Até final
do século XIX eram a chibata e o lombo dos negros a força propulsora que
movimentava a economia e se afirmava categoricamente que sem a chibata e o
lombo dos negros estaria decretada a derrocada do sistema econômico, e os
argumentos contra o fim da escravidão lembram a afirmação de Schopenhauer de
que para vencer um debate a razão é menos importante do que a capacidade de bem
usar da retórica para defender o ponto de vista contrário, ainda que capciosos
ou inverídicos os argumentos do debatente. O livro Raízes do Conservadorismo
Brasileiro, de Juremir Machado da Silva, mostra os mais diversos argumentos
justificando a escravidão, entre eles a alegação do papa Nicolau V para o
tráfico de negros africanos em função da necessidade de convertê-los ao
cristianismo salvador de almas.
Em termos
de uma elevação espiritual só alcançável por meio da evolução mental a
humanidade ainda se encontra nos cueiros. A desumanidade de desconsiderar um
homem a ponto de estender sobre ele o direito de propriedade denuncia a
predominância da animalidade sobre a espiritualidade que separa o civilizado da
besta fera. Animais irracionais é o que são os seres humanos. E sob os mais diversos
argumentos capciosos, o direito infame de escravizar permanece exercendo seu
poder através da instituição do emprego. No terceiro fascículo do curso “SPEAK
ENGLISH”, da editora Escala, o assunto das aulas gira em torno do jovem estudante
Roger, entusiasmado pelo fato de ter conseguido um emprego. Pouco adiante, na
lição 22 do fascículo 24, encontramo-lo abatido, com aspecto doentio,
desgastado pelo esforço sobre-humano a fim de corresponder às exigências do
emprego e os estudos.
É, pois, de
espantar a distância que os intelectuais se mantêm da necessidade de uma orientação
capaz de transformar as crianças em adultos capazes de meditar sobre uma forma
de vida na qual todas as pessoas estejam a gosto. Faz-se extremamente
necessário trocar a canalhice de religiosos e políticos por uma orientação
baseada na sabedoria em vez da burrice que impede a massa bruta de povo de
questionar o motivo pelo qual o presidente da república desperdiça tempo
recebendo em audiência um jogador de futebola. Por trás deste fato
aparentemente simples rolam coisas do arco da velha. Como povo existe para ser
iludido feito criança, as igrejas e os estádios para brincadeiras continuarão
lotados, até quando não se sabe.
Nestas
terras brasileiras de raro esplendor e riquezas naturais, cujos habitantes
vivem na total miséria material e moral, seu povo é famoso como ladrões
safados, carnavalescos, adoradores de futebola e igreja. Tudo que pode haver de
negativo em termos de uma boa convivência social é “o quente” por aqui.
Toupeiras mentais são consideradas celebridades e a fala das autoridades tem
tanta veracidade quanto o que diz a papagaiada de microfone ao fazer apologia
dos bancos e do agribiuzinesse. Estamos abaixo do zero da escala mundial em
termos de civilização. A massa bruta de povo brasileiro volveu com tal vigor
seu queixo duro no rumo da religiosidade e do futebola que é impossível
trazê-la à razão, não obstante a transparência dos fatos que demonstram
tratar-se de instituições voltadas para manter o povo na condição de massa
bruta, incapaz de elevar o pensamento além da necessidade de trabalhar, comer e
trepar. Enquanto isto, intelectuais escrevem bestas de sela com prefácios de
outros intelectuais afirmando tratar-se de obras monumentais. Monumental, na
verdade, é a estupidez humana a clamar pela atenção das mentes que se encontram
acima da mediocridade da massa bruta de frequentadores de igreja, axé e
futebola. Inté.
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