domingo, 15 de julho de 2018

ARENGA 501


Palavras são o instrumento de produzir a comunicação com a qual a opinião pública é manipulada a ponto de fazer com que adultos tenham o mesmo comportamento de crianças. Do ponto de vista da maturidade intelectual que dignifica o homem, nada mais ridículo do que adultos, como crianças, ante o resultado de um jogo de futebola, se emocionar a ponto de ir às lágrimas e sentir orgulho por vestir uma camisa do tipo da que veste o jogador, marionete manipulada pelas Forças Ocultas que a Lava Jato principia a desocultar ao trazer a público o conluio entre empresários e os falsos líderes. O Grande Mestre do Saber indiano, Krishnamurti, certamente por perceber a facilidade com que o cérebro pode ser conduzido e o perigo decorrente desta condução em função da maldade humana, recomendou não só a necessidade de evitar qualquer tipo de liderança, mas também que só por meio da mudança nos indivíduos será possível haver mudança na sociedade. Como os indivíduos permanecem na condição estúpida de povo, os falsos líderes, através de um séquito de baba-ovos ou papagaios de microfone, impede a mudança necessária à existência da mudança que tornasse sua vida capaz de evitar os sofrimentos evitáveis tais como uma velhice chorosa nos corredores dos hospitais. Efetivamente, o mundo estará cada vez pior enquanto os indivíduos, como robôs, continuarem sendo manipulados por interesses inconfessáveis de falsos líderes políticos, na verdade marionetes dos brutamontes espirituais, verdadeiros monstros sedentos de riqueza que abominam a palavra sociabilidade, embora obrigados a viver em sociedade. É, enfim, através de palavras que os falsos líderes do mundo convencem a massa bruta de povo de estar bem em sua condição de massa bruta. Ante tamanha importância, a palavra deve ser usada com a mesma precisão com que os profissionais da saúde e da culinária usam o bisturi e os condimentos. Entretanto, para desgraça da humanidade, que embora na desgraça acha-se feliz, não é o que acontece. A palavra é usada para deformar ou esconder a verdade e substituir a realidade por falsidades. A falta de sintonia entre a palavra e a realidade está presente até mesmo nos melhores livros. O capítulo segundo do livro Mitologia, de Thomas Bulfinch, por exemplo, apesar de ser um deleite do ponto de vista do esclarecimento da espiritualidade dos inocentes povos antigos, principia com as seguintes palavras: “A criação do mundo é um problema que, muito naturalmente, desperta a curiosidade do homem, seu habitante. OS ANTIGOS PAGÃOS, QUE NÃO DISPUNHAM, SOBRE O ASSUNTO, DAS INFORMAÇÕES DE QUE DISPOMOS, PROCEDENTES DAS ESCRITURAS, tinham sua própria versão sobre o acontecimento, que era a seguinte:” Antes de serem criados o mar, a terra e o céu, todas as coisas apresentavam um aspecto a que se dava o nome de Caos. Uma informe e confusa massa, mero peso morto, na qual, contudo, jaziam latentes as sementes da coisas. A terra, o mar, e o ar estavam todos misturados; assim, a terra não era sólida, o mar não era líquido e o ar não era transparente. Deus e a Natureza intervieram finalmente e puseram fim a essa discórdia, separando a terra do mar e o céu de ambos. Sento a parte ígnea a mais leve, espalhou-se e formou o firmamento; o ar colocou-se em seguida, no que diz respeito ao peso e ao lugar. A terra, sendo a mais pesada, ficou para baixo, e a água ocupou o ponto inferior, fazendo-a flutuar. Nesse ponto, um deus – não se sabe qual – tratou de empregar seus bons ofícios para arranjar e dispor as coisas na Terra. Determinou aos rios e lagos seus lugares, levantou montanhas, escavou vales, distribuiu os bosques, as fontes os campos férteis e as áridas planícies, os peixes tomaram posse do mar, as aves, do ar, e os quadrúpedes, da terra. Tornara-se necessário, porém, um animal mais nobre, e foi feito o homem. Não se sabe se o Criador o fez de materiais divinos, ou se na Terra, há tão pouco tempo separada do céu, ainda havia algumas sementes celestiais ocultas. Prometeu tomou um pouco dessa terra e, misturando-a com água, fez o homem à semelhança dos deuses”. As palavras escritas com letras maiúsculas fazem crer que as informações provenientes das Escrituras são capazes de explicar o fenômeno da Criação, quando, na verdade, a explicação das Escrituras segundo a qual as coisas passaram a existir porque Deus mandou que elas existissem, o que teria ocorrido há cerca de seis mil anos apenas, é uma fantasia tão fantasiosa quanto a explicação dos antigos pagãos, e mais cedo ou mais tarde a ciência acabará por torná-la objeto da curiosidade literária apenas, do mesmo modo como é hoje a Mitologia Grega. Dia haverá em que se chegará à realidade de ser menos importante saber sobre a origem do mundo do que saber o motivo pelo qual ele é tão infeliz.

