sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ARENGA 213




Diminui a olhos vistos a crença na eternidade da conformação dos miseráveis com a miséria. Do mesmo modo como foram para o brejo muitas das mentiras da religião, como prova o fato de eu não poder ser torrado por bradar que Deus só existe na cabeça de ignorantes da realidade da vida, assim também acontecerá com todos os costumes, usos e práticas dos quais resultem mais miséria para a massa bruta dos Sem Nada que já não aceitam com tanta passividade a canga que os que tudo vinham lhes pondo no cangote sem reclamação. As coisas mudam de modo visível. O descontentamento afasta o medo e os descontentes tacam fogo em ônibus, enfrentam a polícia, hostilizam os políticos acintosamente de modo que eles já não têm condições alguma de fazer pose onde haja povo, mesmo porque não dá para ser posudo debaixo de vaias e tapas. Ouvi no boteco que em certa reunião social ao ser apresentada a um deputado, a apresentada disse que ouvira falar dele, ao que o deputado se apressou em dizer que ninguém provava nada do que diziam os adversários políticos. A única coisa que ainda segura a barra da insatisfação é a eficiência do trabalho dos papagaios de microfone, dos escritores assalariados e da religião. Através de manobras canhestras destas instituições os donos da sociedade conseguem fazer da massa um aglomerado de escravos que construam suas riquezas felizes da vida e muito agradecidos a Deus por lhe conceder a graça de se escravizar através de um emprego que lhe garanta satisfazer a necessidade primária de comer.  A falsa realidade em que estamos mergulhados acabará por se desmoralizar ante as evidências de insustentabilidade como os gastos fabulosos na manutenção de uma rede de caríssimos templos religiosos e políticos e imensa plêiade de servidores de Deus e politiqueiros a parasitar a sociedade.

É tudo mentira e hipocrisia na sociedade como, por exemplo, a pieguice do “felizes para sempre”, “eu te amo” “meu amor”, “só vou se você for” entre casais, tão comuns nos filmes românticos. A vida foi transformada numa grande farsa. Os seres humanos ainda trazem consigo o ranço da animalidade dos primeiros tempos de promiscuidade sexual cuja influência anula a convenção social do monoganismo cuja barra as pieguices tentam segurar. Não é de uma hora para outra no curso do desenvolvimento que os seres humanos, principalmente o macho predominante, queira ou não queiram as fêmeas, porque o macho não precisava pedir permissão à fêmea para montar sobre ela, que não recusava por ser o macho mais forte e não ter motivo para conter sua libido constante, diferentemente das espécies outras em que só é despertada no macho pelo cio da fêmea. Além disso, acreditava-se que o relacionamento sexual da fêmea com vários machos daria à cria as qualidades deles, razão que levava até hoje à preferência das fêmeas machos mais inteligentes, mais fortes, enfim, que tenham as qualidades que elas desejavam para seu filho. Aliás, não precisa ir tão longe para encontrar a promiscuidade. Basta ligar a televisão nos programas BBB, Fazenda e novelas. A desintegração do núcleo social, a família, demonstra a realidade de ter começado a desmoronar o sistema esquisito de uma sociedade na qual é banalizado o roubo a tal ponto que escritórios de advogados compartilham legalmente com os assaltantes o produto do assalto. Enquanto isso, a juventude futuca telefone para avisar as rádios onde há uma poça d’água na rua. Inté.

 
 
 


Nenhum comentário:

Postar um comentário