Quanto mais alto nos elevamos, menores parecemos aos olhos de quem não sabe voar. Disse Nietzsche, o mestre dos mestres, referindo-se à superioridade espiritual de quem tendo se ligado nos ensinamentos dos Grandes Mestres aprendeu sobre a vida o nem de longe imagina quem passa pela vida, como é dito, em brancas nuvens. Isto é, incapazes de perceber a riqueza espiritual a que se pode chegar meditando sobre as coisa que são ditas. Ao fazer isso, entende-se quanta coisa nos disse o velho Sócrates com o só sei que nada sei. Realmente, é tão apouco o que sabemos do que acontece nos bastidores do poder que nos desgoverna que não é exagero dizer que nada sabemos do que se passa por lá. Ouve-se fazer em comprar deputados como se fossem mercadorias. Ouve-se que bandido rico não sofre penalidade como bandido pobre. Que advogados famosos dividem com os ladrões de grandes somas para evitar que eles sejam punidos. Que em comparação com o que pagam os pobres, ricos não pagam imposto. Que as autoridades responsáveis pela garantia do bem-estar social cometem crimes contra a sociedade e que legalizaram segredo para certos tipos de gastos com o dinheiro do povo. Também é dito que a privatização de estatal é vender e ficar com o dinheiro de uma coisa feita com o dinheiro do povo. Que presidentes de companhias estatais recebem salários que somados a penduricalhos superam quinhentos mil reais e que jogadores de bola e cantores de axé também ganham disso a mais enquanto um trabalhador recebe mil e cem. São tantas coisas inacreditáveis que são ditas e que por não podemos saber se correspondem à realidade, confirma-se o só sei que nada sei de mestre Sócrates. Se apenas um terço do que é dito corresponder à realidade, fica esclarecido o motivo pelo qual nosso país está num atoleiro dos diabos.
Também se ouve que a história é farta em coisas desconexas como as mencionadas. No livro História da Civilização Ocidental, do fabuloso historiados Edward Mc Nall Burns, sobre a Revolução Francesa, consta o seguinte na página 592: “Havia mais de dois séculos que a burguesia francesa se locupletava com os lucros de um comércio expansionista, enquanto as classes inferiores comiam pelo menos algumas migalhas caídas da mesa dos ricos”. Quem não sabe voar, conforme mestre Nietzsche, lê isso sem que se lhe desperte algo tão estranho como a disparidade entre uma classe que se locupleta e outra que para viver depende de migalhas caídas da mesa dos locupletadores. Trata-se de uma situação claramente adversa à existência de sociedade civilizada, impossível de acontecer com tamanha diferença entre seus componentes. Enquanto houver um único ser humano infeliz, a humanidade também será infeliz. Como disse mestre Beccaria, as vantagens que a sociedade obtém devem ser usufruídas por todos os seus membros. Os que leem os mestres são os que veem lá embaixo os que não leem.
Na economia política é onde a contradição humana se manifesta com esplendor. Fundamentada
no princípio do levar vantagem para se tornar rico e proporcionar empregos, vem
a humanidade se afundando cada vez mais na falsa realidade de quanto mais
empregos for capaz de proporcionar o empresário, maior o benefício social decorre de
sua atividade. Este é um raciocínio típico de quem não sabe voar. Quem vê de lá
de cima, os que sabem voar e, portanto, sabem o que é mais valia, vê diferente de quem não pode ver do alto e que por isso mesmo não percebe que quanto maior for o número de
empregados, mais fatias de mais valia se somem para fazer a riqueza do empresário. Outra coisa que só se vê do alto é a realidade de que ao empresário interessando apenas lucro quanto maior, melhor, como, então se esperar de tal pessoas interesse por bem-estar social?
Na verdade, é impossível apontar qual é a maior das contradições humanas. Veja-se, por exemplo que a humanidade foi extremamente sábia ao perceber que a brutalidade dos tampos de bicho-fera precisava ser contida. Mas, ao mesmo tampo, foi extremamente burra em não perceber não haver ninguém que não fosse bicho-fera e, assim, entregou a bichos-feras a responsabilidade de elaborar leis e exercer a autoridade, resultando desta burrice uma sociedade infeliz.
Como são infindáveis as contradições,
pessoas mais capacitadas em intelectualidade e que escrevem “best-sellers” ou
são indiferentes aos motivos da infelicidade humana ou são demasiadamente
prolixas em suas ponderações. Darwin escreveu um calhamaço de 574 páginas para provar
que somos resultado da transformação que a partir de algum primata a evolução
fez chegar ao que somos. Para tanto, fala de erva-de-passarinho, couve-flor,
peixe com eletricidade e mil e um devorteios, quando nada mais é preciso para
provar esta realidade do que nossa semelhança com os bichos. Como eles, também somos
sensíveis ao excesso de frio ou calor, respiramos, enxergamos, comemos outros
bichos, bebemos água, produzimos excrementos e reproduzimos da mesma forma. O
fato de não admitir esta verdade se deve ao fanatismo religioso que, como a rocha, depois de estratificada, é tão difícil de ser desfeita que embora
cientistas e filósofos afirmam ser produto da inocência, levados pela
religiosidade e imbuídos de uma fé cega, analfabetos matam e morrem por conta
da uma crendice estúpida.
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