quarta-feira, 22 de setembro de 2021

ARENGA 610

 

Embora não ocorra à ratazana roedora de hóstias e a pobres diabos mentais compradores de feijão milagroso, a crença na existência de deus decresce com o tempo. Mas mesmo em tempos distantes quando esta crença era indiscutível, Baruch de Espinosa afirmava que deus não se ocupava de determinar o destino de ninguém. Teria criado o mundo e o deixado por própria conta. Para a humanidade, entretanto, é da determinação de deus que depende tudo. Até diz o povo que uma folha não desprende do galho e cai sem que deus determine sua queda. Tal afirmação faz pensar na canseira que acomete deus no outono quando as folhas das árvores caem. Mas povo só é importante  para políticos em época de eleições. Afora isso, povo é joguete nas mãos inescrupulosas de falsos líderes. Sobre a passividade com que o povo aceita viver unicamente para servir a parasitas, no livro Discurso Sobre A Servidão Voluntária o filósofo Étienne de Lá Boétie levanta a questão do motivo pelo qual tantos se submetem aos caprichos de poucos, o que dá realmente o que pensar.

Onde ser encontrado o motivo pelo qual a humanidade se curva obediente ante a obrigação de servir a parasitas? Como podem os seres humanos se tornarem tão obtusos que se acham livres apesar de não passarem de meros serviçais para uma minoria perdulária e arrogante, deixando-se conduzir por outros serviçais, os políticos, que servindo aos ricos donos do mundo criaram uma organização social de tamanha injustiça que embora a lei suprema de cada sociedade assegura igualdade, prevalece tamanha desigualdade que enquanto poucos possuem muito, muitos não possuem nada.

A docilidade com que o povo se submete a desmandos em todo o mundo aparece de forma espetacular aqui na página 126 do livro Capitalismo Criminoso, de Stephen Platt, onde consta que o filho do presidente da Guiné Equatorial, onde o povo sobrevive com um dólar por dia, possui os seguintes bens: uma luva branca revestida de cristais, da turnê de lançamento do disco Bad; um chapéu tipo diplomata usado por Michael Jakson no palco; uma Ferrari 599 GTO; dois imóveis na Cidade do Cabo; três relógios Piaget incrustados de diamantes; um gabinete antigo André Charles Boulle; pinturas de Degas, Renoir, Matisse e Bonnard; 1.403 garrafas de vinho sofisticado; 109 itens adquiridos no leilão do espólio de Ives Saint Laurent; uma propriedade em Malibu de cerca de 48.000 metros quadrados; uma propriedade luxuosa com seis andares em Paris; um jatinho particular Gulfstream G-V.

Que poder misterioso faz um povo que vive apenas com um dólar por dia abaixar a cabeça para tamanho despropósito da parte do filho de seu governante? E, guardadas as proporções, é assim no mundo inteiro e aqui por estas andas da América Latrina neste pátria de deus os livros Os Bens Que Os Políticos Fazem, Honoráveis Bandidos, Privataria Tucana, O Chefe, O Lado Sujo do Futebol, Um Jogo Cada Vez Mais Sujo, entre outros, dão prova de que  a coisa não é diferente também por aqui, muito menos na terra do Tio Sam invejada por torcedores, carnavalescos, conversadores com estátuas e compradores de feijão santo. É o que mostra   trecho do livro O Pão Nosso De Cada Dia, de Ladislau Dowbor, mostrando que nos Estados Unidos o salário de um professor de especulação financeira (agiotagem) é igual ao salário de 17 mil professores do ensino primário.

 É desse jeito escabroso que os políticos administram a sociedade humana sob inexplicável aceitação da humanidade.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário