A notícia
publicada no Jornal do Brasil de que se São Paulo fosse um país estaria entre
as cinquenta potências mundiais evidencia a realidade de não haver vantagem alguma
em ser potência mundial ou local uma vez que esta potencialidade nada mais é do
que riqueza material cuja construção deixa atrás de si um rastro de
infelicidades. A vida na Cidade de São Paulo só não é pior porque não pode
piorar ainda mais. O ajuntamento de riqueza decorre da falta de senso comum e
da grosseria dos brutos seres humanos ainda apegados ao tempo primitivo quando
havia escassez de comida, instinto que até hoje orienta os irracionais
fazendo-os comer com grande gula como se aquela fosse a única comida existente
no mundo. É desse modo como ainda procedem os também irracionais seres humanos
ao avançar sobre tudo que puder colocar sob seu domínio e rosnar em defesa de
suas posses infinitamente superiores às necessidades. O ser humano é o mais vil
de todos os animais. Se o cavalo bebe água suja é por não distinguir entre água
suja e limpa. Além disso, a natureza, através do “costume”, paramenta o cavalo
com proteção. Agora, um ser humano que devia ser diferente do cavalo em função
da capacidade de raciocinar, beber água misturada com bosta sabendo disso é
comportamento de brutalidade incomparável. Trata-se de aberração concordar-se
com uma quantidade de bosta na água de beber. Como ser normal beber água com
bosta? Mas é o que fazem os bois, vacas, bezerros e bezerras enquanto futuca
telefone para saber com qual “celebridade” outra “celebridade” está trepando.
Corre pelaí grande zum-zum-zum em torno de uma foto de Caetano Veloso de cueca,
enquanto as riquezas do país afundam num pântano de corrupção sem precedente e
não se encontra uma única personagem política fora do banditismo. Fortunas são
transferidas do erário para propriedade dos bichos primitivos com medo de
escassez enquanto a juventude que é a verdadeira dona da riqueza roubada
debaixo dos narizes dos jovens sem que eles se incomodem com outra coisa que
não sejam imbecilidades como fazem os imbecis. O que os bichos com forma de
gente encaram como bem-estar, a riqueza, é, na verdade, fonte de mal-estar. O
processo de produzir riqueza é desintegrador, portanto, antissocial. O estado
de degradação física e moral a que foi levado o mundo em função da febre do
ouro mostra uma espécie de maldição a rondar as riquezas. No ambiente rural onde
fui menino, contavam-se histórias de potes de ouro enterrados, mas sempre havia
referência à presença do Tinhoso rondando o local. Acreditava-se haver uma
força maligna envolvida com o achamento de tesouro enterrado. Até hoje, no meu
tempo de velho, vejo filmes relacionando tesouro e maldições sobre seus
achadores, principalmente quando envolve múmias. Elas estarão defendendo o ouro
do qual depende sua manutenção na existência que só existe na latrina que povo
tem no lugar onde gente tem cabeça. É esta mentalidade das múmias que justifica
a existência das caixas-fortes abarrotadas de ouro nos infernos fiscais. Dizem pelaí que a política é como a nuvem que muda
de forma a todo instante. Mas a vida também é assim. A partir da concepção, cada
novo segundo na vida do concebido encontra-o diferente de como era no segundo
anterior. As mudanças são necessárias e inevitáveis. Entretanto, graças à ignorância de quem não leu os Grandes Mestres do Saber, os seres humanos se apavoram ante a possibilidade da mudança da existência para
a inexistência, sem se dar conta de que a inexistência de antes de viver é a
mesma inexistência de depois de se ter vivido. A consciência da inexistência apavora tanto os
ignorantes que eles criaram a fantasias de outra vida. As mudanças trouxeram o
mundo a uma realidade que não comporta mais espaço para as caixas-fortes abarrotadas
de ouro apenas para deleite de Tios Patinhas porque há tanta gente dependendo
desse ouro que se ele não aparecer, terá de ser buscado pelas multidões que já estão de olho nele. Aquele ouro deve ser trocado por
bem-estar coletivo porque à coletividade pertence. Como ninguém
morre de fome sem antes matar, pode ser terrivelmente desastroso tanto o hábito
de esconder a riqueza quanto o de gastá-la perdulariamente construindo Torres
Gêmeas para serem postas abaixo e serem substituídas por outra construção
suntuosa, além de desafiar a fome dos famintos construindo réplica da Torre de
Babel. O poder maligno que ronda todo monte de ouro são os fantasmas dos sacrificados
na tarefa de cavá-lo. Até hoje ainda se usa a prática de construção de locais
secretos para guardar ouro, matando os trabalhadores que os construíram para
garantir o segredo. Estes injustiçados balançam correntes no sono de quem causa
seus sofrimentos. Todo dono de um montão de ouro não abre mão da fé em Deus.
Garantem e assinam embaixo que roubar apenas uma partícula do seu ouro é pecado
que Deus castiga, mas a ninguém parece ocorrer a quantidade de pecados
cometidos para se ajuntar um montão de ouro e muito menos ainda a possibilidade
de ser Deus uma criação destinada a ajudar o ajuntador a proteger seu ouro. Ao
lado da Senzala e da Casa Grande, havia sempre uma capela para manter viva a
lembrança do pecado e do castigo se mijar fora do pinico. Entretanto, deixar
crianças se tornarem bandidos e metê-las na cadeia nada significa para os
esfarrapados espirituais que lotam igrejas e babam por ouro.
Vive-se um
mundo que não existe na realidade (nada a ver com o filósofo do Mundo como
Vontade e Representação, para o qual o mundo só existe na imaginação). O mundo
existe, sim, e o fato de estamos nele e termos fome e sede dispensa
especulações desse tipo e nos mostra a necessidade de cuidar dele em vez de
destruí-lo em troca de uma riqueza que se bem pensada, não compensa. Portanto,
usar o ouro escondido para limpar rios, plantar árvores, produzir comida sadia
no lugar da produzida pelo agribiuzinesse ajuntador de ouro, proporcionar
assistência à saúde no lugar dos planos de saúde ajuntadores de ouro, educação
que ensine como viver em sociedade para substituir o sistema deseducacional
ajuntador de ouro, desmontar o sistema falso de segurança que na realidade nada
mais é do que forma de ajuntar ouro vendendo armas. Os países que cometeram
crimes monstruosos e enriqueceram (não se enriquece sem cometer crimes), são
tão infelizes que dispõem de armas poderosas para rosnar em defesa de sua
riqueza manchada de sengue e sofrimentos que incluem lançar bombas sobre
crianças. A notícia da riqueza de São Paulo confirma a vingança dos fantasmas
dos sacrificados pelos colonizadores; pelos jesuítas; pelas Entradas e
Bandeiras; pelos que despencam das construções lembrados apenas pelo nosso
admirável Chico; pelas vítimas do trânsito e balas perdidas; pelos infelizes
amontoados em porões medievais a título de prisões; pelas crianças
transformadas em bandidos; pelas doenças causadas pelo ar empesteado, água
podre e comida envenenada; por corolário, pelo nervosismo decorrente do
corre-corre atrás de ouro, razão de outra notícia também do valoroso blog
Outras Palavras dando conta de que o número de suicídios no mundo cresceu
sessenta por cento nas últimas décadas, provenientes de fatores como
insegurança social e, veja esta senhor Kissinger: PRESSÕES COMPETITIVAS que o
senhor e sua feiura física e espiritual recomendam como melhor modo de se
viver. Inté.
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