sábado, 23 de maio de 2015

ARENGA 114


Esse negócio de inventar ter sonhado como motivo para escrever é uma coisa muito boa para quem precisa escrever, não sabe escrever, mas tem de escrever por esperneio. É assim que inventei de ter sonhado que algumas pessoas num barco com capacidade limitada precisavam fazer uma travessia para um lugar inóspito onde passariam dois dias. No lugar para onde iam, embora já se tenha dito ser inóspito, custa nada dizer que não havia comida nem bebida, razão pela qual todos deviam levar a provisão necessária para quatro dias, contando um dia de viagem prá lá e outro prá cá, o que fazia ser mais bem-vindo quem comesse e bebesse pouco, porque quanto menos peso na mochila, maior a garantia de segurança da frágil embarcaçãozinha amarrada que balançava à espera. Estas pessoas, no sonho, representavam os politiqueiros, e a embarcação representava a politicagem. Do mesmo modo como era mais valorizado o passageiro que tivesse menos peso nas costas, também entre os politiqueiros acontece de acontecer que aquele a carregar menos safadeza no lombo é o mais bem-vindo ao pedaço. É o que se constata ante a disputa entre adversários politiqueiros pelo lugar de menos safado. Estão sempre a dizer que a safadeza por ele cometida foi inventada pelo adversário. Como mestre criador de safadezas, portanto, o adversário supera o discursante, que por ser aprendiz não pode fazer as grandes safadezas que não passam de fichinhas para seu adversário, motivo pelo qual deve ser preferido.

Esse critério agrada a quem é povo, mas desagrada a quem é gente. Esta distinção entre povo e gente e o método de saber quem é povo e quem é gente mereceu de Portugal o Premio Camões, superior ao Nobel, cuja prenda maior, foi concedida a este mal amanhado blog, cerimônia realizada em Brasília, onde o blog apresentou o método infalível de saber quando estamos diante de um espécime da espécie de povo ou quando estamos diante de um espécime da espécie de gente, procedimento facilitado pelo fato de estarmos em Brasília. Colocamos o espécime a ser identificado como povo ou como gente numa posição de onde se via de um lado aquela igreja que Niemayer fez simbolizando mãos voltadas para cima, a casa de Deus, e, do outro lado, a parafernália que compõe a administração do país, a casa do governo. Isto feito, foi proposto ao espécime a ser identificado como gente ou como povo que apontasse para a casa de Deus ou para a casa do governo de acordo com sua opinião sobre onde está o poder de fazer com que as crianças abandonadas viessem a ser cidadãos em vez de presidiários. Caso ele aponte para a igreja, será um espécime de povo, caso aponte para o governo será espécime de gente. A recompensa em dinheiro por tamanha contribuição à cultura foi gasto em fazer pessoa do povo passar a ser gente para escapar da profecia da lenda que explica nossa origem como sendo obra de um Deus que não era o Deus da bíblia carregada debaixo de sobacos, mas outro tipo de deus que teria feito os nobres com barro, e os pobres com lama. Entretanto, corre um fuxico pelaí, de que os historiadores da época em que se cultuava o respeito à solidariedade humana, por esta razão retiraram os registros nos quais constava a declaração de magos proeminentes sobre o surgimento de um povo condenado a sair de festa para entrar em igreja de onde saia para entrar em festa, e que seria feito da bosta dos que foram feitos de lama. Inté.

 

 

 

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