Perdão,
jovens, por ter escrito um livreto chamado A Inferioridade do Brasileiro, onde
os considero imprestáveis para outra coisa que não bailar axé e futebola, além
de enfeitar como faziam os índios seus corpos com espetos enfiados da
sobrancelha às “partes”. Estas eram as únicas coisas em que vocês se ligavam
quando eu disse tal coisa. Ninguém poderia jamais imaginar que vocês fossem
capazes de fazer o que estão fazendo! Qual cabeça conceberia a idéia de que
aqueles jovens aparentemente abobalhados que aceitavam todo tipo de desmando,
que se sentiam à vontade nas filas onde conversavam alegremente sobre futebola,
Pelé, Neymar, Ivete Sangalo, Ronaldinho, Daniela Mercury, e tantas nulidades do
ponto de vista social viessem a se ligar na sociedade? A diferença entre o que
os jovens prometiam e o que estão fazendo é tão positivo para a sociedade
quanto negativo foi o que Lula prometia fazer e o que realmente fez. Venho
pedir perdão de joelhos à juventude por sua iniciativa heróica e quero
agradecer de todo o coração a alegria de ter alcançado em vida a possibilidade
de ver acontecer o que sempre desejei: o início dos trabalhos para a construção
de um Brasil sem miséria, sem tanto choro e tanta ignorância, um Brasil onde as
futuras gerações pudessem ser livres dos perigos que rondam nosso ir e vir, assunto
que até agora, embora da maior importância para quem cuida dos filhos, inteiramente ignorado pelos jovens anteriores
a estes que estão nas ruas. Não era sem razão, portanto, o descrédito que eu lhes
atribuía.
E o que
houve com a juventude? Houve o mesmo que sempre houve e sempre haverá de haver
com todos os enganados do mundo. Um dia eles despertam do berço esplêndido onde
dormiam o sono dos injustiçados. Todos os povos de todo o mundo vivem enganados
porquanto não há necessidade de haver miséria e fome num mundo abarrotado de
dinheiro empregado em suntuosidades como edifícios cristalinos que chegam às
nuvens, ou em esplendorosos terreiros destinados a brincadeiras, ou em
aventuras pelo espaço sideral em vez de cuidar do planeta onde vivemos. Um
pouco da realidade de haver as autoridades deixado de lado sua obrigação de
cuidar da sociedade começa a bafejar os jovens mais espertos e eles percebem a
sujeira em que foi transformado o sistema de administrar os recursos públicos,
e embora tenham ficado decepcionados em ser feito de bobos, passaram a exigir
educadamente a devida correção de rumo para uma posição de se observar o
merecido respeito à sociedade. Era inteiramente impossível imaginar que aqueles
supostos idiotas fossem capazes não só de fazer, mas, ainda por cima, fazer
melhor do que sempre se fez quando são descobertas as safadezas que dão origem
à falta de dinheiro para as coisas básicas. Nestas ocasiões costuma haver
morticínio. Nossos jovens, porém, apesar de terem descoberto que estão sendo
enganados, tiveram a lucidez da maturidade espiritual de dar um basta aos
sofrimentos desnecessários sem causar novos sofrimentos como sempre se fez
através da História. A atitude de nossos jovens é uma lição de paz para os
demais oprimidos do mundo.
Os que
ainda se servem do povo para ajuntar fortunas são pessoas que ainda não
perceberam a diferença entre os tempos modernos quando o mundo abriga mais de
sete bilhões de seres humanos, e o tempo em que por aqui não havia nem mesmo um
terço de toda esta gente e não havia tantos necessitados a espreitar a riqueza acumulada.
Continuam os ajuntadores de riqueza a proceder como se procedia no tempo do rei
Salomão, que escravizava seu povo em troca de suntuosidade. A juventude a quem
tive a burrice de chamar de imprestável se mostra altamente prestável,
principalmente por adotar o procedimento altamente positivo de convencer às
suas crianças da necessidade de haver necessidade de se cuidar da sociedade e
que isso não é feito porque os recursos públicos são desviados em razão do gene
de rato que determina o caráter de ladrão do brasileiro. Assim, agora que a
juventude resolveu participar da administração da montanha de dinheiro mostrada
no Impostômetro, teremos daí que uma fiscalização eficiente fará com que jorre
dinheiro das pastas pretas dos frequentadores de corredores de palácios. O
entusiasmo despertado pela juventude é a prova mais contundente de que a
esperança não morre antes do esperançoso. Estamos diante da possibilidade do
surgimento de uma sociedade de jovens que mereçam a nobreza encerrada nas
palavras HOMEM e MULHER, e não deixa de ser interessante o fato de eu ter
desejado isso no livreto em que os xinguei.
