Os seres humanos
não gostam de raciocinar nem um palmo depois do agora imediato, sobretudo no
que diz respeito à sua própria vida. Podendo raciocinar, por que viver o ser
humano orientado unicamente pelo instinto? Sim, porque apenas acatar sem
meditar a respeito daquilo que se acata é comportamento do irracional guiado
apenas pelo instinto e que obedece sem precisar saber o porquê. O escritor do
livro Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira, por exemplo, começa
seu trabalho (página 19) dando um magnífico exemplo da cegueira humana no que
diz respeito àquilo que dista apenas um pouco do próprio nariz. Lá está dito
que nos começos deste país vivia-se o desconforto da escuridão nas casas e nos
engenhos por falta de óleo para a iluminação rústica da época, enquanto baleias
nadavam perto das praias, fonte riquíssima de óleo para abastecer as candeias e
as tochas que forneciam uma iluminação infinitamente superior àquela alimentada
por madeira. Afirma o autor do livro citado que o frei Vicente ao escrever o
primeiro livro de História do Brasil, em 1627, disse que por graça de Deus
aprendeu-se a matar as baleias e que para maior sucesso celebravam-se missas
onde os barcos eram benzidos pelo padre celebrante, com o que se matavam trinta
a quarenta baleias por temporada e que o óleo retirado das baleias era uma
fonte de luxo da luz artificial. Do ponto de vista da racionalidade esta
narração encerra uma contradição monumental. Embora seja inegável o conforto
decorrente das inovações, não se deve simplesmente passar ao largo das consequências
decorrentes do conforto. A comodidade
custa tão caro que condena o homem à infelicidade de ser inimigo da natureza.
Os frequentadores de igreja, axé e futebola teriam perfeita ideia do que
significa ser inimigo da natureza se não tivessem a mentalidade tacanha que não
lhes permite saber a verdade de ser a natureza o único Deus que existe, sendo
portanto, o único pecado, desrespeitá-la. Faz-se apologia às criações das quais
resultam comodidade sem se levar em conta o custo desta comodidade. Não é outra
a advertência contida na sabedoria da recomendação de se medir as consequências
decorrentes do ato que se vai praticar a fim de saber se o prazer a ser obtido
vale a pena. Diz-se acertadamente ser irreversível o progresso. Mas não se
justifica fazer de conta que não existe a realidade de que em consequência do
progresso resultarão grandes sofrimentos. Se não se pode deter o progresso, não
se deve simplesmente ignorar as consequências da estupidez da matança de
animais, do “ir às compras”, de se viver uma inquietação tão frenética que
lembra a migração das formigas. Há sabedoria na simplicidade. A absoluta
maioria das necessidades são na verdade pseudo necessidades criadas pela
mentalidade monstruosa que dependura a imagem de Cristo acima da cabeça do gerente
de banco.
Tudo bem
quanto à irreversibilidade do progresso, mas e quanto as consequências, é
sensato ignorá-las? De modo algum. Se são ignoradas é porque o ser humano não
gosta de raciocinar. Será que vale realmente a pena ajuntar uma riqueza que servirá
para engordar a conta bancário do hospital? Os pobres que chegam às luxuosas
UTIs dos hospitais cobertos de mármore morrem menos infelizes do que os pobres
de espírito cobertos de ouro, mas com o corpo espetados por todo tipo de
geringonça que lhe assegura uma vida infinitamente pior que a tranquilidade da
morte. O Sermão Pelo Bom Sucesso Das Armas De Portugal Contra As De
Holanda é outra grande demonstração da incapacidade dos seres humanos de elevar sua
mente além um pouco sequer. O mesmo sentimento brutal que orientava os
holandeses a matar e infelicitar pela busca de riquezas era o mesmo sentimento
brutal que movia os portugueses na mesma direção. Por que, então, invocar a
figura desse tal de Deus para tomar partido em benefício de uma das duas partes,
ambas ignorantes de sociabilidade e, por isso mesmo, beligerantes?
É de se lamentar a existência de uma juventude apegada à religiosidade e
capaz de escutar sem perceber coisas como, por exemplo, a inutilidade da
declaração do Papa de que a corrupção gera pobreza e sofrimento. Por acaso,
isto é alguma novidade? E que tal esta outra pérola de Sua Santidade ao afirmar
que quando seguimos a lógica evangélica da integridade, nos transformamos em
artesãos de justiça? Ora, no evangelismo não existe lógica nem justiça porque
sua origem, a bíblia, prega castigos, violência, guerras e morte. Os ateus
constituem maior fonte de justiça e lógica porque eles buscam uma vida com o
mínimo possível de sofrimentos, objetivo que deveria ser perseguido tenazmente
pelos seres pensantes, mas que apesar de pensantes, produzem a própria
infelicidade ao escolherem a desarmonia da competição. Os ateus, ao contrário,
sabem perfeitamente que só se pode evitar os sofrimentos através da harmonia
entre os seres humanos, o que inexiste na religião, uma vez que ela prega o
sofrimento como necessário e exigido por Deus. O comportamento lógico está na
razão inversa da insensatez da mentalidade humana. O povo foi transformado num
amontoado de monstros mentais. Enormes multidões se aglomeram ante espetáculos
tão medíocres que lembram o espanto do Grande Mestre do Saber Ariano Suassuna
ante a música de sucesso popular que dizia SE VOCÊ QUISER ME CONQUISTAR, VAI
TER DE REBOLAR. Ô, Ô, Ô. Da mesma forma, apenas a insensatez, a falta de
lógica, o atraso mental, o medo de inovar, enfim, o apego às tradições
mumificadas justificam a figura de representantes de Deus consumindo
inutilmente recursos fabulosos suficientes para proporcionarem a seus
“fregueses” o bem-estar que eles perdem tempo implorando aos céus. Tudo leva à
triste constatação de que povo existe apenas para sustentar palácios e
autoridades inteiramente inúteis. Supere-se a brutalidade humana que as
autoridades poderão ser descartadas. Absolutamente nada pode justificar a pose
das autoridades acasteladas em luxuosíssimos palácios, como se não passassem de
reles empregados, e o povo, seu patrão. Uma vez que predominam os desmandos, toda a humanidade incorre na
sentença do Grande Mestre do Saber Leonardo da Vince: “QUEM SE SUBMETE AOS
DESMANDOS NÃO PASSA DE CONDUTOR DE COMIDA. A ÚNICA MARCA QUE DEIXA DE SUA
PASSAGEM PELO MUNDO SÃO LETRINAS CHEIAS”. Esta preciosidade de conclusão nos
foi lembrada pelo jornalista bisbilhotador do jornal Tribuna da Bahia, Alex
Ferraz. Inté.
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