Há muito se
fala de governo e povo, duas faces da moeda denominada sociedade. Entre os
gregos antigos surgiram uns caras diferentes que não se conformavam com esse
negócio de não precisar pensar e começaram a especular de que era feito o
mundo. Houve quem imaginasse que tudo tinha por base a água, outro afirmava que
era o fogo, tendo cada um sua justificativa para suas conclusões. Não é certo a
inexistência de vida humana onde não há calor? Afirmavam os adeptos da teoria
do fogo. Entretanto, a ciência moderna não deve dar risadas daqueles primeiros
pensadores porque o importante é que exerceram a nobre atividade de pensar,
coisa que a humanidade até hoje não faz. Foram surgindo outros interessados no
assunto, sendo de encabular que um deles, um malandrão chamado Demócrito,
afirmou não ser nada desse negócio que o pessoal falava e, por incrível que
pareça, o danado se aproximou bastante da realidade do átomo, o que é
extraordinário porque naquela época nem sequer havia óculos. No meio desse povo
pensador surgiu uma teoria interessante que usou o nome de cidade em sua
língua, “pólis” para dar origem à palavra política. Muito bem pensado porque
depois de quebrar a cabeça vivendo isolados e sendo mais caçados pelas feras do
que caçadores, os seres humanos se ajuntaram e foi desse ajuntamento que
surgiram tanto as cidades quanto a política. Um deles, certa vez, afirmou que o
homem é um animal político. Para quem é curto de pensamento como os frequentadores
de igreja, axé e futebola tal política se limita à ideia de vereador, prefeito
ou deputado, mas a coisa tem sentido mais amplo. Exímios pensadores,
circunstância que historiadores ligam à conformação da paisagem grega que
estimulava o pensamento, a ideia de cidade e o ajuntamento de pessoas levou os
caras bons de raciocínio à conclusão de que lugar onde se agrupam as pessoas
necessita ser administrado e de “pólis” (cidade) lugar onde junta muita gente
tiraram “política” para significar tanto a administração do grupo quanto a
natureza gregária que dá origem ao inter-relacionamento humano que força a
existência dos grupos que, inevitavelmente, precisam ser administrados para
evitar balbúrdia. Espantosamente, esta sábia conclusão foi estupidamente refutada
e hoje escritores que escrevem livros em troca de dinheiro afirmam que o melhor
sistema de viver é o individualismo do qual resulta o sistema capitalista
baseado na lei da selva onde o mais fraco sucumbe ante o poder do forte. Esta
brutalidade dá direito a que pessoas sem noção de sociabilidade façam pose na
revista Forbes para fazer bonito pelo fato de ter sido capaz de tomar muita
coisa das outras pessoas.
A administração
pública ou política sempre considerou erradamente governo e povo como duas entidades
distintas e esta é a causa de todos os descompassos porque povo e governo
constituem uma realidade só. Enquanto o povo se limitar apenas a fornecer os
recursos para as despesas, as dificuldades vividas no tempo do primitivismo
leva as pessoas que exercem o governo a lançar mão deles em detrimento das
necessidades sociais. Desde que se tem notícia de governantes é morando em
palácios, cercados de esplendoroso luxo e desperdício, exorbitância de função à
qual o povo sempre foi indiferente. Enquanto o povo ficar esperando que o
governo resolva seus problemas ele estará, ó, top, top (saudades do Fradinho e
do Henfil). O Livro da Política, da Editora Globo, elenca mais de cem citações
de pensadores sobre a questão que envolve as relações povo/governo. Entre
estas, a que foi feita pelo pensador Han Fei Tzu parece estar sendo dirigida a
nós brasileiros: “Se maus ministros desfrutam de segurança e lucros,
então é o começo do fim”. A outra observação, de Karl Marx, contém a fórmula
mágica que transforma o mundo cão em mundo são: “Os
filósofos tem apenas observado o mundo. A questão, porém, é transformá-lo”. É aqui o
atoleiro que segura o carro. O medo do novo cria o apego ao velho e impede a
transformação, daí o tradicionalismo bolorento que segura esta situação
insustentável em que vive a humanidade. É de fazer vergonha uma juventude tão
imprestável que se submete a ser liderada por ideias mumificadas. Se não são
tão tolos como os do século passado que enfrentaram metralhadoras com estilingues
e morreram, são incapazes de ações criativas porque ações inteligentes dispensam
a violência da qual só resulta mais sofrimentos. Escolher líderes verdadeiros é
revolução suficiente para criar uma sociedade civilizada. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário