Embora não existem milagres fora da bola
que frequentadores de igreja, axé e futebola têm no lugar onde deviam ter cabeça pensante, assemelha-se a um milagre o engendramento de forças malignas (ocultas,
como preferia Jânio Quadros), que mantém os seres humanos impedidos de perceber
viverem um estado crônico de tamanha ignorância que em termos de mal-estar
social supera qualquer pandemia jamais vista na face da terra se do mal
da ignorância não escapa absolutamente ninguém. Mas, na verdade, tanto quanto os
milagres e as mágicas dos mágicos, também tem explicação o fenômeno da
ignorância universal e é uma explicação bastante simples: os meios de
comunicação anularam nos seres humanos a capacidade de raciocinar. Apenas isso, e
nada mais que isso. Sem poder pensar por si próprios, os seres humanos de qualquer sociedade, inclusive as bisonhamente chamadas de civilizadas, têm seu pensamento orientado para o rumo indicado pelos meios de comunicação. Daí que nenhuma diferença separa o ser humano dos
quadrúpedes. Como estes, também são amestrados para servir. E é como quadrúpedes que vive a humanidade
dividida entre mais fortes predadores e mais fracos predados.
Embora as pessoas não saibam, seu comportamento, em vez de ser próprio, lhes é ordenado pelos donos dos meios de comunicação. Não obstante o
“ninguém manda em mim” ou o “tá pensando que sou trouxa?”, a realidade é que não passam todos de grandes trouxas a comprar não o que precisam, mas o que a propaganda recomenda. Como não ser pau-mandado e trouxa
quem obedece a um comando que embora invisível escraviza absolutamente a todos inclusive
aos próprios escravizadores ao se tornarem dominados pela ânsia incontida de poder e medo de
perder o que já conseguiu ajuntar? Rousseau afirmou que aquele que julga ser
senhor dos demais é de todos o maior escravo. E, também nesse sentido, muito
antes, Erasmo de Roterdã afirmara em Elogio da Loucura que a tristeza mora no
coração do sábio, e a alegria, no coração do tolo. Ou não é um tolo arrematado
quem ajunta um monte de riqueza sob olhares famintos e quem vive a requebrar os quadris no axé, conversar com estátuas, comprar feijão milagroso e espernear no futebola?
Por ocasião da passagem de um ano para
outro ano é quando explode na humanidade a exuberância da realidade de comportar-se impensadamente. Foguetórios que custam o dinheiro que falta para comer iluminam
o céu e chovem votos de felicidade no novo ano, não obstante ser maior a
infelicidade a cada ano novo que substitui cada ano velho. É também nesta época
que incontável manada humana, como formigas, arrastando trouxas sobre rodinhas,
em atendimento ao chamado do berrante da indústria do turismo, friviam pelo
mundo esparramando dinheiro e doenças.
Nem mesmo espécimes menos obtusos do que
o comum da obtusidade humana escapam à enganação e, como o resto da manada, vai
de eito junto com a massa bruta que vê como salutares as maldades ardilosamente
arquitetadas pelo grupelho de parasitas que predam impiedosamente a humanidade
por meio do instituto da economia política que até gente da melhor qualidade se
torna incapaz de perceber tratar-se de malandragem visto que, na realidade, a louvada economia política tem por
finalidade fazer escoar para os Bezos e Hangs do mundo, do mesmo modo como os
rios escorrem para o mar, a riqueza que devia servir toda a comunidade humana.
Entretanto, não obstante a certeza de
estar tudo errado, ninguém, absolutamente ninguém, move uma palha sequer para
buscar as causas do problema que dá origem aos erros apesar de tão elementar
porque se resume em viverem os seres humanos alheios à realidade que os cerca,
envolvidos que estão em questões de menor importância. É apenas a alienação decorrente da
castração do exercício da atividade de pensar da qual resulta uma obediência cega
a regras inconcebíveis ainda mesmo para pouca inteligência. É por deixar o
destino a cargo de falsos líderes onde está o motivo pelo qual prodigaliza o mal-estar predominante na existência humana. Um
exemplo desta realidade pode ser encontrado no livro Os Donos do Mundo, da
fabulosa e bela escritora espanhola Cristina Martins Jiménez, quando lembra que
a época de grande tristeza para as famílias que tiveram seus jovens mortos por
militares em 1964, foi também a época das alegrias da Copa do Mundo e do
Milagre Brasileiro. (milagre que deu nisso que aí está).
A propósito de nos encontrarmos nós cá
desse belo recanto da américa latrina de triste sorte e povo no ápice da indignidade que
nos afeta desde os tempos de colônia, consta o seguinte na página 79 do livro A
Coroa, A Cruz E A Espada, de Eduardo Bueno: “...sem livros, imprensa,
universidades, mas exclusivamente a orientação cultural da Companhia de Jesus,
o interesse em perpetuar a ignorância condicionaria as perspectivas mentais do
Brasil”.
As teorias que juram de pés juntos que o desenvolvimento econômico assegura bem-estar social seriam verdadeiras se esse desenvolvimento tivesse a função social. Como, entretanto, Todo a riqueza vai parar em contas nos infernos fiscais dos proxenetas do sistema financeiro, não vai além da teoria a teoria de que o desenvolvimento econômico resulta em bem-estar social.
Do mesmo modo, também não tem razão de ser o sentido de democracia visto que face à mediocridade intelectual dos votantes a opção deles não é deles vista a influência perniciosa da propaganda definida como arte de se aproveitar da estupidez humana.
Se o Estado existe para conter a fúria das bestas humanas que se deixadas à vontade matar-se-iam ente si em permanente guerra, fica evidente ter fracasso totalmente o Estado. Não só fracassado, mas também invertido a função de manter a ordem para se tornar promotor de desordem quando permite que avaros reis midas juntem imensas riquezas, comportamento do qual resulta a pobreza na mesma proporção.
A forma como está estruturada a sociedade humana é incompatível com racionalidade e a evidência maior desta realidade é a alienação da juventude que exatamente por ser a força motriz do mundo e capaz de promover mudanças, é mantida indiferente ao seu destino. Atualmente, mesmo diante de um futuro ameaçador, o que se vê por todo canto são jovens imbecilizadamente absortos na ação de futucar telefone e totalmente alheios à realidade que os cerca e que é na verdade uma realidade propensa a inviabilizar o futuro da humanidade. Por esta razão é que o escritor Walfrido Warde diz na página 27 do livro O Espetáculo Da Corrupção, que nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, foi institucionalizado o instituto da corrupção política e o lobby pós-eleitoral é exercido com dignidade. Aí está, pois, o retrato da contracultura que orienta a estúpida sociedade humana. Sendo corrupção, segundo o dicionário, apodrecimento, admitir sua adoção na política corresponde à desmoralização dos bons princípios, ou seja, à desordem total.
Nenhum comentário:
Postar um comentário