quarta-feira, 21 de setembro de 2016

ARENGA 316





              

Os seres humanos não gostam de raciocinar nem um palmo depois do agora imediato, sobretudo no que diz respeito à sua própria vida. Podendo raciocinar, por que viver o ser humano orientado unicamente pelo instinto? Sim, porque apenas acatar sem meditar a respeito daquilo que se acata é comportamento do irracional guiado apenas pelo instinto e que obedece sem precisar saber o porquê. O escritor do livro Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira, por exemplo, começa seu trabalho (página 19) dando um magnífico exemplo da cegueira humana no que diz respeito àquilo que dista apenas um pouco do próprio nariz. Lá está dito que nos começos deste país vivia-se o desconforto da escuridão nas casas e nos engenhos por falta de óleo para a iluminação rústica da época, enquanto baleias nadavam perto das praias, fonte riquíssima de óleo para abastecer as candeias e as tochas que forneciam uma iluminação infinitamente superior àquela alimentada por madeira. Afirma o autor do livro citado que o frei Vicente ao escrever o primeiro livro de História do Brasil, em 1627, disse que por graça de Deus aprendeu-se a matar as baleias e que para maior sucesso celebravam-se missas onde os barcos eram benzidos pelo padre celebrante, com o que se matavam trinta a quarenta baleias por temporada e que o óleo retirado das baleias era uma fonte de luxo da luz artificial. Do ponto de vista da racionalidade esta narração encerra uma contradição monumental. Embora seja inegável o conforto decorrente das inovações, não se deve simplesmente passar ao largo das consequências decorrentes do conforto.  A comodidade custa tão caro que condena o homem à infelicidade de ser inimigo da natureza. Os frequentadores de igreja, axé e futebola teriam perfeita ideia do que significa ser inimigo da natureza se não tivessem a mentalidade tacanha que não lhes permite saber a verdade de ser a natureza o único Deus que existe, sendo portanto, o único pecado, desrespeitá-la. Faz-se apologia às criações das quais resultam comodidade sem se levar em conta o custo desta comodidade. Não é outra a advertência contida na sabedoria da recomendação de se medir as consequências decorrentes do ato que se vai praticar a fim de saber se o prazer a ser obtido vale a pena. Diz-se acertadamente ser irreversível o progresso. Mas não se justifica fazer de conta que não existe a realidade de que em consequência do progresso resultarão grandes sofrimentos. Se não se pode deter o progresso, não se deve simplesmente ignorar as consequências da estupidez da matança de animais, do “ir às compras”, de se viver uma inquietação tão frenética que lembra a migração das formigas. Há sabedoria na simplicidade. A absoluta maioria das necessidades são na verdade pseudo necessidades criadas pela mentalidade monstruosa que dependura a imagem de Cristo acima da cabeça do gerente de banco.

Tudo bem quanto à irreversibilidade do progresso, mas e quanto as consequências, é sensato ignorá-las? De modo algum. Se são ignoradas é porque o ser humano não gosta de raciocinar. Será que vale realmente a pena ajuntar uma riqueza que servirá para engordar a conta bancário do hospital? Os pobres que chegam às luxuosas UTIs dos hospitais cobertos de mármore morrem menos infelizes do que os pobres de espírito cobertos de ouro, mas com o corpo espetados por todo tipo de geringonça que lhe assegura uma vida infinitamente pior que a tranquilidade da morte. O Sermão Pelo Bom Sucesso Das Armas De Portugal Contra As De Holanda é outra grande demonstração da incapacidade dos seres humanos de elevar sua mente além um pouco sequer. O mesmo sentimento brutal que orientava os holandeses a matar e infelicitar pela busca de riquezas era o mesmo sentimento brutal que movia os portugueses na mesma direção. Por que, então, invocar a figura desse tal de Deus para tomar partido em benefício de uma das duas partes, ambas ignorantes de sociabilidade e, por isso mesmo, beligerantes?

É de se lamentar a existência de uma juventude apegada à religiosidade e capaz de escutar sem perceber coisas como, por exemplo, a inutilidade da declaração do Papa de que a corrupção gera pobreza e sofrimento. Por acaso, isto é alguma novidade? E que tal esta outra pérola de Sua Santidade ao afirmar que quando seguimos a lógica evangélica da integridade, nos transformamos em artesãos de justiça? Ora, no evangelismo não existe lógica nem justiça porque sua origem, a bíblia, prega castigos, violência, guerras e morte. Os ateus constituem maior fonte de justiça e lógica porque eles buscam uma vida com o mínimo possível de sofrimentos, objetivo que deveria ser perseguido tenazmente pelos seres pensantes, mas que apesar de pensantes, produzem a própria infelicidade ao escolherem a desarmonia da competição. Os ateus, ao contrário, sabem perfeitamente que só se pode evitar os sofrimentos através da harmonia entre os seres humanos, o que inexiste na religião, uma vez que ela prega o sofrimento como necessário e exigido por Deus. O comportamento lógico está na razão inversa da insensatez da mentalidade humana. O povo foi transformado num amontoado de monstros mentais. Enormes multidões se aglomeram ante espetáculos tão medíocres que lembram o espanto do Grande Mestre do Saber Ariano Suassuna ante a música de sucesso popular que dizia SE VOCÊ QUISER ME CONQUISTAR, VAI TER DE REBOLAR. Ô, Ô, Ô. Da mesma forma, apenas a insensatez, a falta de lógica, o atraso mental, o medo de inovar, enfim, o apego às tradições mumificadas justificam a figura de representantes de Deus consumindo inutilmente recursos fabulosos suficientes para proporcionarem a seus “fregueses” o bem-estar que eles perdem tempo implorando aos céus. Tudo leva à triste constatação de que povo existe apenas para sustentar palácios e autoridades inteiramente inúteis. Supere-se a brutalidade humana que as autoridades poderão ser descartadas. Absolutamente nada pode justificar a pose das autoridades acasteladas em luxuosíssimos palácios, como se não passassem de reles empregados, e o povo, seu patrão. Uma vez que predominam os desmandos, toda a humanidade incorre na sentença do Grande Mestre do Saber Leonardo da Vince: “QUEM SE SUBMETE AOS DESMANDOS NÃO PASSA DE CONDUTOR DE COMIDA. A ÚNICA MARCA QUE DEIXA DE SUA PASSAGEM PELO MUNDO SÃO LETRINAS CHEIAS”. Esta preciosidade de conclusão nos foi lembrada pelo jornalista bisbilhotador do jornal Tribuna da Bahia, Alex Ferraz. Inté.

 

 

 
 
 


 

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