quinta-feira, 21 de maio de 2015

ARENGA 110


Uma jovem das mais belas, senão a mais bela, como diz o próprio nome, Isabela, sendo a beleza física tão grande quanto a beleza espiritual que a diferencia do resto da juventude e do mundo individualista no qual viver é apenas modo de dizer. É verdade que ela, a garota de quem tratamos, não escapou do convencimento criminoso que os meios de comunicação implantam na personalidade dos jovens para transformá-los em compradores de telefones a serem futucadores. Tirando fora esse elo da corrente da submissão ao monstro Mercado, no mais, a garota aqui referida dá aula de cidadania e responsabilidade social aos mestres do atual sistema político que orienta o mundo sem observar que progresso precisa ser regulado pela racionalidade. Do mesmo modo como não se permite que um menino prodígio produza algo num laboratório caseiro que exponha a casa e seus moradores a perigo, também não se deve permitir que o desenvolvimento tecnológico destrua os meios de vida junto com a natureza, a casa da humanidade. Esse negócio de ser irreversível o progresso precisa levar em consideração que nada deve ser irreversível quando capaz de produzir malefícios. Acontece com o próprio ser humano, por vezes ter de cepar fora do corpo um de seus membros infeccionado e que danificaria a totalidade do organismo, não havendo motivo para não se proceder com a mesma cautela em relação ao corpo social. Crime dos mais hediondos cometem os papagaios de microfone, assalariados pelo insensato mundo dos ricos para insuflar nos jovens o convencimento de estar certo o que está errado. Progresso do qual resultam rios transformados em esgoto; jovens transformados em robôs incapazes do mais leve raciocínio lógico; corredores de hospital transformados em vales de lágrimas; partidos políticos transformados em quadrilhas de bandidos; crianças transformadas em inimigas mortais da sociedade da qual só recebem maus tratos; políticos cuja atuação não vai além de acusações recíprocas de canalhices e mentiras. De tal progresso devemos fugir todos, em nome da inteligência que os seres humanos tem e que precisam usar sob pena de serem amaldiçoados pelos descendentes, herdeiros de uma herança maldita em forma de secas, cheias, fome, doenças, tornados, vulcões e furacões, situação que não tem nada a ver com o pecado de Adão como acreditam os jovens por orientação religiosa sob os aplausos da politicagem que muito se beneficia com isso.
Entretanto, retomando o rumo da prosa, se falava de uma bela e inteligente jovem que não teve ainda tempo de aprender a realidade de que a brutalidade orienta o comportamento no mundo. Durante a refeição, Sara disse que Bel, sua sobrinha, a garota de quem falamos, não ia cobrar pelo tempo gasto na orientação escolar que passava para um garoto, alegando não se sentir motivada a receber pagamento por não estar certa de que o garoto tivesse realmente ganho algum aprendizado em decorrência do seu trabalho. Quase que sem pensar, comentei que para poder viver quem nasceu do lado de fora do mundo dos ricos, como nós nascemos, nesse sistema esquisito de viver, é necessário vender a força trabalho. A beleza interior da garota de quem falamos está a conduzi-la na direção oposta à indicada pelo monstruoso sistema capitalista que abomina o sentimentalismo, reduzindo-o a pieguices de palavras escolhidas para elogios derretidos e chatos, sempre acompanhados de um presente. O brutal sistema capitalista não abriga o nobre comportamento da cooperação descoberto pelos primitivos que perceberam a necessidade da união. Seus posteriores modernos estabeleceram a desunião e a violência apregoadas pelos escritores grã-finos egressos das mais famosas universidades do mundo. Para esta gente, é pura bobagem da garota porquanto sua responsabilidade só vai até ao cumprimento do dever de ter competência para o exercício da atividade a que se propôs executar e que a execute sem poupar esforço para que o faça com a maior perfeição possível. Daí por diante, vez que caberia ao garoto aprender o que lhe foi ensinado, acaba a responsabilidade de sua orientadora escolar, sendo injusto que ela pense em recusar o pagamento a que fez jus. A indiferença a tudo que não seja dinheiro é o comportamento eficiente para o sistema capitalista, coisa mais esquisita já vista no mundo. Baseia-se na motivação de riqueza que sempre nutriu o imaginário da humanidade composta quase que absolutamente de religiosos, que não passam de mendigos espirituais.
Livros enaltecendo a riqueza pessoal devem ser queimados pela inquisição do bom senso porque nem o mundo tem recursos suficientes para enriquecer a todos, nem todo mundo vai ficar a vida toda contente em apenas olhar a riqueza dos que conseguiram ficar ricos. A brutalidade do sistema capitalista não condiz com sentimentos nobres como os da bela Bel. Ao contrário, é um mundo para brutamontes como a figura física e espiritualmente monstruosa do mago da economia dos bundas brancas do norte, o senhor Henry Kissinger, ao afirmar que a melhor maneira de se viver é viver tomando as coisas dos outros para depositar no inferno fiscal. A indiferença entre esta personalidade e a personalidade da garota preocupada quanto ao aprendizado do aluno a quem ministrava aulas faz a diferença entre um mundo bom e um mundo cão habitado por idiotas com seus filhos escanchados no pescoço rumo à igreja onde serão também eles transformados em idiotas, perpetuando assim a idiotice que levará a humanidade ao caos.
No comportamento da garota Bel vislumbra-se ânimo de solidariedade humana, única forma de que dispõem os seres humanos para conseguirem o bem-estar inutilmente buscado dentro de uma montanha de dinheiro tomada na mão grande dos trabalhadores por quem não se mira no exemplo de Bel. Inté.

      

 

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