ARENGA 141
Que motivos
terão os papagaios de microfone e os escritores assalariados para odiar Cuba e
Fidel, agora que os Estados Unidos não os odeiam mais? Devem estar de sorriso
amarelo os detratores do socialismo. Pode-se até ser contra o socialismo. O que
não pode, sob pena de perder a condição de nobreza conferida pela capacidade de
pensar, é ser a favor do capitalismo como fazem a papagaiada de microfone e escritores assalariados por ser um sistema desumano que ignora as pobres
criancinhas negras de olhos tristes servindo de banquete para peixes tentando
fugir da fome. Quem afirma valer a pena viver no regime capitalista é por ser
completamente ignorante ou mal intencionado por ser desumana a cultura
de considerar haver pessoas que não precisam comer. Esta será a causa do fim do
capitalismo. Com permissão do mestre Nietzsche, é preciso escrever em todos os
muros do mundo que os famintos não haverão de se contentar em ser famintos
eternamente. Não é por falta de exemplo que os embevecidos com o gosto do poder
que a riqueza confere continuam fazendo pose na revista Forbes. Quando meu
pensamento rodopia em torno do assunto capitalismo/socialismo, me ocorrem duas
lembranças do tempo de menino. Uma era na fazenda, quando um pintinho corria
desesperadamente perseguido por vários outros pintinhos dispostos a partilhar
da minhoca que o primeiro levava no bico, mas que ele queria saborear sozinho.
A segunda lembrança é a figura de dois burrinhos amarrados cada um na ponta da
mesma corda que os impedia de alcançar e comer cada um deles um montinho de
capim que ficava separado do outro por uma distância maior que o tamanho da
corda, obtendo sucesso quando mudaram o comportamento e ambos comeram um, depois
o outro montinho de capim. Se não mais ensinam às crianças a necessidade e a
vantagem da cooperação e lhes é ensinado a vantagem da competição, evidente que
elas se tornam adultos acreditando haver vantagem em “levar vantagem”, cujo
resultado é o que temos à volta.
O que tem
resultado do capitalismo é a fome que força o deslocamento dos famintos. No
livro Geografia da Fome, Josué de Castro lembra que o pensador Espinosa via a
fome como uma força motriz que impulsiona a evolução humana. É ela, pois, a
fome, que está impulsionando os famintos mundo a fora em busca da reparação da
injustiça contra eles cometida por seus colonizadores, os mesmos que agora
constroem muros e atiram neles em vez de reconhecer o mal que lhes fizeram. Os
poucos que preferem a verdade são preteridos pela massa nojenta de povo. Cadê o
doutor Joaquim Barbosa? E a senadora Heloisa Helena, aquela que disse na tampa
do nariz dos senadores que eles não merecem respeito? Já foi visto algum
político dizendo tamanha verdade? Pois ela, numa demonstração de sincera
ligação com a sociedade, disse. E por defender a sociedade de povo, foi
esquecida por ele, que preferiu ser representado por Collor. Agora, digaí, meu,
entre quem exige respeito em relação ao povo e outro que exige do povo vários
carros de luxo, como preferir o derradeiro? A resposta é que se trata de povo.
E a ministra Eliana Calmon, prá que maior demonstração de sinceridade e vontade
de arrumar esta porcaria de justiça brasileira? Pois o povo não a conduziu ao
posto de senadora.
É este
sistema esquisito de valorizar o néscio e desprezar o capaz, a exemplo do
endeusamento de inúteis “famosos” e “celebridades”, em tal absurdo se
fundamenta o monstruoso sistema capitalista sem futuro, por mais esforço que se
faça para convencer o contrário. Está na imprensa a notícia de que o
historiador econômico Richard Smith termina seu mais recente livro “The God
That Failed” (O Deus que Fracassou), deixando no ar uma sentença: “ou nos
livramos do capitalismo, ou o capitalismo se livra de todos nós. E em pouco
tempo”. Taí, pois, quem sabe o que fala a confirmar o que fala quem não sabe o que fala. Inté.
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