segunda-feira, 22 de julho de 2013

SEM PENSAR, NÃO DÁ


Gente que sabe onde tem o nariz afirma ser a ignorância a única causa de todos os nossos males. Esta ignorância não deve ser considerada ofensiva porque ela vem de fora. Não nasceu com o ignorante de sociabilidade porque o homem nasce apenas com a necessidade do social. O modo de se viver socialmente, contudo, se não é ensinado, não se pode aprender. Pessoas inteligentes e estudadas, comprovadamente bem preparadas profissionalmente, demonstram total ignorância no que diz respeito à compreensão da vida em sociedade e são de baixíssima sensibilidade espiritual. Não tem noção alguma de sociabilidade. Um médico me diagnosticou cirurgia do coração apenas pelo dinheiro que ia ganhar. Um dentista colocou aparelho corretivo de dentes em duas filhas minhas quando ainda crianças apenas para ganhar o dinheiro porque naquela idade não podia ser feito, como realmente, tive de pagar novo tratamento mais tarde. Entretanto, esta ignorância de sociabilidade não decorre de desinteligência. Toda a inocência sobre a vida e a sociabilidade que assola a humanidade decorre unicamente do não uso da capacidade de pensar. Acredita-se ser uma perda de tempo e, principalmente, de dinheiro. O potencial de inteligência das pessoas está totalmente direcionado para o lado material da existência e por isso não há disposição para observar o lado espiritual da vida, o que leva inevitavelmente a pensar. Ao concentrar toda a atenção disponível na luta pela sobrevivência ou para ficar rico, ou mais rico do que é, nada sobra para a elevação espiritual através do exercício do pensamento, o que grandemente incrementado por meio de leitura. Pessoas ainda que nascidas inteligentes, mas que se veem num ambiente tão desinteligente onde multidões acorrem para um terreiro onde carros cujo preço daria para alimentar milhares de famintos por um mês inteiro passam numa velocidade espantosa, espatifando-se vez em quando. Tem obrigação de ser desinteligente quem vive em meio a quem acorre para um terreiro para apreciar aviões sobre suas cabeças a soltar fumaça no ar. Tem de ficar desinteligente quem acorre para um terreiro a festejar a chegada de um homem como qualquer um de nós, com as mesmas necessidades e vulnerabilidade que exige a mesma proteção armada dos ricos, mas que a desinteligência faz acreditar ter poderes mágicos que se não servem para proteger o próprio poderoso, é infalível para proteger as pessoas que compram bugigangas adoidado para celebrar a chegada do santo vendedor. A notícia tem a manchete PAPA VENDE e gira sobre o incremento de venda de santinhos, bíblias imagens várias, enfim, uma parafernália própria para inocentes. E qual a inteligência demonstrada por quem bate com uma barra de ferro na cabeça de quem também não pensa até matá-lo por causa da brincadeira no terreiro de futebola? Nem pode funcionar inteligência em quem nada vê de estranho um iletrado chutador de bola receber cem vezes o salário que um professor recebe no mesmo mês. E cadê a inteligência em quem vai na onda da imprensa idiotizadora e se liga no nascimento de um bebê real onde Judas perdeu a bota? O que temos a ver com isso? Ninguém com noção de sociabilidade contestaria ser verdade que vivemos uma falsidade, e o único motivo disso é a falta do habito de meditar sobre o que se ouve e vê. Esse engessamento da capacidade de pensar é adredemente mantida pelo sistema educacional com a finalidade de se acreditar não haver necessidade de se pensar sobre a vida e os fatos com os quais nos relacionamos no dia a dia, com a finalidade de manter as pessoas afastadas da verdade de não haver na vida motivo para tanto festejamento, e pensar em coisas sérias como procurar antever sua situação na velhice. Teria de chorar na fila do hospital? No momento em que alguém que não faça parte da corriola dos ricos ou das autoridades que ainda não ficaram ricas parar para pensar na possibilidade de estar igual a estas pessoas que aparecem chorando na televisão, a partir daí o pensamento de quem teve esta lembrança girará em torno disso e acabará descobrindo ser desnecessário tudo isso. Para evitar esta descoberta é que as brincadeiras e as baixarias não permitem a elevação do pensamento, ou da espiritualidade.

