terça-feira, 18 de junho de 2019

ARENGA 578


Até final do século XIX eram a chibata e o lombo dos negros a força propulsora que movimentava a economia e se afirmava categoricamente que sem a chibata e o lombo dos negros estaria decretada a derrocada do sistema econômico, e os argumentos contra o fim da escravidão lembram a afirmação de Schopenhauer de que para vencer um debate a razão é menos importante do que a capacidade de bem usar da retórica para defender o ponto de vista contrário, ainda que capciosos ou inverídicos os argumentos do debatente. O livro Raízes do Conservadorismo Brasileiro, de Juremir Machado da Silva, mostra os mais diversos argumentos justificando a escravidão, entre eles a alegação do papa Nicolau V para o tráfico de negros africanos em função da necessidade de convertê-los ao cristianismo salvador de almas.

Em termos de uma elevação espiritual só alcançável por meio da evolução mental a humanidade ainda se encontra nos cueiros. A desumanidade de desconsiderar um homem a ponto de estender sobre ele o direito de propriedade denuncia a predominância da animalidade sobre a espiritualidade que separa o civilizado da besta fera. Animais irracionais é o que são os seres humanos. E sob os mais diversos argumentos capciosos, o direito infame de escravizar permanece exercendo seu poder através da instituição do emprego. No terceiro fascículo do curso “SPEAK ENGLISH”, da editora Escala, o assunto das aulas gira em torno do jovem estudante Roger, entusiasmado pelo fato de ter conseguido um emprego. Pouco adiante, na lição 22 do fascículo 24, encontramo-lo abatido, com aspecto doentio, desgastado pelo esforço sobre-humano a fim de corresponder às exigências do emprego e os estudos.

É, pois, de espantar a distância que os intelectuais se mantêm da necessidade de uma orientação capaz de transformar as crianças em adultos capazes de meditar sobre uma forma de vida na qual todas as pessoas estejam a gosto. Faz-se extremamente necessário trocar a canalhice de religiosos e políticos por uma orientação baseada na sabedoria em vez da burrice que impede a massa bruta de povo de questionar o motivo pelo qual o presidente da república desperdiça tempo recebendo em audiência um jogador de futebola. Por trás deste fato aparentemente simples rolam coisas do arco da velha. Como povo existe para ser iludido feito criança, as igrejas e os estádios para brincadeiras continuarão lotados, até quando não se sabe.    

Nestas terras brasileiras de raro esplendor e riquezas naturais, cujos habitantes vivem na total miséria material e moral, seu povo é famoso como ladrões safados, carnavalescos, adoradores de futebola e igreja. Tudo que pode haver de negativo em termos de uma boa convivência social é “o quente” por aqui. Toupeiras mentais são consideradas celebridades e a fala das autoridades tem tanta veracidade quanto o que diz a papagaiada de microfone ao fazer apologia dos bancos e do agribiuzinesse. Estamos abaixo do zero da escala mundial em termos de civilização. A massa bruta de povo brasileiro volveu com tal vigor seu queixo duro no rumo da religiosidade e do futebola que é impossível trazê-la à razão, não obstante a transparência dos fatos que demonstram tratar-se de instituições voltadas para manter o povo na condição de massa bruta, incapaz de elevar o pensamento além da necessidade de trabalhar, comer e trepar. Enquanto isto, intelectuais escrevem bestas de sela com prefácios de outros intelectuais afirmando tratar-se de obras monumentais. Monumental, na verdade, é a estupidez humana a clamar pela atenção das mentes que se encontram acima da mediocridade da massa bruta de frequentadores de igreja, axé e futebola. Inté.

Nenhum comentário:

Postar um comentário