No que diz
respeito à necessária reviravolta que vai colocar do lado de cima o lado bom da
sociedade e sumir com o lado ruim no qual vivemos, o papel da imprensa é tão
inútil quanto o trabalho do cachorro correndo atrás do rabo. O que ocorre na
verdade é que a imprensa precisa ter sobre o que comentar. Comenta-se e se
comenta há anos incontáveis sobre os desmandos políticos, não obstante estarem
eles cada vez maiores. É que a imprensa precisa ter sobre o que falar por ser
esta a razão de sua existência. Quanto mais escândalos, maior é o campo de
atuação para a imprensa. É por isso que ela não cogita das soluções. É preciso
haver assunto em torno do qual rodopiar como mariposa na lâmpada. É
inteiramente impossível que os milhares e milhares de comunicadores existentes
no mundo, todos desconheçam que a política praticada por baixo dos panos
vigente no mundo inteiro não quer que as coisas não sejam endireitadas
simplesmente porque a obscuridade faz parte das ações sorrateiras, daí a razão
pela qual a política objetiva justamente a desordem. Caso contrário não
existiriam as guerras, os excluídos de uma vida com dignidade, as crianças
transformadas em bandidos, os hospitais abarrotados de chorões infelizes, as
cadeias abarrotadas de ladrões pobres, e a política abarrotada de ladrões
ricos. Há, realmente, entre os envolvidos no processo de comunicação pessoas
que apenas transmitem o recado sem noção do que está nas entrelinhas das
mensagens. Tais comunicadores, como os executores do pão e circo, são apenas
inocentes úteis para um trabalho antissocial. São pessoas de poucos
conhecimentos que se acreditam realmente importantes e até mesmo indispensáveis
à sociedade, sem a mínima noção de que a prejudicam. Ao lado destes,
entretanto, há pessoas de elevados conhecimentos, os intelectuais, mas que por
se encontrarem aboletados em ótimos empregos, recusam-se, e é natural que o
façam, a arriscar uma situação favorável e conhecida por uma desconhecida e
incerta. É como alguém que conseguisse um ótimo assento numa casa de espetáculo
lotada e que naturalmente não se arriscaria a sair dali um instante sequer por
receio de perder seu lugar privilegiado. Não há outra explicação plausível senão
o apego ao emprego para o fato de uma pessoa dotada de relevantíssimos
conhecimentos científicos e históricos demonstrados pelo intelectualíssimo
filósofo e laureado escritor Yuval Noah, que apesar de tão profundo
conhecimento do lado material da vida demonstrado no fabuloso livro Uma Breve
História da Humanidade, editora L&PM, sobre nossa trajetória no mundo desde
sua formação, e mesmo com sábias incursões sobre o aspecto social dos seres
humano, o que explicita quando reconhece a indiferença dos administradores
públicos em relação à sociedade, realidade que aparece, por exemplo, na página
14 do livro Homo Deus, do mesmo autor, editora Companhia das Letras, na
seguinte afirmação: “Se pessoas na
Síria, no Sudão ou na Somália morrem de fome, é porque alguns políticos querem
que elas morram”. Entretanto, como todo intelectual acomodado em um bom emprego,
coloca panos quentes no que se refere à indiscutível necessidade de uma nova
cultura da qual resulte uma sociedade nova, sem uma desigualdade social tão
acentuada entre seus membros que a ninguém incomoda a inexplicável aceitação de
haver pessoas desprovidas de tudo. É o que aparece na mesma página 14 deste
segundo livro quando diz o seguinte: “Na
maioria das regiões do planeta, é improvável que uma pessoa que perdeu seu
emprego e todas as suas posses morra de fome. Sistemas de seguro privados, agências
governamentais e ONGs internacionais podem não resgatá-la da pobreza, mas a
proverão de um número de calorias diárias suficiente para que sobreviva.
Coletivamente, a rede global de comércio transforma secas e inundações em
oportunidades de negócios e possibilita superar a escassez de alimentos de modo
rápido e barato. Mesmo quando guerras, terremotos ou tsunamis devastam países
inteiros, esforços internacionais para evitar a fome são geralmente
bem-sucedidos. Embora centenas de milhões de pessoas ainda passem fome todos os
dias, na maioria dos países o número de mortos por inanição é muito pequeno”. Ver
normalidade no fato socialmente inaceitável de se morrer de fome é procurar
disfarçar a realidade da necessidade de mudança. Tal declaração vai de encontro
ao ideal de uma comunidade humana bastante civilizada para que o único motivo
de morte se limite a doenças que a ciência ainda não pode curar. Assim, os
conhecimentos científicos demonstrados pelo erudito escritor vão de encontro a
conhecimentos sobre uma sociedade tão civilizada que não permita a morte de uma
única pessoa sequer por inanição, o que é inteiramente possível porque os seres
humanos produzem recursos materiais suficientes para que todos possam viver com
dignidade. Se há sofrimento por falta de recursos materiais, deve-se à má
distribuição destes recursos em função de uma administração pública que desvia
tais recursos do seu caminho, o que de modo algum pode escapar à percepção de
tão ilustre intelectual. Entretanto, para salvação de todas as pátrias, existem
o conforto da esperança nas exceções, entre as quais está o também intelectual,
filósofo e escritor Ladislau Dowbor, que afirmou em matéria publicada no jornal
Le Monde Diplomatique Brasil, de maio de 2017, a seguinte verdade sobre as causas
dos problemas que afligem a humanidade: “O
capital financeiro drena o produtivo. Generaliza-se o capitalismo improdutivo
no planeta. O rentismo não é só brasileiro. Voltamos ao século retrasado, em
que as “famílias de bem” viviam de rendas”. Mas a regra geral entre os
intelectuais é enrolar e enrolar para nada mudar. No livro Autopoiésis do
professor de filosofia doutor João D. Fonseca, na página 29, temos o seguinte: “Devemos substituir a visão da
adaptabilidade da vida pela visão construtivista. Não é verdade que os
organismos encontram ambientes e, ou se adaptam a eles, ou morrem. Eles constroem
realmente o seu ambiente independentemente das zonas do mundo. Os genes de um
organismo, na medida em que influenciam o modo como aquele organismo conduz o seu
comportamento, fisiologia e morfologia, estão simultaneamente a ajudar a
construir um ambiente. Assim, se os genes se transformam no decurso da
evolução, o ambiente do organismo também se irá transformar”. Aí está,
pois, mais uma amostra do vagar e vagar em inutilidades. Desse palrar floreado
nenhuma luz emana sobre a ignorância de sociabilidade da qual resulta uma
sociedade tão infeliz quanto a nossa sociedade carente de conhecimentos em vez
de mais confusão sobre os pobres e infelizes analfabetos mentais que vão
inutilmente procurar conforto num Deus inexistente e que só infelicitou a
cambada de lambe botas que O bajulou. Para se constatar tal realidade basta
perguntar a Noé, Abraão, Moisés, Jonas, Jó, Cristo, São Pedro, São Paulo, enfim,
à turma de fanáticos por Ele.
Desta forma,
não sendo interessante à comunidade que tem capacidade mental e poder de
informação que ocorra a mudança capaz de aliviar o sufoco dos sufocados pelas
necessidades, e uma vez que a exceção é insuficiente para promover o conhecimento
coletivo à compreensão da necessidade de mudar, resulta daí que os prejudicados
na situação atual são os únicos a quem compete a tarefa de buscar solução para
seus problemas. Mas a dificuldade está no fato inusitado de que aqueles que se
encontram no sufoco não obstante o desconforto, se acham a cavalheiro em sua
condição de sufocados, fazendo crer que as coisas continuarão do mesmo modo, e
que a imprensa continuará indefinidamente correndo atrás do próprio rabo e
fazendo devorteios em torno do que disse ou fez o presidente, o ministro, o
senador, o deputado ou a PQP. Aquilo de que carece a sociedade humana,
principalmente a juventude, é colocar em exame minucioso a cultura do levar
vantagem porque ela criou uma situação inteiramente insustentável em termos de
vida coletiva. Se não há outra forma de se viver senão coletivamente, e os
meios de comunicação que impõem a cultura faz com que se acredite ser ideal uma
cultura do salve-se quem puder, cuja inconsistência fica patente quando se vive
uma organização social como a nossa na qual apenas seis brasileiros detenham
riqueza equivalente à riqueza de 100 milhões de outros brasileiros, como mostra
o jornal UOL, Congresso em Foco, de 17/01/2017, ou o absurdo de apenas sete
famílias do mundo reterem para si a riqueza equivalente à da metade da
população do mundo, sobre estas coisas é que é preciso não só falar, mas também
meditar e remoer à exaustão por ser inteiramente incompatível com uma vida em
sociedade, estando aí a causa da desarmonia que infelicita os seres humanos,
inclusive os farrapos espirituais que dão origem a este absurdo e que acreditam
na proteção da riqueza contra os males do mundo, do mesmo modo como os também
molambos espirituais frequentadores de igreja que acreditam na proteção divina,
bem como os trapos mentais que compõem a juventude e acreditam ser eterna a
disposição de jovem. O mundo permanecerá infeliz enquanto não houver uma
juventude que perceba a realidade de se viver uma farsa do tamanho do mundo.