Saltemos de toda essa arenga para uma demonstração prática de como podemos escapar de armadilhas com o ato simples de pensar. Para isso, tomemos duas declarações de um mesmo jornalista: Na primeira ele declara que os bancos compram estoques imensos de alimento para esconder e ganhar ainda mais dinheiro com a venda na alta produzida pela escassez. Na segunda declaração nos diz o grande jornalista que estão errados os médicos por estarem na rua em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Complementa sua declaração citando como exemplo de ética médica um inocente médico caridoso e, portanto, ignorante de sociabilidade, em cujo consultório havia um aviso de que pobre não pagava consulta. À primeira vista ambas as declarações são dignas de serem observadas porque uma pessoa que se preocupa com o povo a ponto de escrever matéria nos avisando das consequências perigosamente negativas para nós contidas nesse ato criminoso de banqueiros safados que roubam do povo dois bilhões todo mês cada banco, só pode merecer crédito social quem faz tal advertência porque a fome causa distúrbio, violência e infelicidade nas localidades mais pobres. Então, vindo de alguém com tal comportamento, certamente também estaria correta a segunda declaração, mas não é o que ocorre. A segunda declaração é falsa e segui-la impede o surgimento de uma sociedade civilizada. Um palmo de pensamento a respeito nos mostra isso. A caridade é um mal em vez de um bem. Por mais estranho que possa parecer aos inocentes, a caridade é um grande mal. Se as pessoas não concordam é porque não sabem o que está realmente por trás da caridade. Como solução para o problema social da pobreza ela é inócua haja vista que existe desde o tempo em que se escrevia a bíblia e até hoje há mãos estendidas. Na própria matéria jornalística o grande jornalista nos mostra esta realidade. Aquele médico caridoso, considerado pelos inocentes como de grandes virtudes, na velhice, precisou que o povo a quem fazia caridade tivesse de devolvê-la na forma de uma pensão vitalícia que a Câmara Municipal lhe concedeu tal a pobreza em que se via aquele médico que não cobrava consulta. O resultado danoso à sociedade de trabalho mal remunerado pode ser percebido no resultado do desprezo aos professores que se faz acompanhar de uma educação que forma seres humanos socialmente deseducados.

O mal maior da caridade, entretanto, vai além de dinheiro porque ela convence o carente de que ele é incapaz de ser outra coisa. Uma das revistas Veja ou Isto É publicou certa vez que a Tereza de Calcutá escrevera ao seu confessor dizendo-se acreditar ter sido vão o seu trabalho. Realmente foi. Já fiz referência a este fato como sendo o resultado da observação da vida por muito tempo, o que certamente lhe deu a sabedoria dos velhos que observam a vida e percebeu que a paparicação dos politiqueiros do mundo era apenas porque ela fazia o trabalho que eles deviam fazer, e isto lhes economizava tempo e dinheiro. Ainda hoje no “Rondelli” havia uma pobre inocente pedindo a outros inocentes um quilo de comida para fazer caridade. Nenhuma sociedade pode se considerar civilizada enquanto houver quem dependa de caridade para viver. Na sociedade civilizada todos tem dignidade, o que implica em dispor do poder de adquirir por si mesmo as coisas de que necessita em vez de viver da esmola de governos fantoches a anos luz do estadista. Para se perceber isso não precisa ser o rei Salomão. Qualquer inteligência mediana vê nobreza em quem provê suas necessidades por métodos próprios. Há até quem diga que preferiria roubar se viesse a depender de caridade. E já chega de prosa. Inté. 

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. veja essa Zé:

    O deputado Romário dá mais uma dentro, ao denunciar a espantosa maracutaia tramada entre o governo e a CBF: um calote de 3 bilhões em todos nós, contribuintes

    Deputado Romário, ministro do Esporte Aldo Rebelo e presidente da CBF José Maria Marin (Fotos: Lance!Press :: Roosewelt Pinheiro / EXAME.com :: Tom Dib)
    O deputado Romário (PSB-RJ), o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e presidente da CBF José Maria Marin: o Baixinho denunciou a armação para anistiar 3 bilhões de dívidas de clubes de futebol para com o governo (Fotos: Lance!Press :: Roosewelt Pinheiro / EXAME.com :: Tom Dib)
    Artigo de Luiz Garcia, publicado no jornal O Globo

    O GOL DE ROMÁRIO

    Na terça-feira passada, Romário entrou em campo. Usava, se me permitem a pobreza da imagem, não as sandálias da humildade e da timidez, mas as chuteiras do artilheiro. E fez um gol de placa.

    Denunciou ao plenário da Câmara um fato que muitos de seus colegas certamente ignoravam. E uns tantos outros fingiam ignorar — o que não é raro no mundo político. Por interesse direto, ou por contar que seus colegas façam o mesmo, quando for do seu interesse.

    Romário simplesmente contou um episódio triste do mundo do futebol profissional.

    Aqui vai: no último dia 9, ocorreu em Brasília um jantar no qual o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, foi recebido por um grupo de mais ou menos 25 deputados e senadores, para discutir um assunto que caridosamente podemos definir como cabeludo.

    Ignoro, lamentavelmente, seus nomes e partidos. A opinião pública merecia conhecê-los.

    Acontece, e a gente não sabia, que o Ministério do Esporte está preparando uma medida provisória que concederá anistia a dívidas de clubes de futebol do país inteiro, no valor de mais ou menos R$ 3 bilhões.

    É a soma do que devem ao INSS, ao Imposto de Renda e ao Fundo de Garantia — que eles simplesmente, ousadamente, não pagaram nos últimos 20 anos.

    É um dinheirão, que se explica pela soma dos juros ao longo desse tempão. Provavelmente, é o maior escândalo na história da cartolagem do esporte profissional brasileiro.

    A anistia, segundo o nosso craque — que agiu com coragem e sem nada ganhar com isso, a não ser o ódio dos mandachuvas do esporte que é a paixão do povo brasileiro — está sendo preparada pelo Ministério do Esporte.

    Em seu discurso-denúncia, Romário não revelou o que ficou acertado no jantar que reuniu o presidente da CBF e parlamentares. Ninguém falou em pagamento: discutiu-se apenas o encaminhamento da anistia.

    É uma vergonha, como poucas as que temos conhecido na vida pública brasileira. E também, vale a pena repetir, um gol de placa do nosso artilheiro.

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