segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

ARENGA 200




Depois de ler um interessante trabalho do ensaísta Edmilson Santos Silva Movér, intitulado O ELOGIO DA BURRICE, a dor nas costas me lembrou a ficar de pé por algum tempo e liguei a televisão, dando de cara com Faustão e bobagens que demonstram quanta inferioridade mental tomou conta do povo. Como pensamento não espera convite, outro pensamento concluiu haver profunda diferença entre gente e povo. Povo não consegue viver sem televisão. Certa vez, num bar, pude observar que um espécime de povo ao ouvir a televisão que ficava na parede e do lado oposto anunciar algo sobre futebola, o sujeito pegou a xícara, e com ela numa mão e o sanduiche na outra, disparou para a frente da televisão e, com os olhos arregalados e a boca cheia, parecia meditar sobre o que ouvia. Aí está o perfeito e acabado representante de povo. Contrasta com o espécime de povo o espécime de gente porque este sabe que o comportamento daquele é que impede o desenvolvimento espiritual da sociedade pelo fato de serem eles a absoluta maioria da humanidade. Como a humanidade precisa de condução, e como esta condução é feito por quem a maioria escolhe, resulta daí serem escolhidos condutores também espécimes de povo, acabando numa condução que leva à preferência pelos estádios de futebola na aplicação dos recursos públicos. É como entregar a crianças a responsabilidade de gerir uma fábrica de doces ou a alcóolatras a responsabilidade pela administração de um alambique. A escolha errada de administradores resulta no fracasso do empreendimento. Esta é a única causa pela situação desastrosa em que se encontra o mundo. É preciso repetir à exaustão a necessidade de se encontrar outra forma de procedimento.

A cultura resultante do modo como tem sido o mundo conduzido dispensa a meditação, o que é um erro monumental. Uma vez desprezada a atividade de pensar tem-se a massa de zumbis em que foram transformados os seres humanos com sua preferência pelas coisas menos importantes para a vida em detrimento das mais importantes, haja vista que as pessoas mais importantes do mundo são as menos importantes em termos de sociabilidade. As pessoas que merecem maior apreço social são as que promovem brincadeiras, cuja formação dispensa o necessário conhecimento de sociabilidade indispensável a uma sociedade com espiritualmente elevada o bastante para possibilitar uma vida cujos tormentos se resumam aos inevitáveis. Desta forma, tais pessoas são, na realidade, nocivas ao desenvolvimento civilizatório. As segundas pessoas mais importantes para a cultura resultante da desnecessidade de pensar são também pessoas nocivas porque sendo também desconhecedoras de sociabilidade, aproveitam-se de sagacidade para exorbitar o individualismo e arrancar do ambiente social recursos monumentais que aprisionam em seu poder em detrimento do conjunto. Pensar, pois, é tão necessário quanto viver. Inté

 
 
 


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