a não gostar de barulho e a não passar na frente de quem chegou primeiro ao elevador. Esperta como é, logo percebeu que eu não me convencia daquilo tudo e, para completar meu espanto, disse que o povo que eu ia encontrar nas ruas quando saisse do lugar onde me achava não era o mesmo povo que eu havia deixado lá, razão pela qual eu não precisava mais comprar uma dinamite do arrombador de caixa eletrônico para jogar numa construção de ferro em frente e de onde saem diariamente milhares de tinidos semelhantes ao tinir do canto da araponga, que só a mim parece incomodar. Quando eu retornasse para casa, garantiu a presidente, os responsáveis pela construção já teriam aprendido que não se pode viver em sociedade sem respeitar a presença das outras pessoas. De repente, já me encontrava na reunião, ouvindo da doutora Eliana Calmon a confirmação do que ouvira da presidente da república. Entre as novidades citadas pela ministra estava a afirmação de que os jovens tomariam aulas intensivas sobre a técnica de distinguir “celebridade” e “famoso” de celebridade e famoso.
Entretanto, como ainda havia alguns integrantes da velha guarda de futucadores de telefone que escaparam da cremação por ter faltado energia, a nova juventude inteligente concordou em conceder aos futucadores de telefones como último desejo antes de serem torrados a realização de um jogo de futebola. Um “jogão”, diziam os condenados cuja euforia ante a presença dos jogadores fazia crer que nem se incomodavam em virar cinza. Em retribuição à boa acolhida que a cidade dispensou aos jogadores, a equipe incumbiu o jogador mais “famoso” a conceder uma entrevista aos condenados. Como a entrevista era no mesmo local do pronunciamento da ministra Eliana Calmon, onde me encontrava, resolvi esperar para também fazer perguntas. Perguntei ao “famoso” jogador se ele sabia o motivo pelo qual era “celebridade” e ganhava tanto dinheiro a ponto de ser grande milionário, ao que respondeu que era porque graças a Deus jogava futebola muito bem e se esforçava sempre em busca da vitória para alegrar a torcida. Perguntei em seguida se ele sabia o motivo pelo qual jogar muito bem futebola graças a Deus fazia ficar rico e famoso. Depois de pensar um pouco, disse que é porque o povo não é burro e sabe dar valor ao que tem valor. Tanto sabe que fez de Pelé um rei. Nesse momento, alguém perguntou se era verdade que ele podia caminhar sobre a água, ao que respondeu que acreditava ser capaz, mas não podia responder de pronto porque ainda não tinha tentado. Nisso, acordei. É assim de se diz quando se conta sonho. Acordei e fiquei a pensar que um dia indaguei no malamanhado blog que futuro pode ter uma sociedade onde os rapazes gostariam de ser como Neymar e Justin Bieber, enquanto as moças digladiam pelo direito de abrir as pernas para tidos desse tipo. Percebi que a resposta à minhas dúvidas está aí na presença dos zumbis futucadores de telefone que infelizmente não iam ser mais torrados embora houvesse ainda energia suficiente para isso, de modo que continuaríamos a ter por companhia indiferentes comedores, bebedores e inaladores de veneno e de bosta além de especialistas em zigzaguear por entre os zumbidos das balas perdidas.
                Se as primeiras manifestações intelectivas que separaram os homens dos bichos ocorreram a cerca de quatro milhões de anos, como ensina o Mestre do Saber Ubirajara Brito, decorrido tão longo período já era para o homem ter superado a mediocridade mental que o torna desagradável àqueles que por qualquer motivo vieram a ter um conhecimento sobre a realidade da vida. Pensei nisso ao lembrar a afirmação de um Mestre do Saber que dizia ser para ele uma verdadeira doença a presença do homem comum. Lembrei-me da moça que me disse ser o pecado de Adão o responsável pelo nascimento de uma criança aleijada. Nesse momento, na rua, passou uma maldita moto com um alto-falante a todo vapor, o que causou mal-estar a mim, pessoa comum, fazendo-me imaginar quão sofrível para os Grandes Mestres do Saber é a convivência com manada. Inté.
 
 




 

 

 
  

 

   

 

 

 

 

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