Depois de
ler um interessante trabalho do ensaísta Edmilson Santos Silva Movér, intitulado
O ELOGIO DA BURRICE, a dor nas costas me lembrou a ficar de pé por algum tempo
e liguei a televisão, dando de cara com Faustão e bobagens que demonstram
quanta inferioridade mental tomou conta do povo. Como pensamento não espera
convite, outro pensamento concluiu haver profunda diferença entre gente e povo.
Povo não consegue viver sem televisão. Certa vez, num bar, pude observar que um
espécime de povo ao ouvir a televisão que ficava na parede e do lado oposto
anunciar algo sobre futebola, o sujeito pegou a xícara, e com ela numa mão e o
sanduiche na outra, disparou para a frente da televisão e, com os olhos
arregalados e a boca cheia, parecia meditar sobre o que ouvia. Aí está o
perfeito e acabado representante de povo. Contrasta com o espécime de povo o
espécime de gente porque este sabe que o comportamento daquele é que impede o
desenvolvimento espiritual da sociedade pelo fato de serem eles a absoluta
maioria da humanidade. Como a humanidade precisa de condução, e como esta
condução é feito por quem a maioria escolhe, resulta daí serem escolhidos
condutores também espécimes de povo, acabando numa condução que leva à preferência
pelos estádios de futebola na aplicação dos recursos públicos. É como entregar
a crianças a responsabilidade de gerir uma fábrica de doces ou a alcóolatras a
responsabilidade pela administração de um alambique. A escolha errada de
administradores resulta no fracasso do empreendimento. Esta é a única causa
pela situação desastrosa em que se encontra o mundo. É preciso repetir à
exaustão a necessidade de se encontrar outra forma de procedimento.
A cultura
resultante do modo como tem sido o mundo conduzido dispensa a meditação, o que
é um erro monumental. Uma vez desprezada a atividade de pensar tem-se a massa
de zumbis em que foram transformados os seres humanos com sua preferência pelas
coisas menos importantes para a vida em detrimento das mais importantes, haja
vista que as pessoas mais importantes do mundo são as menos importantes em
termos de sociabilidade. As pessoas que merecem maior apreço social são as que promovem
brincadeiras, cuja formação dispensa o necessário conhecimento de sociabilidade
indispensável a uma sociedade com espiritualmente elevada o bastante para
possibilitar uma vida cujos tormentos se resumam aos inevitáveis. Desta forma,
tais pessoas são, na realidade, nocivas ao desenvolvimento civilizatório. As
segundas pessoas mais importantes para a cultura resultante da desnecessidade
de pensar são também pessoas nocivas porque sendo também desconhecedoras de
sociabilidade, aproveitam-se de sagacidade para exorbitar o individualismo e
arrancar do ambiente social recursos monumentais que aprisionam em seu poder em
detrimento do conjunto. Pensar, pois, é tão necessário quanto viver. Inté
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