Os raros seres humanos que perceberam estar a vida sendo vivida de modo equivocado e que se dispuseram a pregar melhor forma de vida, paz e irmandade entre os brutos seres humanos, perderam seu tempo. Todo seu esforço teve o mesmo resultado que teria o esforço de alguém que se embrenhasse selva a dentro objetivando ensinar boas maneiras às feras. O estado de REFINADA SELVAGERIA que na página 403 do livro História da Raça Humana o historiador Henry Thomas atribui à Inglaterra, França e Alemanha do século XVII, continua existindo e existirá enquanto a humanidade se mantiver na condição de meros espectadores de um destino decidido por falsos líderes temporais e espirituais, comportamento condenado pelo também Grande Mestre do Saber Krishnamurti, aboletados em suntuosos palácios, constituindo uma corte tão cara quanto inútil, cujo custo seria suficiente para que não houvesse um só faminto no mundo. O povo ainda se constitui numa massa tão bruta que embora fornecendo a seus falsos líderes recursos para as despesas com a administração pública, quando recebe deles algo como uma simples ponte que lhes permite passar para o outro lado do rio sem entrar n’água, tal benefício é recebido como se fosse atitude de filantropia, com discursos, foguetório e pavoneamento em vez de mera obrigação, a mesma que tem qualquer empregado de apresentar a seu empregador a tarefa devidamente cumprida, como faz também o aluno ante o professor.

Para que o ser humano mereça a superioridade que ele se atribui em relação aos irracionais seria necessário ter comportamento diferenciado do comportamento dos bichos, o que está longe de ser realidade. Embora tenha engendrado processos que melhoraram a tarefa de viver, continua incapaz de viver de modo agradável. Se um quer ler, dormir, ou ter a paz necessária para amargar algum dos infortúnios com os quais a natureza é pródiga em brindar suas criaturas, outro quer festa e foguetório. As guerras são a materialização da desarmonia entre os seres humanos. Desarmonia tão grande que os torna inferiores aos irracionais que só matam porque a natureza não lhes dá outra opção. Na página 23 de um dos meus livros de cabeceira, História da Raça Humana, o historiador Henry Thomas, depois de discorrer sobre a pré-história da raça humana, resume da seguinte maneira a conclusão a que chegou: “vemos assim, neste breve esboço da pré-história, que, há vinte e cinco mil anos, os nossos antepassados semelhantes ao macaco já possuíam muitas das virtudes e quase todos os vícios que caracterizam o homem nos tempos atuais. No que diz respeito às virtudes, progredimos pouco; e quanto aos vícios, ainda os conservamos, graças à tenaz ignorância da raça humana”. E, mais adiante, na página 24: “Partindo de um plano pouco mais elevado que o dos macacos, o homem pré-histórico relutante dos Períodos Glaciais, apareceu há cerca de dez ou doze mil anos, num plano que se achava muito pouco abaixo daquele que ocupa, em média, o homem atual”. Pouco depois, na página 25: “O homem é um aluno terrivelmente atrasado na escola da vida”.

Desta forma, que a juventude saia do seu estado de torpeza mental e reflita se não estaria melhor o mundo de seus descendentes se os papagaios de microfone que papagaiam sobre Mercado, Sistema Financeiro, Empresários, Consumo, PIB, Cotação de Moedas, Copa do Mundo, Fórmula Um, fossem substituídos por pensadores dedicados a pensar sobre a vida, entre os quais Sócrates, Platão e Aristóteles, como acontecia na antiga cidade grega de Atenas. Se as lições daqueles pensadores não foram aprendidas, o historiador Henry Thomas explicou o motivo quando disse ser o homem um aluno terrivelmente atrasado na escola da vida. Duas ilustrações, uma na página 329 do livro O Livro da Economia, editora Globo Livros, e outra na página 148 do livro O Livro da Política, da mesma edita, são o retrato fiel da estupidez humana. Na primeira ilustração, soldados perfilados ante um homem que os examina do mesmo modo como o fazendeiro examina seu rebanho. Abaixo, os seguintes dizeres: “Sani Abacha (o nome do imponente senhor) tomou o poder na Nigéria em 1994. Sua ditadura corrupta estava acima dos tribunais, o que permitiu que sua família se apropriasse de US$5 bilhões de dinheiro público. Na segunda ilustração, vê-se uma imponente senhora ricamente vestida passando indiferente por outra senhora sentada na sarjeta, de cabeça baixa, implorando por caridade.

Com a palavra, a juventude. Inté.

  

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