sábado, 22 de janeiro de 2022

ARENGA 642

 

Segundo a religião dos gregos antes de virar mitologia, destino inevitável de todas as religiões, posto tratar-se de ingenuidade que o passar do tempo transformará em entretenimento literário, Zeus, o deus maioral entre todos os deuses e pai do deus Prometeu, foi acometido de um nervosinho e resolveu castigar os homens e seu criador, seu próprio filho e também deus, Prometeu, por tê-los beneficiado presenteando-lhes com o fogo que permitiu aos homens se tornarem superiores aos outros animais. Zeus, então, para se vingar dos homens, criou Pandora e mandou de presente para eles e Pandora não se fez de rogada. Esparramou sofrimentos quando por curiosidade abriu a caixa que os continha. Voltando-se Contra seu filho Prometeu, mandou outro filho seu, o deus hábil no manuseio de ferro, Hefesto, para acorrentar seu irmão Prometeu a um rochedo. Como a maldade é inata no ser humano dada sua condição de ainda entes primitivos, não podia faltar maldade na personalidade das divindades por eles inventadas. Assim, não satisfeito com tamanha maldade, Zeus ainda mandou que uma águia comesse o fígado de Prometeu sempre que ele se recompusesse depois de ter sido comido.

Mas, a propósito do quê esta lenga-lenga sobre mitologia? Ah, Sim! A propósito de ter sido Prometeu condenado ao sofrimento por conta do altruísmo ao agir para beneficiar, diferentemente da humanidade, também condenada a penar eternamente de males provenientes de sua própria estupidez. 

Entretanto, diferentemente de Prometeu, para quem não restava outra opção senão o sofrimento eterno, como admite ele mesmo na peça Prometeu Acorrentado, do dramaturgo Esquilo, para a humanidade há um caminho pelo qual pode livrar-se do sofrimento desde que se disponha a raciocinar, o que, antes de tudo, implica em sacudir fora o efeito imbecilizante do pão e circo que faz adulto se comportar como criança. Ao raciocinar como adultos os seres humanos descobrirão se encontrarem numa arapuca. Não é exagero, não. Um minuto de reflexão basta para se concluir não ter sentido a vida nem quem quem trabalha como desvalido para dar vida mansa à plêiade de parasitas do trabalho alheio conhecidos como ricos, nem a vida de quem passa o tempo de que dispõe de energia gastando-a em acumular riqueza uma vez que no frigir dos ovos irá virar comida de germes ou fumaça e cinzas num forno crematório. 

 Tão enredados estão pobres e ricos em suas vidas inúteis que nem lhes ocorre uma necessidade de buscar mudança uma vez que acreditam estar tudo bem embora vivendo num mundo cão onde a cada esquina a pessoa é espreitada por uma nova doença ou por violência. A abundância de festejamentos e requebramentos de quadris ficam por conta do faz-de-conta estar tudo bem quando está tudo é muito mal. 

A indisposição de lutar pela autodefesa impedirá a humanidade de poder vislumbrar o raiar de uma era isenta de tantos sofrimentos evitáveis. Ao contrário, a exemplo de Cisto, não faltam manifestações de desapoio a quem lhe indica caminhos menos sofríveis por onde caminhar e de apoio a quem lhe impinge sofrimentos uma vez que a falsos líderes nunca faltaram seguidores.

Como a superação da estupidez representa um Nó Górdio cujo desfazimento depende poder a humanidade elevar-se além da mediocridade em que chafurda feliz da vida, ou a humanidade seja ela própria seu Alexandre e desmancha esse nó, ou, do contrário, como Prometeu, penará para sempre se não há outra forma de vida senão a comunitária que jamais terá sucesso com cada um buscando seu quinhão individual, indiferente às necessidades dos demais, porque estes serão acossados a buscar pela violência aquilo de que precisam e a violência é fonte geradora de infelicidade, e, portanto de sofrimento.    

 

 

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