quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

ARENGA 521


No jornal Folha de São Paulo, a jornalista Érica Fraga escreve que a crise no emprego eleva em 1,4 milhão o número de consultas psiquiátricas porque a crise econômica e o uso intenso de tecnologia contribuíram para uma explosão de doenças de saúde mental no Brasil, elevando o peso da ansiedade e do estresse entre as causas de afastamentos do trabalho, pressionando os gastos dos planos de saúde e da Previdência Social. 

Tudo que se lê e ouve nas notícias da imprensa escrita e falada é de grande valia, desde que analisadas cuidadosamente, porque as entrelinhas revelam as causas dos acontecimentos que as notícias noticiam. Analisando a notícia de dona Érica Fraga de que a crise econômica causa os transtornos, chega-se à conclusão de não poder ser diferente, não poder acabar em outra coisa senão em crise um sistema econômico que tem por objetivo privatizar nas mãos de apenas alguns gatos pingados a riqueza que a todos deveria servir, e que, em vez do trabalho produtivo, tem na atividade parasitária da agiotagem do sistema financeiro sua maior fonte de renda. A agiotagem e o conluio entre o colarinho branco e advogados na partilha do roubo do erário parasitam a sociedade retirando dela recursos que faltam para custear atividades essenciais. A notícia dada por um papagaio de microfone de que o governo temer termina bem avaliado pelos economistas mostra que o sistema econômico é indiferente à moral e aos bons costumes dada a enxurrada de imoralidades em torno do presidente Temer e seu governo.

Ao centralizar em poucas mãos a riqueza e transforma grande massa humana em párias sociais buscando sobrevivência de qualquer maneira, o sistema econômico faz com que estes excluídos deem origem aos mesmos conflitos que causaram o morticínio de donos de escravos e detentores de poder e riqueza de sociedades de outras épocas como a do Brasil anterior a l888, da França de 1789 e da Rússia de 1917. É também muito fácil perceber ser inevitável o desemprego por dois motivos óbvios: O grande número de pobres precisando de um emprego que lhe permita sobreviver, situação que vem a ser agravada pela substituição da mão de obra humana pela tecnologia. De tudo isto se conclui que o ser humano vive sem fazer uso de sua capacidade de raciocinar e que por esta razão não se liga na correspondência entre aquilo que ele pensa ser a realidade e o que é realmente a realidade. Toca-se a vida ao acaso, do mesmo modo como uma criancinha toca um instrumento musical. É por viver apenas por viver que se vive de contradições como o que preceitua o Livro de Jó 28:28, afirmando haver sabedoria em amar o Senhor, preceito que é considerado pela humanidade como verdade tão absoluta que ninguém discorda dele. Entretanto, Eclesiastes 1:18, discorda totalmente de tal afirmação quando diz que quanto maior for a sabedoria, maior será o desgosto. Afinal, é bom ou é ruim ter sabedoria? Mentes privilegiadas têm afirmado ser ruim ter sabedoria por ser ela fonte de desgosto. O escritor Vinícius Bittencourt, na página 14 do fabuloso livro Falando Francamente, diz que embora a ignorância seja humilhante, a opção pela sabedoria não é recomendável e complementa: “Estamos condenados à cegueira ou ao excesso de luz”. Na página 42, afirma: “Ainda que seja a causa de todas as mazelas da humanidade, a ignorância é um estado de graça que deve ser conservado para que o homem possa iludir-se e sentir-se feliz”. Mais adiante, na página 44, afirma que se lhe fosse dada a oportunidade de prolongar sua vida, aceitaria apenas na condição de ser protegido pela ignorância. Aí está, pois, um homem capaz de perceber com tamanha acuidade a origem dos problemas que infelicitam a humanidade, o doutoríssimo Vinícius Bittencourt, concordando com aqueles que encontram motivo de infelicidade na sabedoria.

Mas, se analisada à luz da razão de haver vantagem na ignorância, conclui-se que tal assertiva não corresponde à realidade porque não se deve optar nem pela cegueira nem pelo ofuscamento do excesso de luz que faz mal aos olhos. O próprio escritor de Falando Francamente diz ser a ignorância a causa de todas as mazelas da humanidade. Então, optar pela ignorância seria optar pela eternização das mazelas das quais resulta a infelicidade humana, o que é um grande contrassenso. Mas o que leva os sábios a se sentirem infelizes não está em sua sabedora. Está é no fato de serem eles obrigados a conviver com ignorantes por ser a humanidade um conglomerado destas infelizes, mas festivas criaturas que ainda não descobriram não haver na vida motivo para tantas festividades. Sendo o ser humano gregário por natureza, é o isolamento e não a sabedoria o motivo do desgosto das mentes superiores à mediocridade do grosso da humanidade cuja alegria corresponde à euforia de quem toma as primeiras doses, mas que terá uma ressaca depois. Ter o sábio de conviver com frequentadores de igreja, axé e futebola corresponde à situação de ser um frequentador de igreja, axé e futebola obrigado a ter por companhia apenas rebanhos de irracionais. O grupo empresarial Maurício de Souza mostrou esta realidade numa das historiazinhas da Turma da Mônica, quando o genial menino Franginha sentiu-se extremamente infeliz porque as outras crianças não tinham capacidade de compartilhar com ele as ideias provenientes do seu conhecimento científico.

Optar pela ignorância corresponde a jogar por terra a melhor definição de filosofia que diz ser ela, a filosofia, AMOR À SABEDORIA. Está completamente fora de propósito qualquer afirmação negando vantagem na sabedoria como, por exemplo, a suposição de ter Cristo afirmado que dos pobres de espírito seria o reino do céu. Ser pobre é ser despossuído, e ser despossuído de espiritualidade é o mesmo que estar próximo da irracionalidade dos irracionais. Ao contrário, a riqueza espiritual corresponde a ter a sabedoria necessária para desenvolver o sentimento de irmandade do qual resultam união, paz e tranquilidade indispensáveis ao bem-estar almeja pelos seres vivos. Enfim, pode-se afirmar haver erro em considerar a sabedoria motivo de desconforto ao se constatar que varrendo a ignorância da face da Terra os sábios não teriam motivo algum para desgostos. Se, por exemplo, o sábio Vinícius Bittencourt pudesse viver em companhia das pessoas por ele citadas em seus escritos, entre eles Augusto dos Anjos, Malaparte, Ruy Barbosa, Shakespeare, Espinosa, Trotsky, Maquiavel, Thomas Paine, Bernard Shaw, Marx, Engels e muitos outros, certamente que ele não haveria de se sentir a contragosto porque teria pessoas mentalmente tão privilegiadas como ele para que pudesse trocar ideias. Pessoas que se elevaram espiritualmente como estas e frequentadores de igreja, axé e futebola não se misturam. São como água e óleo. Os primeiros estão anos luz de léguas mais distantes da animalidade dos primeiros tempos do que os segundos.

Entretanto, cabe observar acima de tudo, que a estupidez humana é produzida intencionalmente pela cultura do primeiro os meus e o que sobrar aos seus, por ser tal cultura incompatível com a irmandade humana que precisa ser observada acima de qualquer outra coisa porque na realidade somos irmãos queiram ou não queiram os infelizes e criadores de infelicidades, os ajuntadores de riqueza. São eles que implantam um modo de vida desinteligente e tão vil que homens honrados têm de pautar sua vida em legislação estabelecida por canalhas, palhaço, jogador de futebola e ator de filme pornográfico, resultando de tal insensatez toupeiras humanas são elevadas à categoria de famosos e celebridades e professores quase à mendicância. Da vilania de tais legisladores, verdadeiros trapos mentais resulta uma forma de vida na qual para se comer, beber, vestir e divertir tem-se de cumprir a obrigação de contribuir para a acumulação de fortuna dos donos do agribiuzinesse, dos distribuidores de água, das grifes e da Disney. Enfim, a humanidade se porta como a manada que depois de disparada não muda mais o rumo. É a falta de sabedoria em estabelecer um padrão inteligente de se viver que motiva a infelicidade dos sábios, não a sabedoria. Inté.















  




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