Para os
cristãos brasileiros, a ideia de que tudo acaba com a morte deveria ser mais
alvissareira do que a ilusão de uma vida posterior a ela. A perspectiva da
continuação da existência eternizaria o martírio do profeta maior do
cristianismo, fazendo-o contemplar um triste quadro no qual canalhas da pior
espécie enxovalham seu nome santo. Isto haveria de causar em Cristo sofrimento ainda
mais atroz ao do Calvário porquanto a dor moral martiriza mais que a dor física
uma vez que esta não é capaz de levar à depressão. Até débito bancário de
religioso afirma-se na televisão que Cristo saldou, e a dívida desapareceu
milagrosamente sem que o devedor desembolsasse um só tostão. Não haveria limite
para o sofrimento de Jesus Cristo ao constatar estar ele incentivando a
agiotagem contra a qual esbravejou a chicotadas no Templo de Jerusalém e o sacrifício
de tentar levar esclarecimento à humanidade, para depois de tudo aquilo por que
passou ter de contemplar cretinos aproveitar da ignorância do povo que ele
tanto quis proteger para roubá-lo cínica e abertamente sob o olhar complacente
das autoridades políticas. Seria realmente doloroso para Cristo ver que deturparam
seus sentimentos puros tão violentamente que o pensador John Haywood disse com
propriedade: “Quanto mais perto da
igreja, mais longe de Deus”.
O
descompasso em que vivem os seres humanos precisa contar com a intervenção dos
intelectuais honestos, porque os há desonestos, como aqueles que a fim de terem
a despensa abastecida insinuam ser a competição a melhor forma de vida social.
Os intelectuais que não prostituem suas mentes precisam agir contra a
conivência das autoridades com a ação hediondamente criminosa de alimentar a
ignorância humana. São os próprios intelectuais que afirmam ser a ignorância a
fonte da infelicidade humana. Então, se sabem disso, por que a omissão em lutar
para secar esta fonte? Não se justifica que se ponham a escrever livros que
nada tenham a ver com a luta iniciada por Cristo de levar esclarecimento à
barbárie humana vez que ela é cada vez mais vigorosa.
O foco de
toda e qualquer ação meditativa deve ser livrar a juventude das garras da
ignorância de que se beneficiam os monstruosos Midas ajuntadores de riqueza que
para tal fim incentivam a ignorância com tamanha eficiência que o povo se sente
feliz na escravidão. Combater a ignorância equivale a garantir sobrevivência e
dignidade para as futuras gerações. Faz-se, pois, necessário lutar contra o
predomínio da insensatez de ter a humanidade de seguir caminhos indicados pelos
imbecis ajuntadores de riqueza porque de sua orientação advirá a inevitável sublevação
social decorrente da irracionalidade de privatizar em poucas mãos a riqueza que
deveria servir à coletividade e que custa a vitalidade daqueles que precisam
vender sua força trabalho, mas que ironicamente se veem privados de usufruírem
do produto proveniente do seu esforço.
Percebe-se
estar tudo errado quando se constata que estes monstros inviabilizadores da boa
convivência humana a que se referia John Lennon constituem a classe dominante
que mereceu de Marx a seguinte análise:
“As ideias da classe dominante
são, em cada época, as ideias dominantes; isto é, a classe que é a força
material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual
dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe,
ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a ela sejam
submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos quais faltam os
meios de produção espiritual”.
Aí está, pois, a explicação do porquê da ojeriza generalizada às ideias
marxistas. É por ter sido Marx um intelectual de consciência não prostituível e
que por isto mesmo falava a mesma verdade que todos os intelectuais precisam
falar para salvar a humanidade das trevas da espiritualidade demoníaca produzida
nos laboratórios satânicos dos ajuntadores de riqueza. Marx preveniu serem estes
sátrapas que juntamente com os bens materiais que produzem e com os quais esfolam
o rabo da humanidade também produzem a espiritualidade humana objetivando
perenizar a satisfação de sua avareza. Com a força do dinheiro, subjugaram a
mente humana a uma nova escravidão imposta pela televisão, como observou com
perfeição o escritor Vinícius Bittencourt: “Sendo a ignorância a fonte de todos os males e o livro o portal da
sabedoria, é óbvio que a substituição deste pela vulgaridade da televisão
importa em suicídio intelectual. Os viciados naquele entorpecente – pior que os
outros, porque seus efeitos são direcionados – destinam-se a servir de massa de
manobra para quem efetua, através de telenovelas e programas imbecilizantes, a
sua lavagem cerebral. A consequência desta indução perniciosa será a morte do
livro. Hoje, aliás, já não se lê. A leitura restringe-se a jornais e revistas.
Quando um livro desperta interesse é porque aborda tema de uma telenovela. Já
estamos na era da estupidez e da cretinice. E a Caixa de Pandora ainda não se
abriu completamente”.
Por falta
de leitura os frequentadores de igreja, axé e futebola não sabem que sua
explicação para o fenômeno da Criação e tão ingênua quanto que que apresentavam
os gregos de cerca de três mil anos atrás, e era a seguinte, conforme página 24
do livro Mitologia, de Thomas Bulfinch: Os gregos acreditavam que encarregado
da Criação, o deus Prometeu tinha exagerado no gasto dos recursos de que dispunha
para fabricar os poderes a serem atribuídos ao homem e ficara sem condições de
dotá-lo de superioridade em relação aos outros animais. Pediu então ajuda ao
seu irmão, o também deus Epimeteu. Ajudados por Minerva, subiram ambos ao céu e
acendeu uma tocha no fogo do sol, que trouxe para o homem. A posse do fogo
dotou o homem de tamanho poder que lhe permitiu fabricar armas e ferramentas.
Como a mulher ainda não fora criada, Júpiter, o chefão dos deuses, fez a mulher
Pandora e mandou de presente como castigo para os dois ladrões do fogo do céu.
Acontece que Prometeu havia deixado guardados numa caixa males que não usara na
Criação como doença, inveja, vingança, entre outros. Curiosa, Pandora abriu a
caixa, os males saíram e afetaram a humanidade.
A explicação
atual dos frequentadores de igreja, axé e futebola para o fenômeno da Criação
merecerá o mesmo crédito que hoje merece esta explicação dos gregos antigos.
Inté.
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