A vida só é
boa enquanto se é jovem e inocente como são os jovens, o que equivale a dizer
antes de começarem os achaques. Eles começam quando se descobre pela primeira
vez que não se consegue dar a segunda, e aumentam quando se descobre pela
segunda vez que não se consegue dar a primeira. As decepções se sucedem. Minha
derradeira decepção foi com o doutor Dráuzio Varela, personalidade que me
parecia comunicativa e afável como gostaria que fosse toda a humanidade.
Entretanto, é arrogante e pernóstico, comportamento de todo pretenso sabedor de
tudo, que ignora o “só sei que nada sei”. Contando com boa receptividade por
conta da impressão de tratar-se de alguém tratável, abordei o doutor Varela em
frente ao banco que embora chamado de Hospital Sírio Libanês, está tão propenso
a extorquir quanto os bancos, excrescência só concebível no perverso sistema
capitalista para o qual seres humanos são chamados de material humano. Voltando
ao fisicamente simpático doutor Varela, pedi-lhe que nos esclarecesse em sua
coluna no jornal sobre a causa do vertiginoso incremento da homossexualidade. Do
alto de sua estatura, olhou-me cá em baixo no meu metro e sessenta e seis,
disse que escreve vez em quando sobre isso, virou as costas aparentando
desprezo e foi embora. Considero a atitude ríspida à ojeriza que os paulistas tem
contra os nordestinos, não obstante respirarem ar mil vezes mais sujo, beberem
água mil vezes mais suja e comerem comida mil vezes menos saudável do que nós,
além de nos deverem pelo menos um terço dos mais de cem bilhões que o governo
de São Paulo deve ao governo federal.
Talvez o
doutoríssimo Varela se sentisse ofendido quando eu disse ter minha opinião
sobre o assunto, mas gostaria de ler sobre o assunto na opinião de quem tem
sabedoria, conhecimento e sabe escrever. Certamente lhe causara asco a
pretensão de um reles nordestino ter opinião sobre assuntos outros que não axé,
religião e futebola. Entretanto, tenho a opinião de que os jovens estão
decepcionados com a vida, no que tem absoluta razão. Não é fácil encarar anos a
fio de estudo para alcançar uma posição de escravo do trabalho como o doutor
Varela faz atendendo doentes em ambientes refrigerados, preso entre quatro
paredes, enquanto quem nem sabe ler recebe em troca de brincadeiras muitíssimo
mais do que aqueles que batalharam por um diploma, inclusive o doutoríssimo
Varela. Na verdade, nenhum resultado positivo se obtém do esforço que faz o
doutor Varela em suas recomendações em prol da saúde porque as atuais condições
de vida impostas pelo capitalismo selvagem na sanha animalesca de trocar a
natureza por dinheiro resultam na corrosão da saúde semelhante ao que a
ferrugem faz com o ferro, como prova o fato de uma criança com apenas cinco
anos sofrer os horrores dos cálculos renais. É tão cruel o modo de vida atual
que a prática de envenenar comida, água e ar pode mesmo ter por objetivo levar as
pessoas aos bancos denominados hospitais para serem depenadas quanto o são nos
empréstimos consignados através dos quais os banqueiros tiram o coro da classe
trabalhadora. Inté.
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