sexta-feira, 17 de julho de 2015

ARENGA 136


A notícia publicada no Jornal do Brasil de que se São Paulo fosse um país estaria entre as cinquenta potências mundiais evidencia a realidade de não haver vantagem alguma em ser potência mundial ou local uma vez que esta potencialidade nada mais é do que riqueza material cuja construção deixa atrás de si um rastro de infelicidades. A vida na Cidade de São Paulo só não é pior porque não pode piorar ainda mais. O ajuntamento de riqueza decorre da falta de senso comum e da grosseria dos brutos seres humanos ainda apegados ao tempo primitivo quando havia escassez de comida, instinto que até hoje orienta os irracionais fazendo-os comer com grande gula como se aquela fosse a única comida existente no mundo. É desse modo como ainda procedem os também irracionais seres humanos ao avançar sobre tudo que puder colocar sob seu domínio e rosnar em defesa de suas posses infinitamente superiores às necessidades. O ser humano é o mais vil de todos os animais. Se o cavalo bebe água suja é por não distinguir entre água suja e limpa. Além disso, a natureza, através do “costume”, paramenta o cavalo com proteção. Agora, um ser humano que devia ser diferente do cavalo em função da capacidade de raciocinar, beber água misturada com bosta sabendo disso é comportamento de brutalidade incomparável. Trata-se de aberração concordar-se com uma quantidade de bosta na água de beber. Como ser normal beber água com bosta? Mas é o que fazem os bois, vacas, bezerros e bezerras enquanto futuca telefone para saber com qual “celebridade” outra “celebridade” está trepando. Corre pelaí grande zum-zum-zum em torno de uma foto de Caetano Veloso de cueca, enquanto as riquezas do país afundam num pântano de corrupção sem precedente e não se encontra uma única personagem política fora do banditismo. Fortunas são transferidas do erário para propriedade dos bichos primitivos com medo de escassez enquanto a juventude que é a verdadeira dona da riqueza roubada debaixo dos narizes dos jovens sem que eles se incomodem com outra coisa que não sejam imbecilidades como fazem os imbecis. O que os bichos com forma de gente encaram como bem-estar, a riqueza, é, na verdade, fonte de mal-estar. O processo de produzir riqueza é desintegrador, portanto, antissocial. O estado de degradação física e moral a que foi levado o mundo em função da febre do ouro mostra uma espécie de maldição a rondar as riquezas. No ambiente rural onde fui menino, contavam-se histórias de potes de ouro enterrados, mas sempre havia referência à presença do Tinhoso rondando o local. Acreditava-se haver uma força maligna envolvida com o achamento de tesouro enterrado. Até hoje, no meu tempo de velho, vejo filmes relacionando tesouro e maldições sobre seus achadores, principalmente quando envolve múmias. Elas estarão defendendo o ouro do qual depende sua manutenção na existência que só existe na latrina que povo tem no lugar onde gente tem cabeça. É esta mentalidade das múmias que justifica a existência das caixas-fortes abarrotadas de ouro nos infernos fiscais.  Dizem pelaí que a política é como a nuvem que muda de forma a todo instante. Mas a vida também é assim. A partir da concepção, cada novo segundo na vida do concebido encontra-o diferente de como era no segundo anterior. As mudanças são necessárias e inevitáveis. Entretanto, graças à ignorância de quem não leu os Grandes Mestres do Saber, os seres humanos se apavoram ante a possibilidade da mudança da existência para a inexistência, sem se dar conta de que a inexistência de antes de viver é a mesma inexistência de depois de se ter vivido. A consciência da inexistência apavora tanto os ignorantes que eles criaram a fantasias de outra vida. As mudanças trouxeram o mundo a uma realidade que não comporta mais espaço para as caixas-fortes abarrotadas de ouro apenas para deleite de Tios Patinhas porque há tanta gente dependendo desse ouro que se ele não aparecer, terá de ser buscado pelas multidões que já estão de olho nele. Aquele ouro deve ser trocado por bem-estar coletivo porque à coletividade pertence. Como ninguém morre de fome sem antes matar, pode ser terrivelmente desastroso tanto o hábito de esconder a riqueza quanto o de gastá-la perdulariamente construindo Torres Gêmeas para serem postas abaixo e serem substituídas por outra construção suntuosa, além de desafiar a fome dos famintos construindo réplica da Torre de Babel. O poder maligno que ronda todo monte de ouro são os fantasmas dos sacrificados na tarefa de cavá-lo. Até hoje ainda se usa a prática de construção de locais secretos para guardar ouro, matando os trabalhadores que os construíram para garantir o segredo. Estes injustiçados balançam correntes no sono de quem causa seus sofrimentos. Todo dono de um montão de ouro não abre mão da fé em Deus. Garantem e assinam embaixo que roubar apenas uma partícula do seu ouro é pecado que Deus castiga, mas a ninguém parece ocorrer a quantidade de pecados cometidos para se ajuntar um montão de ouro e muito menos ainda a possibilidade de ser Deus uma criação destinada a ajudar o ajuntador a proteger seu ouro. Ao lado da Senzala e da Casa Grande, havia sempre uma capela para manter viva a lembrança do pecado e do castigo se mijar fora do pinico. Entretanto, deixar crianças se tornarem bandidos e metê-las na cadeia nada significa para os esfarrapados espirituais que lotam igrejas e babam por ouro.

Vive-se um mundo que não existe na realidade (nada a ver com o filósofo do Mundo como Vontade e Representação, para o qual o mundo só existe na imaginação). O mundo existe, sim, e o fato de estamos nele e termos fome e sede dispensa especulações desse tipo e nos mostra a necessidade de cuidar dele em vez de destruí-lo em troca de uma riqueza que se bem pensada, não compensa. Portanto, usar o ouro escondido para limpar rios, plantar árvores, produzir comida sadia no lugar da produzida pelo agribiuzinesse ajuntador de ouro, proporcionar assistência à saúde no lugar dos planos de saúde ajuntadores de ouro, educação que ensine como viver em sociedade para substituir o sistema deseducacional ajuntador de ouro, desmontar o sistema falso de segurança que na realidade nada mais é do que forma de ajuntar ouro vendendo armas. Os países que cometeram crimes monstruosos e enriqueceram (não se enriquece sem cometer crimes), são tão infelizes que dispõem de armas poderosas para rosnar em defesa de sua riqueza manchada de sengue e sofrimentos que incluem lançar bombas sobre crianças. A notícia da riqueza de São Paulo confirma a vingança dos fantasmas dos sacrificados pelos colonizadores; pelos jesuítas; pelas Entradas e Bandeiras; pelos que despencam das construções lembrados apenas pelo nosso admirável Chico; pelas vítimas do trânsito e balas perdidas; pelos infelizes amontoados em porões medievais a título de prisões; pelas crianças transformadas em bandidos; pelas doenças causadas pelo ar empesteado, água podre e comida envenenada; por corolário, pelo nervosismo decorrente do corre-corre atrás de ouro, razão de outra notícia também do valoroso blog Outras Palavras dando conta de que o número de suicídios no mundo cresceu sessenta por cento nas últimas décadas, provenientes de fatores como insegurança social e, veja esta senhor Kissinger: PRESSÕES COMPETITIVAS que o senhor e sua feiura física e espiritual recomendam como melhor modo de se viver. Inté.   

 

   

 

 

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