domingo, 20 de outubro de 2013

CADÊ UM RUMO?


Disse o papa: “Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-lo?” Embora para a manada tal afirmação signifique apenas que o novo papa é um sujeito, aliás, um santo jovial que não descrimina o pessoal rebolativo, tal afirmação tem um alcance que passa ao largo da capacidade perceptiva da manada. Sendo o papa representante de Deus, ele fala o que Deus aprova. Quando nega estar autorizado a julgar a viadagem, está dizendo que Deus nada tem contra eles (ou elas). Afinal, o representante fala o que manda o representado. Por outro lado, os papas anteriores condenavam os adeptos das plumas e paetês tanto quanto a comissão do pastor político Feliciano que acabou de aprovar na Câmara dos Deputados projeto de lei que autoriza as igrejas a expulsar de lá os gays. Sendo as igrejas as casas de Deus, e é muita casa para um Deus só, e também sendo o pastor Feliciano um representante de Deus, portanto, também autorizado a falar por Ele, fica evidente que Deus é contra o pessoal que joga água fora da banheira. Então, ora Deus nada tem contra os esvoaçantes e ora manda expulsar os emplumados das Suas casas. Fica o impasse: qual será a verdadeira opinião de Deus sobre a bicharada? Encontra guarida nas casas Dele, ou devem ser expulsos para longe aos requebros?

Os desencontros, entretanto, não param por aí. Ora Deus faz suas recomendações através da Bíblia, ora através do Corão, ora através da Charia, e ao mesmo tempo em que parcela de Seus representantes afirma a necessidade de respeitar e até pedir favores a estátuas, acendendo velas em pagamento, outra parcela afirma que as estátuas não merecem respeito algum e que podem ser até chutadas como as bolas de futebola. E tem mais e mais contradições: ora se deve seguir os ensinamentos de Jesus, ora de Maomé, ora de Buda, e sabe-se quem mais. Tudo isso deveria deixar uma grande interrogação sobre a cabeça dos religiosos. Entretanto, não deixa. E por que não? Simplesmente porque os religiosos não pensam. Se pensassem chegariam à conclusão lógica e simples de que um analfabeto não tem condições de contestar um cientista. Descobririam, se pensassem, que a finalidade da religião é conformar o necessitado com sua necessidade, jamais se revoltando contra ela. Se os religiosos pensassem chegariam à conclusão da inexistência de proteção divina. Entretantos, como enfeitiçados, nem os cadáveres de romeiros, nas estradas ou mesmo dentro das casas de Deus, nem os desabamentos de igrejas sobre quem vai lá pedir proteção, nem o fato evidente de que onde há saneamento e educação há mais saúde e bem-estar do que onde há igrejas, nem a diferença entre o padrão de vida do religioso que chora no corredor do hospital e do banqueiro para quem o dinheiro é seu Deus, nada. Absolutamente nada é capaz de tirar os religiosos de sua cegueira mental. Os religiosos ainda não são muito diferentes daqueles seres que aprenderam a ficar em pé, perderam os pelos e puderam enxergar mais longe, fato ocorrido há mais de quatro milhões de anos, como nos informa o Mestre do Saber doutor Ubirajara Brito em seu maravilhoso livro Roteiro Para Reflexão Sobre o Pensamento Ocidental e a Educação no Brasil. Apesar de decorrido tanto tempo, os religiosos, que são a maioria absoluta da humanidade, ainda são incapazes de entender a vida. Agem de modo ainda menos inteligente do que os estreantes na arte de se sustentar apenas sobre os pés. Aqueles seres lutavam em prol da vida, enquanto os de agora lutam em busca da morte ao trocar vitalidade por aquisição de dinheiro, único objetivo da religião. Eis um trecho do livro História da Civilização Ocidental, de EDWARD McNALL BURNS, segundo volume, página 594: “O clero superior, em contraste (contraste com o clero inferior. Observação nossa), vivia na abundância e privava com as rodas elegantes e alegres da côrte (sic). Não compreendendo mais de 1% da população total, possuía, não obstante, cêrca (sic) de 20% de tôda a terra, sem falar em enormes riquezas compostas de castelos, obras de arte, ouro e jóias. Muitos bispos e arcebispos tinham rendimentos que orçavam em centenas de milhares de francos. Como é natural, muitos dêsses (sic) opulentos prelados pouco se interessavam pelos assuntos religiosos. Alguns se envolviam na política (o que ainda acontece (observação nossa), ajudando o rei a manter o poder absoluto. Outros jogavam ou ainda cultivavam vícios ainda mais escandalosos”.

Quantos religiosos já leram isso? Ainda que algum chegue a ler, não despertará absolutamente nada em sua parcimoniosa capacidade mental. Embora os principais representantes de Deus nadem em dinheiro, os retardados mentais fazem questão de lhes enriquecer cada vez mais. A televisão mostrou a fúria com que religiosos acorreram para comprar um livro do Edir Macedo cuja fortuna pode ser conhecida pedindo ao amigão Google “riqueza dos pastores brasileiros”. Não estranham os religiosos a disparidade entre a pregação de simplicidade da religião e o banco do vaticano. Absolutamente nada é capaz de tirar o tapa-olho dos religiosos. 

Deixar de lado tudo que se refere à religião e cuidarem as pessoas de si mesmas dará um resultado infinitamente melhor do que ficar esperando que Deus resolva seus problemas. Tal procedimento equivale a esperar por um trem que nunca irá sair da outra estação. É por esperar em vez de agir que o mundo está assolado por mortes e choros. Se for gasto em educação e higiene a fábula de dinheiro que se gasta com templos, imagens, funcionários e todo o aparato em torno das religiões haverá recurso suficiente para tornar as pessoas educadas. Onde há educação pode ser dispensada a religião porque onde há educação não há a absoluta maioria dos males que produzem infelicidade tais como doenças e violência. Ao contrário, como pode ser visto sem precisar de óculos, os lugares com maior índice de religiosidade e nenhuma educação são os mesmos lugares onde há mais doenças, esgoto desnudo, ratos, baratas, mortalidade infantil, choro na televisão. Alguém, por acaso, nunca viu nada disso pelaí? Como se explica tal situação? Fácil, fácil, é produto do altíssimo índice de analfabetismo de onde provem ignorância bastante para fazer as enormes filas atrás do escroque Edir Macedo, ou do papa, ou de Papai Noel.

A religiosidade e sua recomendação da desnecessidade de pensar sobre as coisas da vida levam a humanidade a caminhar rumo ao imaginário paraíso celeste, e o resultado de tal desatino é o abismo cuja aproximação já se faz sentir. Inté.




 

 

 

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