A extrema riqueza é produto de crimes mais horrorosos do que os crimes
produzidos em consequência da extrema pobreza. Os assassinos ricos são mais
assassinos do que os assassinos pobres. Quando um assalto de pobre termina em morte,
este resultado não fazia parte do plano de roubar. Ao ladrão interessava apenas
o roubo, diferentemente do colarinho branco das construtoras em conluio com as
autoridades quando taca fogo numa favela para desocupar o lugar onde construir pelo
triplo do valor real um condomínio de luxo ou um terreiro onde as brincadeiras
atrairão a atenção dos bichos com forma de gente, incapazes de pensar nesses
assuntos. Sabem perfeitamente estes criminosos que vão deliberadamente matar
jovens, velhos e crianças. Nem mesmo as mortes premeditadas e friamente executadas
por pistoleiros se equiparam à truculência dos assassinos ricos. Os assassinos
de aluguel são levados ao crime por pura falta de oportunidade de ser outra
coisa na vida, sendo a deseducação e a pobreza que dão origem a estas coisas produzidas
propositadamente pelo mundo dos ricos a fim de não lhes faltar quem troque sua
vitalidade por um salário mínimo. Além do que o crime de pistolagem é utilizado
pelos criminosos ricos.
Em conversa de boteco, ouvi a seguinte história: Em visita a um
governador nordestino, certo senador pediu àquele governador seu amigo e parceiro
de falcatruas que lhe arranjasse um jagunço. Algum tempo depois, lá no centro
da criminalidade de Brasília, o governo central, o senador recebeu do
governador um telefonema (pago pela manada) comunicando para mandar ao
aeroporto um carro (pago tanto o carro quanto o combustível, a oficina e o
motorista, pela manada) buscar a pessoa solicitada que chegaria no vôo de tal
hora (com passagem paga pela manada). Ao receber o pistoleiro em seu gabinete,
o senador não botou muita fé no nordestino raquítico e lhe perguntou se ele
teria coragem de cumprir uma ordem de matar um senador da república, ao que o
capiau respondeu: “Corage inté qui não, dotô. O qui nós tem muito é custume”.
A situação insustentável de gatos pingados com tudo e a maioria
absoluta da população com nada já provou na Revolução Francesa que não dá certo
e não é preciso ser inteligente para perceber isto. Os ricos estão cavando a
sepultura de seus filhos e netos com o procedimento irracional de acumular
montanhas de dinheiro diante de montanhas de pessoas pobres e necessitadas.
Como se não bastasse tal desatino, ainda por cima, são estes necessitados os
olheiros que resguardam a riqueza dos ricos, mas os assaltos a condomínios de
ricos com a participação destes olheiros mostram claramente o resultado
desastroso deste procedimento perigosamente insustentável.
Desde que se tem notícia da existência humana em sociedade, também se
tem notícia da existência de explorados e exploradores. Os explorados sempre
foram os provedores dos gastos faustosos dos exploradores. Quando se fala nos
grandes feitos de generais famosos e descobridores famosos nem sequer se cogita
de que nenhum deles sozinho teria feito nada. Os verdadeiros responsáveis por
todas as consideradas grandes conquistas são simplesmente ignorados e este modo
de procedimento começa a ser questionado. Embora a grande massa humana ainda se
encontre na situação de bicho com aspecto de gente, é de se notar que rebeliões
estão acontecendo com maior frequência. A religião, por exemplo, o maior engodo
utilizado para a subserviência, já é tão contestada a ponto de afirmar a
ciência que até o ano de 204l será ela superada pela descrença, coisa só não percebida
pela condição de manada em que os ricos ainda conseguem manter o populacho.
Basta uma olhadela para os povos com melhor qualidade de vida para se notar ser
mais baixa a religiosidade. Só a incapacidade de pensar pode fazer com que se
assista ao filme O Livro de Eli e a mortandade entre os orientais sem perceber
haver algo de errado na necessidade de tanta violência em torno do livro
considerado sagrado, tido como a palavra de Deus. A condição de bicho em forma
de gente, porque bicho não pensa, impede a percepção da realidade de haver
maior religiosidade onde há mais esgoto a céu aberto, onde as pessoas tem menos
acesso à prevenção de doenças, enfim, onde há menor nível de escolaridade. A
ciência está avisando que no Brasil da nacionalidade de Deus haverá em quinze
anos um índice assustador de mortalidade por câncer.
Até aqui os exploradores tem jogado livre e solto. Daqui em diante as
coisas precisam mudar. Até um iletrado como eu já percebe algo de estranho no
fato de ser o Brasil a sétima maior economia do mundo, no dizer de outro grande
engodo chamado Economia Política, mas, como declarou a ONU, serem os
brasileiros a octogésima quarta nação do mundo em qualidade vida.
No momento em que maior número de jovens saírem da condição de manada
que os leva a permanecer acampados durante dias à espera do chô para requebrar
os quadris, e que esta demência mental for substituída pela percepção de não se
poder viver eternamente em brincadeiras, a partir deste momento que chegará um
dia, as coisas haverão de mudar bruscamente, razão por que os ricos devem por
si mesmos promover uma mudança pacífica. Será melhor para todos. Inté.
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