Não dava mais para seguir este caminho
absurdo. Se até os irracionais que vivem em sociedade procedem instintivamente
de modo a não prejudicar sua sociedade, então, por que entre seres que
raciocinam há tão grande desunião entre as pessoas? A filha de uma autoridade,
o Dr. Guilherme Afif Domingues, que felizmente foi salva para felicidade de
todos, principalmente para sua família, de um ataque de bandidos que poderiam
matá-la. O que felizmente a salvou foi a proteção do carro blindado no qual se
encontrava. Gratificante o fato de ter sido um ser humano salvo de uma morte
desnecessária e evitável, sobretudo se tratando de uma jovem com muitas coisas ainda
por fazer na vida. Entretanto, vai longe da razão uma administração pública que
arruma as coisas de modo a que as famílias do povo, aquelas que pagam a proteção
para os filhos das autoridades sejam obrigadas a chorar a morte de seus filhos
e filhas para os quais não há proteção alguma. Estas coisas evidenciaram a
realidade decepcionante do desinteresse das autoridades pelo povo e a juventude
não podia deixar de perceber isso porquanto todos os caminhos levam a esta
conclusão. Até mesmo a jogatina do Cassino Caixa Econômica Federal deixa ver
que o interesse das autoridades pelo povo é o mesmo interesse que tem o dono de
cassino pelos seus frequentadores.
O Brasil acordou!
Bradam os mesmos jovens que levavam a mão ao peito em sinal de respeito a uma
bandeira que só justificava sua presença nos campos de futebola. Uma vez
despertos, devem assumir o poder e estabelecer novos valores entre os quais a convicção
da necessidade de haver um limite para o ajuntamento de riqueza individual. É
causa de desarmonia a posse de bens que chegam a valores infinitamente
superiores às reais necessidades de seu dono para viver uma vida magnificamente
boa. A busca por riqueza acompanha a humanidade desde sempre, e sempre lhe fez
muito mal. Assim, os jovens que assumirem o poder deverão estabelecer que só se
pode ser rico a partir do momento em que não mais houver pobreza. No livreto
que escrevi e que renego, eu disse que os filhos dos jovens atuais haveriam de
se envergonhar de seus pais pela indiferença quanto ao futuro de seus filhos.
Quanto engano! Felizmente, que engano maravilhosamente enganador! Os filhos
destes jovens iluminados por uma espiritualidade de irmãos para lutar pelo
futuro de seus filhos, só haverão eles de lhes dedicar o mais puro
reconhecimento por tanta nobreza e firmeza de caráter ao enfrentar os
malfeitores que se beneficiam com os recursos produzidos com o trabalho de seus
pais. Estes heróis deram início a um sistema mais racional de se administrar a
sociedade, cabendo aos seus sucessores a tarefa de aprimorá-lo, o que será
possível apenas com fiscalização sobre a aplicação dos recursos produzidos pela
população e que deverão visar acima de tudo a educação e saúde sem que se
precise pagar mais nada além dos impostos que são pagos. Não faz sentido
enriquecer donos de escolas e planos de saúde, verdadeiros parasitas da
sociedade. Se todo o dinheiro desembolsado pelo povo para os gastos com
educação e saúde fossem efetivamente aplicados em educação e saúde, haveria
realmente educação e saúde sobrando para todos. Entretanto, a parte destinada a
recompensar os inúteis atravessadores entre o Estado e o usuário do serviço é
maior do que o gasto real com o serviço prestado. Se, num passe de masga, os
próprios pagadores de impostos fossem seus aplicadores, ou se por outra masga
pudessem saber o que acontece com o dinheiro de custear as despesas sociais, certamente
discordariam com o enriquecimento de parasitas e a displicência das autoridades
em sua omissão criminosa de delegar suas obrigações à ganância de ajuntadores
de riqueza, usando para politicagem o tempo de trabalhar pela sociedade. Apenas
o dinheiro carreado pelos parasitas planos de saúde é suficiente para não haver
choro nos corredores dos hospitais. Se aplicados pelos próprios usuários, os recursos
que enriquecem os donos das empresas de transporte seriam suficientes para
proporcionar locomoção eficiente a todos.
Ainda bem
que ao lado dos impropérios que dirigi aos jovens, eu disse também que a
juventude é a máquina que move o mundo. Os últimos acontecimentos comprovam o
dito.
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