sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ARENGA 209




Há muito se fala de governo e povo, duas faces da moeda denominada sociedade. Entre os gregos antigos surgiram uns caras diferentes que não se conformavam com esse negócio de não precisar pensar e começaram a especular de que era feito o mundo. Houve quem imaginasse que tudo tinha por base a água, outro afirmava que era o fogo, tendo cada um sua justificativa para suas conclusões. Não é certo a inexistência de vida humana onde não há calor? Afirmavam os adeptos da teoria do fogo. Entretanto, a ciência moderna não deve dar risadas daqueles primeiros pensadores porque o importante é que exerceram a nobre atividade de pensar, coisa que a humanidade até hoje não faz. Foram surgindo outros interessados no assunto, sendo de encabular que um deles, um malandrão chamado Demócrito, afirmou não ser nada desse negócio que o pessoal falava e, por incrível que pareça, o danado se aproximou bastante da realidade do átomo, o que é extraordinário porque naquela época nem sequer havia óculos. No meio desse povo pensador surgiu uma teoria interessante que usou o nome de cidade em sua língua, “pólis” para dar origem à palavra política. Muito bem pensado porque depois de quebrar a cabeça vivendo isolados e sendo mais caçados pelas feras do que caçadores, os seres humanos se ajuntaram e foi desse ajuntamento que surgiram tanto as cidades quanto a política. Um deles, certa vez, afirmou que o homem é um animal político. Para quem é curto de pensamento como os frequentadores de igreja, axé e futebola tal política se limita à ideia de vereador, prefeito ou deputado, mas a coisa tem sentido mais amplo. Exímios pensadores, circunstância que historiadores ligam à conformação da paisagem grega que estimulava o pensamento, a ideia de cidade e o ajuntamento de pessoas levou os caras bons de raciocínio à conclusão de que lugar onde se agrupam as pessoas necessita ser administrado e de “pólis” (cidade) lugar onde junta muita gente tiraram “política” para significar tanto a administração do grupo quanto a natureza gregária que dá origem ao inter-relacionamento humano que força a existência dos grupos que, inevitavelmente, precisam ser administrados para evitar balbúrdia. Espantosamente, esta sábia conclusão foi estupidamente refutada e hoje escritores que escrevem livros em troca de dinheiro afirmam que o melhor sistema de viver é o individualismo do qual resulta o sistema capitalista baseado na lei da selva onde o mais fraco sucumbe ante o poder do forte. Esta brutalidade dá direito a que pessoas sem noção de sociabilidade façam pose na revista Forbes para fazer bonito pelo fato de ter sido capaz de tomar muita coisa das outras pessoas.

A administração pública ou política sempre considerou erradamente governo e povo como duas entidades distintas e esta é a causa de todos os descompassos porque povo e governo constituem uma realidade só. Enquanto o povo se limitar apenas a fornecer os recursos para as despesas, as dificuldades vividas no tempo do primitivismo leva as pessoas que exercem o governo a lançar mão deles em detrimento das necessidades sociais. Desde que se tem notícia de governantes é morando em palácios, cercados de esplendoroso luxo e desperdício, exorbitância de função à qual o povo sempre foi indiferente. Enquanto o povo ficar esperando que o governo resolva seus problemas ele estará, ó, top, top (saudades do Fradinho e do Henfil). O Livro da Política, da Editora Globo, elenca mais de cem citações de pensadores sobre a questão que envolve as relações povo/governo. Entre estas, a que foi feita pelo pensador Han Fei Tzu parece estar sendo dirigida a nós brasileiros: “Se maus ministros desfrutam de segurança e lucros, então é o começo do fim”. A outra observação, de Karl Marx, contém a fórmula mágica que transforma o mundo cão em mundo são: “Os filósofos tem apenas observado o mundo. A questão, porém, é transformá-lo”. É aqui o atoleiro que segura o carro. O medo do novo cria o apego ao velho e impede a transformação, daí o tradicionalismo bolorento que segura esta situação insustentável em que vive a humanidade. É de fazer vergonha uma juventude tão imprestável que se submete a ser liderada por ideias mumificadas. Se não são tão tolos como os do século passado que enfrentaram metralhadoras com estilingues e morreram, são incapazes de ações criativas porque ações inteligentes dispensam a violência da qual só resulta mais sofrimentos. Escolher líderes verdadeiros é revolução suficiente para criar uma sociedade civilizada. Inté.  

 
 
 
       




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