São provas desta irrealidade a figura de Papai Noel, do Papa beijando o pé do
infeliz, de ser indiferente à contradição existente entre a afirmação que Deus
pode tudo, ama e prega a paz, e viver o mundo em guerra e tão infeliz. Ao
contrário do que se aprende, a miséria requer rebeldia contra ela. Nunca a
conformação. Se os primeiros seres humanos não tivessem se rebelado e lutado
contra as adversidades que os acometiam e se lançado à luta para obter alimento
e abrigo, a humanidade teria perecido no começo. Por que, então, submeter-se
agora aos infortúnios como querem a religiosidade e os falsos líderes políticos
acomodados no seu bem bom de palácios e mil mordomias?
A
estranheza com que é encarado o fenômeno morte, também é uma evidência da
distonia com a realidade da vida porque absolutamente tudo, inclusive a própria
forma atual do universo terá um fim. Portanto, o medo do fim da vida é apenas
mais uma das muitas estultices. Os seres humanos precisam encarar a realidade
de haver ação deliberada no sento de manter a maior parte deles desprovida das
condições necessárias à vida, e o fato de ser infinitamente maior o número
destes infelizes do que o número dos abastados, não pode haver dúvida quanto a
se estar frente com uma situação de risco. Os recursos dispendidos pelos
abastados para impedir que os necessitados se abasteçam na despensa deles são
suficientes para impedir que os necessitados sejam causa de inquietação para os
abastados. O caminho único para a tranquilidade humana é fazer da verdade o
único objeto de culto e mandar as falsidades para os quintos dos infernos. Só
assim poder-se-á chegar a uma sociedade civilizada, objeto a ser aspirado por
uma juventude mentalmente sadia. Enquanto for a juventude um amontoado de
palermas futucadores de telefone e adoradores de igreja, “famosos” e
“celebridades” o mundo continuará de cabeça para baixo e as pessoas serão cada
vez mais infelizes enquanto tiverem a riqueza por objetivo maior, cultura que
aterrorizaria as crianças, não fossem elas desprovidas de discernimento, ante a
perspectiva embutida na seguinte notícia em matéria publicada no blog Outras
Palavras, escola de alfabetização política que deveria ser frequentada pelos
analfabetos políticos, principalmente os da juventude:
“A história do Brasil, não é novidade, foi forjada por
uma sucessão de saques contra as nossas riquezas naturais. A lista é longa:
pau-brasil, açúcar, ouro, diamantes, algodão, café, ferro, borracha, nióbio,
sal, mogno, petróleo, etc. Como o que está ruim pode piorar, como diria um
pessimista empedernido, eis que agora podemos acrescentar a água a esta lista. -
para produzir 1 quilo desta leguminosa são necessários 1.500 litros de
água”. E então, ó juventude boca aberta, vai ficar a futucar
telefone enquanto o agribiuzinesse manda embora bilhões de quilos de soja
destinada a produzir proteína animal para os robustos povos das bundas brancas,
levando cada quilo mil e quinhentos litros da água da qual depende a vida de
seus filhos, ou que eles venham a ser mortos por famintos em decorrência do
resultado do que mostra uma notícia da Folha de São Paulo sobre o fato de que
nos últimos quatorze anos o governo premiou grandes empresas com subsídios que
superaram os destinados a programas sociais, ou àquela outra notícia também do
blog Outras Palavras, sobre o fato de ter o presidente Temer comprado o
Congresso por dezessete bilhões? Os filhos de vocês, jovens, os amaldiçoarão
por tanta pusilanimidade. Nada, absolutamente nada pode justificar a
indiferença ante o fato inexplicável de o governo direcionar bilhões para
campanha eleitoral. Então, o povo vai dar dinheiro para que os meios de
comunicação lhes convença a votar errado? Não se pode ser indiferente a um
congresso comprado, pois pode? Pode não. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário