Entre todos
os homens cujo pensamento exerceu maior influência positiva sobre a humanidade,
no que diz respeito à evolução mental, Karl Marx supera Jesus Cristo porque enquanto
este nos recomendava o conformismo com os inevitáveis infortúnios provenientes
de um destino já recebido pronto e acabado, na contramão de tão indesejada
sina, como um médico que nos alivia a alma com a notícia de não existir a
moléstia grave de que supúnhamos estar acometidos, chega Marx e, ao contrário
de Cristo, nos mostrava a possibilidade de mudar o destino desafortunado de
modo a evitar o vaticínio negativo de Cristo. Além disso, Cristo falava coisas
como deixar que os mortos enterrem seus mortos, linguagem accessível apenas aos
intelectuais da religiosidade tão inúteis quanto todos os intelectuais. Já Marx
falava uma linguagem simples de fácil compreensão. Ante a realidade de que as
ideias de Marx beneficiam a sociedade mais do que as de Cristo, por que, então,
os meios de comunicação perseguem Marx e enaltecem Cristo? O dia em que os
seres humanos se tornarem capazes de matar esta charada a humanidade terá
chegado finalmente a um nível de evolução mental capaz de torná-la menos
infeliz posto ser a felicidade total nada mais é do que uma quimera. Quimera,
sim, porque desaparece quando chega a inevitável necessidade da cadeira de
roda, ou da hemodiálise, ou do transplante, ou da UTI. Nesta hora a rejeição à
ideia de morte própria de quem nada aprendeu da vida dá lugar a sua aceitação e
passa a ser tão bem-vinda quanto um bom uísque e o olhar sugestivo da mulher na
mesa mais adiante. Porém, deixando de lado estes entrementes e voltando aos
finalmentes do nosso propósito de chamar a atenção para a necessidade de se
raciocinar sobre as mentiras dos meios de comunicação, propósito este que nos
levou a assentar a bunda na cadeira para traçar estas mal traçadas, temos que a
mando dos ricos donos do mundo os meios de comunicação manipulam a manada
humana a seu bel-prazer, impedindo-a de evoluir espiritualmente para não ser capaz
de separar da verdade as suas mentiras.
A falsa expressão de alegria assumida pelos
papagaios de microfone da televisão quando passam a papagaiar sobre futebola,
as futilidades nos jornais sobre exame de urina de jogador, quem não usa cueca
e calcinha, o tamanho da bunda da “famosa” tudo isto tem por única finalidade
manipular o mente humana a fim de igualá-la tão inútil para o raciocínio quanto
o que sai de dentro das bundas a que insistentemente se referem. Embora
indiscutível seja o poder da televisão nesse sentido, onde apresentadores
semianalfabetos de programas medíocres se tornam tão populares a ponto de serem
transformados por espertalhões em candidatos a presidente da república a fim de
manobrá-los de acordo com suas conveniências escusas. Apesar da influência
negativa que a televisão exerce sobre a massa bruta de povo, razão pela qual há
aparelhos de televisão em todos restaurantes, salas de espera e em todos os
lugares onde se reúnem pessoas, além de vários aparelhos em cada residência, apesar
disto, o poder das rádios não é menor. Nas estações de rádio reúnem-se senhores
com grande conhecimento do mundo, do mundo físico, deve-se esclarecer, estes
senhores são capazes de detalhar a localização e a organização política dos
mais diversos lugares. Filipinas, Marrocos, Suriname, Índia, Japão, bem como os
motivos da desavença entre israelenses e palestinos, as abrangências dos termos
JUDEU e TAXIONOMIA, absolutamente nada escapa ao conhecimento destes senhores de
vasta cultura e bem-falantes, de grandiosa capacidade de raciocínio e
eloquência. Reúnem-se eles nas estações de rádio para contradizer qualquer
coisa que vá de encontra à organização política vigente e que no momento é a
capitalista. Entretanto, qualquer que fosse a política vigente contaria do
mesmo modo com empenhada, brava e rigorosa defesa da parte destes nobres
senhores de vastíssimo conhecimento sobre a parte material do mundo. Sempre foi
assim e assim será enquanto o povo permanecer na condição de povo, isto é, de
ser atraído pelo berrante dos meios de comunicação do mesmo modo como na lenda os
marinheiros são atraídos pelo canto das sereias. É com esta finalidade que
estes senhores bem-falantes se ajuntam nas rádios para ridicularizar Marx,
fazendo galhofa sobre a convocação daquele pensador para que se unissem todos
os trabalhadores do mundo para lutar por um destino melhor.
Mas, pondo
em prática a recomendação de Machado de Assis de ser necessário se apurar no
cadinho da verdade as informações recebidas antes de aceitá-las como verdades, ao
fazer isto conclui-se serem estes senhores os verdadeiros ridículos do pondo de
vista da sociabilidade sem a qual é impossível uma sociedade civilizada. Portanto,
apesar da facilidade com que discursam, são contrários à evolução mental e
adeptos de uma sociedade incivilizada para seus descentes. Nada pode haver de
ridículo em alguém como Marx, que foi duramente perseguido por outros senhores
também contrários à harmonia social que impuseram a ele uma vida difícil e
sofrida pelo crime de lutar brava e incansavelmente a favor de melhores
condições de vida para a massa bruta de povo cuja estupidez a leva a buscar
inocente e inutilmente tal objetivo nas lideranças política e religiosa onde
nunca o alcançarão.
Não há nada
de ridículo no “Trabalhadores do mundo, uni-vos”. Pode haver ingenuidade. E não
é petulância de um Zemané afirmar que Marx foi ingênuo ao desconhecer a
realidade de tratar-se de povo a classe trabalhadora na qual ele depositava
esperança de construir um mundo melhor porque na verdade povo nem sabe ainda
que pode raciocinar e ser capaz de ter vontade própria como Marx supunha. Seu
erro foi contar com alguma nobreza espiritual na massa bruta e barulhenta de
povo, o que equivale a esperar comportamento racional em irracionais. A História
deve à humanidade a explicação do porquê de ter Marx cometido erro tão crasso. George
Orwell foi mais realista ao escrever a ficção A Revolução dos Bichos, na qual
bovinos, equinos e suínos de verdade raciocinaram.
Nem por
isso, entretanto, deixa de haver lucidez no raciocínio de Marx ao afirmar que do
capitalismo competitivo nascerá o socialismo cooperativo. Esta realidade é
inegável se se considerar não só o fato de serem os seres humanos obrigados a
viverem juntos, mas também uma outra realidade também inegável de que eles se
tornam um pouquinho menos estúpidos a cada milênio. Estas duas inevitáveis realidades
levarão a humanidade ao milênio em que a estupides terá diminuído a ponto de
permitir que estes seres brutos percebam ser a cooperação do socialismo a única
forma capaz de se ter uma sociedade harmoniosa sem os males decorrentes da competição
na qual se fundamenta o capitalismo. Quando isto acontecer, inevitavelmente
será suprimida a cultura de ser normal a anormalidade de só alguns poucos
poderem satisfazer suas necessidades, porquanto elas exigem que todos as
satisfaçam.
Marx afirma
também que o homem pode modificar a História se tiver conhecimento da necessidade
de modificá-la. Como é inegável o avanço do conhecimento queira ou não o pão e
circo que luta com unhas e dentes para impedir este avanço. Por mais que ele
lute, é mais do que certo a chegada do dia em que o conhecimento superará o
analfabetismo político de onde provém a subserviência do servilismo que faz a
humanidade se curvar ante os falsos líderes que através dos deformadores de
opinião afirmam que o bem-estar social depende de empresários e de emprego,
quando a realidade é que o emprego além de descartado pela tecnologia é um tipo
de escravidão explorada pelos empresários para produzirem as imensas fortunas socialmente
inúteis uma vez que seu destino são os infernos fiscais.
É
impossível chegar-se à realidade da vida sem elevar o pensamento além das mediocridades
que absorvem a prioridade das atenções da malta repugnante de povo que porta
bandeiras da Copa do Mundo, corre Maratonas, busca paz nas igrejas onde
encontra terroristas, enche as lojas que lhe vendem o que não precisa, e faz
algazarra nos terreiros de axé e futebola. Inté.
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