Entretanto, como ainda havia alguns integrantes da velha guarda de
futucadores de telefone que escaparam da cremação por ter faltado energia, a
nova juventude inteligente concordou em conceder aos futucadores de telefones
como último desejo antes de serem torrados a realização de um jogo de futebola.
Um “jogão”, diziam os condenados cuja euforia ante a presença dos jogadores
fazia crer que nem se incomodavam em virar cinza. Em retribuição à boa acolhida
que a cidade dispensou aos jogadores, a equipe incumbiu o jogador mais “famoso”
a conceder uma entrevista aos condenados. Como a entrevista era no mesmo local do
pronunciamento da ministra Eliana Calmon, onde me encontrava, resolvi esperar
para também fazer perguntas. Perguntei ao “famoso” jogador se ele sabia o
motivo pelo qual era “celebridade” e ganhava tanto dinheiro a ponto de ser
grande milionário, ao que respondeu que era porque graças a Deus jogava
futebola muito bem e se esforçava sempre em busca da vitória para alegrar a
torcida. Perguntei em seguida se ele sabia o motivo pelo qual jogar muito bem
futebola graças a Deus fazia ficar rico e famoso. Depois de pensar um pouco,
disse que é porque o povo não é burro e sabe dar valor ao que tem valor. Tanto
sabe que fez de Pelé um rei. Nesse momento, alguém perguntou se era verdade que
ele podia caminhar sobre a água, ao que respondeu que acreditava ser capaz, mas
não podia responder de pronto porque ainda não tinha tentado. Nisso, acordei. É
assim de se diz quando se conta sonho. Acordei e fiquei a pensar que um dia
indaguei no malamanhado blog que futuro pode ter uma sociedade onde os rapazes
gostariam de ser como Neymar e Justin Bieber, enquanto as moças digladiam pelo
direito de abrir as pernas para tidos desse tipo. Percebi que a resposta à
minhas dúvidas está aí na presença dos zumbis futucadores de telefone que
infelizmente não iam ser mais torrados embora houvesse ainda energia suficiente
para isso, de modo que continuaríamos a ter por companhia indiferentes comedores,
bebedores e inaladores de veneno e de bosta além de especialistas em zigzaguear
por entre os zumbidos das balas perdidas.
Se as primeiras manifestações intelectivas que separaram os homens dos
bichos ocorreram a cerca de quatro milhões de anos, como ensina o Mestre do
Saber Ubirajara Brito, decorrido tão longo período já era para o homem ter
superado a mediocridade mental que o torna desagradável àqueles que por
qualquer motivo vieram a ter um conhecimento sobre a realidade da vida. Pensei
nisso ao lembrar a afirmação de um Mestre do Saber que dizia ser para ele uma
verdadeira doença a presença do homem comum. Lembrei-me da moça que me disse ser
o pecado de Adão o responsável pelo nascimento de uma criança aleijada. Nesse
momento, na rua, passou uma maldita moto com um alto-falante a todo vapor, o
que causou mal-estar a mim, pessoa comum, fazendo-me imaginar quão sofrível
para os Grandes Mestres do Saber é a convivência com manada. Inté.Será necessário haver tanta pobreza, choro, sofrimento? Que jovens pobres tenham que se endividar para estudar? Estará certa a conduta tradicional de terem as pessoas de trabalhar para sustentar as autoridades vivendo em palácios e com todas as suas necessidades pagas, inclusive riqueza pessoal para levar quando deixarem seus postos de trabalho? Há necessidade de tantas autoridades? Que tal matutarmos sobre estas coisas? Este é o objetivo deste blog. Nenhum mal haverá de fazer.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
ARENGA 105
Escrever vicia igual tomar coca-cola e fumar roliúde. Quem se dá bem com
isso são os escritores que escrevem bonito porque ganham dinheiro com seus
livros bons de venda ao tempo em que satisfazem o vício de escrever, ao
contrário dos que gastam dinheiro para cumprir os caprichos de seus vícios.
Como o vício de escrever não é privilégio dos almofadinhas das letras, também
os caras-de-pau que escrevem sem saber tem coceira se não escrever. Foi por
isso que não sabendo sobre o que escrever, inventei ter sonhado que a juventude
futucadora de telefone tinha sido torrada em fornos crematórios e substituída
por outra juventude inteligente que atormentou tanto o governo, puxando sua
casaca prá lá e prá cá, até que o ele resolveu implantar um sistema de educação
onde se aprendia a ser cidadão. Não acreditando no que li e ouvi na imprensa
sobre o assunto, perguntei à professora Heloisa Helena se era verdadeora esta
notícia, e ela respondeu que era sim sinhô. Disse com ares de preocupação que
ela era a presidente da república e que em lugar do Congresso Nacional havia
agora um Conselho de Ministros formado pela doutora Eliana Calmon, os doutores
Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Rodrigo Janot e os mais velhos entre a rapaziada
da Lava Jato e Polícia Federal, e que este órão tinha aprovado uma lei
instituindo uma educação que ensiva cidadania em vez de ganhar dinheiro. Eu
estava que não cabia em mim de tanto contentamento com a possibilidade de um
futuro digno para as crianças. A presidente Heloisa Helena notou meu entusiasmo
e me chamou para tomar um cafezinho enquanto me falava que as pessoas passariam
a ter educação, a não gostar de barulho e a não passar na frente de quem chegou
primeiro ao elevador. Esperta como é, logo percebeu que eu não me convencia
daquilo tudo e, para completar meu espanto, disse que o povo que eu ia
encontrar nas ruas quando saisse do lugar onde me achava não era o mesmo povo
que eu havia deixado lá, razão pela qual eu não precisava mais comprar uma
dinamite do arrombador de caixa eletrônico para jogar numa construção de ferro
em frente e de onde saem diariamente milhares de tinidos semelhantes ao tinir
do canto da araponga, que só a mim parece incomodar. Quando eu retornasse para
casa, garantiu a presidente, os responsáveis pela construção já teriam
aprendido que não se pode viver em sociedade sem respeitar a presença das
outras pessoas. De repente, já me encontrava na reunião, ouvindo da doutora
Eliana Calmon a confirmação do que ouvira da presidente da república. Entre as
novidades citadas pela ministra estava a afirmação de que os jovens tomariam
aulas intensivas sobre a técnica de distinguir “celebridade” e “famoso” de
celebridade e famoso.
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