terça-feira, 23 de novembro de 2021

ARENGA 627

 

Uma semana depois de completar oitenta e cinco anos e dormir por quase cinco horas, despertei às duas da madrugada, engoli o comprimido de dor de estômago, contribuindo com a primeira parcela do dia para riqueza dos Bezos da Indústria Farmacêutica, e abri o livro Economia do Desejo de Eduardo Moreira. Pulei o prefácio que é puro intelectualismo chatíssimo e passei à introdução onde vi o seguinte: “Agora, finalmente, estamos nos colocando seriamente a perguntar se de fato é necessário existir as chamadas ‘classes baixas’ da sociedade: ou seja, se é preciso existir um grande número de pessoas condenadas desde seu nascimento a um trabalho duro, para prover a outros os requisitos de uma vida refinada e privilegiada; enquanto eles próprios são proibidos, por sua pobreza, de ter qualquer fatia dessa vida”.

Embora já tivesse lido antes, foi desta vez que isto me despertou perspectivas de novidades a serem acrescentadas às bobagens destas arengas que passo a registrar com tamanho entusiasmo como se isto pudesse despertar na juventude pensamentos capazes de levar os jovens à conclusão de que algo precisa ser feito em prol de seus descendentes condenados a integrar a maioria que se sacrifica para dar vida regalada a parasitas, comportamento de burro-de-carroça. Inexiste justificativa para se concordar com a realidade de terem algumas pessoas se apoderado de exorbitantes quantidades dos recursos indispensável à sobrevivência, deixando, desta forma, sem meios de sobreviver a grande maioria, principalmente por ser esta grande maioria quem produz estes recursos. Como haver justificativa para o fato de produzir para que outros desfrutem?

Não é mais possível no presente estágio da evolução humana manter-se a humanidade apegada aos padrões de centenas ou milhares de anos atrás. Na página 693 do segundo volume de História da Civilização Ocidental, de Edward Mac Nall Burns, lemos o seguinte: “Um clérigo inglês, escrevendo por volta de 1830, expôs o ponto de vista de que era uma lei da natureza o serem alguns pobres, a fim de que os misteres sórdidos e ignóbeis da comunidade pudessem ser desempenhados. Opinava que desse modo era muito aumentado o cabedal de felicidade humana, pois os mais delicados não somente ficam aliviados de trabalhos penosos e ingratos e daquelas ocupações ocasionais que os tornariam infelizes, mas também podem seguir as profissões que mais se ajustam aos seus diversos temperamentos e que mais úteis sejam ao estado”.

Ora, que diabo de raciocínio é este que relega seres humanos à condição de burro-de-carroça que dispensa o elemento dignidade? Sendo outros os tempos, também de ser outra a cultura. Não mais se justificam algumas forma de pensamentos ainda que de grandes pensadores como mestre Rousseau que segundo consta da página 21 do livro O Livro da Economia, afirmava que a propriedade deve ser privada porque as pessoas não poderiam ser generosas se não tiverem alga para dar, o que implicaria n existência de quem para viver tenha de depender da generosidade de outrem, o que está fora de qualquer lógica do ponto de vista de sociedade cuja existência exige comunhão de condições de vida.

O que acontece com a humanidade é que o tempo passa e ela não acompanha. Não adquire experiência bastante para saber quando mudar como muda o tempo. Ao contrário, permanecem os seres humanos agrilhoados a carcomidas ideias de antanho, submissa a preconceitos, crendices e regras inteiramente defasadas. A escravidão, por exemplo, apenas na forma foi abolida porque o emprego á também uma forma de escravidão, realidade a que se chega aprendendo os ensinamentos de velho e sábio Marx. Mas a humanidade é tão burra que se deixa levar por seus exploradores e abominam as ideias daquele sábio pensador.


 


 

 

 

 

 

 

 

 

   

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