quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

ARENGA 204




Parece indiscutível a veracidade dos milagres. Se não, como explicar que Sílvio Santos é bilionário por distribuir presentes, que a família de Lula é bilionária com renda proveniente de palestras (o que se pode ouvir de Lula?), e que o leite das crianças pobres seja transformado em automóvel Lamborghini e contas nos infernos fiscais? O vínculo entre estes acontecimentos e os milagres é que como estes, também aqueles, para o povo, não há necessidade de explicação. Basta aceitá-los e pronto. Um dia, infelizmente só demasiado tarde, a juventude perceberá ser a vida diferente do que ela pensava ser. A vida não é para ser apenas simplesmente vivida como fazem os bichos. Nós somos diferentes porque temos uma cabeça pensante. Por que então não usá-la? Fazendo uso da capacidade de pensar e concluir, perceber-se-á haver algo de muito errado em conduzir a vida a um ambiente tão mesquinho espiritualmente a ponto de se considerar peitos, bundas e bíceps motivo para ser célebre e famoso. Motivo para isso tem que ser mais relevante do que carne porque ela secará inevitavelmente e quando isso acontecer restarão pelancas. Como pelancas não são admiráveis, restará frustração e um vazio que tornarão a vida desagradável, diferentemente de quando se tem a mente elevada espiritualmente, o que se faz com o hábito de boas leituras porque a boa leitura traz conhecimento e o conhecimento mostra não haver motivo para vazios e angústias como o medo da morte. Pelo fato ter aprendido um quase nada dos ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber, este ateu que tanta levar aos jovens inocentes um pouco da experiência adquirida em oitenta anos de observação da vida escreveu à mão um pedido aos familiares para não permitir impor-lhe sobrevida de UTI caso venha se encontrar impossibilitado de tomar decisões.

Os divertimentos são tão necessários quanto as reflexões, o que significa reconhecer o fato de não ser a vida uma eterna brincadeira, embora nem de longe encará-la com o exagero dos filósofos pessimistas citados por Henry Thomas na página 131 de História da Raça Humana. Afirmavam aqueles pensadores ser a vida um sonho amargo do qual quanto mais depressa acordar, melhor. Um deles, Hegésias, ensinava aos jovens que a melhor coisa que eles tinham a fazer era o suicídio. Tanto não é assim que ele morreu de morte natural aos oitenta anos. Agiriam com maior sabedoria a juventude se buscasse uma vida saudável entes de qualquer outra coisa. Como não pode haver vida saudável fora de um ambiente agradável, e como não pode haver outro tipo de ambiente senão desagradável no corre-corre necessário à disputa por dinheiro em excesso, resulta na necessidade de substituir o atual modo de vida de corre-corre por um menos idiota.

Confúcio afirmava que se o governo for bom o povo será bom. Eis aí um mote sobre o qual voltar o pensamento dará excelente resultado. Realmente, sendo necessário haver governo, e sendo o governo que traça o caminho por onde caminhará o povo, tendo-se um governo capaz de orientar o povo num bom caminho, ter-se-á um povo espiritualmente desenvolvido, portanto, harmonioso e educado, portanto, bom. Assim, juventude, que tal tirar o pensamento de “celebridades”, “famosos”, igreja, axé, futebola, e empregá-lo na tarefa de fazer um governo bom? Inté.

 
 
 

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