sábado, 20 de abril de 2024

ARENGA 726

 

 

“Vivemos em um país que produz muito alimento e tem muita gente passando fome. Para além do escândalo ético, isso é uma aberração em termos de organização econômica e social. A fome não admite neutralidade, e, em termos jurídicos, considerando a nossa Constituição, um governo que não toma nenhuma medida para assegurar o acesso básico à alimentação da população, quando os alimentos existem em abundância, está, no mínimo, incorrendo em prevaricação. Não há argumentos quando crianças passam fome”. (do livro DA FOME À FOME – diálogos com Josué de Castro), de Tereza Campello e Ana Paula Portoletto.

Por que será que a intelectualidade não merece da sociedade a mesma admiração dispensada à beleza e à vulgaridade da exposição da nudez? Quando a juventude souber a resposta a esta questão, o mundo ficará bom de se viver nele. Mas, se houver tempo para esta aprendizagem porque o mau humor da natureza em respostas aos maus tratos da praga humana não tá prá brincadeira, não. Mas, isso é outra história porque no momento o cantinho de pensar tem sua atenção voltada para o que disse mestre Josué de Castro, médico e intelectual que dedicou a vida ao estudo da problemática em torno da fome, principalmente da fome desnecessária.

Vemos constantemente na imprensa notícia de dezenas de milhões de toneladas de grãos  e carne produzidos pelo agribiuzinesse endeusado pela falsidade da papagaiada de microfone em troca da despensa abastecida. Por que, então, a despeito de tanto alimento, há fome? Por que o povo dá mais atenção a escoiceadores de bola do que a um assunto tão relevante quanto a crianças morrendo de fome? Quando doutores repudiam a palavra socialismo não estariam sendo indiferentes à monstruosidade de inocentes crianças em tamanha penúria? Não seriam moralmente mais dignas as ideias socialistas na incessante luta por justiça social? A repugnância de quem torce o nariz para o socialismo não será menos desejável do que ser indiferente a crianças morrendo de fome? Não teria sido esta repugnância resultante de trabalho dos Midas a fim de embolsarem a riqueza necessária à salvação destas infelizes crianças que por ignorância do que seja vida social não só pobres como ricos despejam no mundo, indiferentes à realidade de que o ser humano demanda os recursos que a natureza vai cansar de produzir?

Sabem os senhores? O curioso nisso tudo é que tirando fora os religiosos para os quais quem sofre é porque merece sofrer, e os ricos para os quais pobre é pobre por ser preguiçoso, fora estes anormais, qualquer pessoa ao ver uma criança morrendo por fome compadece e toma alguma atitude para amenizar aquele sofrimento. Entretanto, como as pessoas não veem, então, é como se não existisse o problema. Se não dormem não por lhes pesar na consciência este drama, mas sim pelo resultado dos males trazidos para a vida, entre eles a insônia.

Dói na alma de quem não conta com deus, ver pais de crianças bem nutridas agradecendo a um tal de senhor de bondade infinita a mesa farta, sem pensar que outras crianças, esquálidas, nada têm para comer simplesmente porque os bilhões de quilos de comida produzidos são destinados a serem trocados por lucro a fim de aumentar a riqueza de quem só precisa de riqueza por vício e nunca por necessidade, como determina a cultura cruel do venha a mim e os outros que se danem.

Cruel, além de antissocial, porque quando se trata de vida em sociedade, ou todos estejam bem ou ninguém estará, realidade tão à vista que nem mesmo as engendragens satânicas do pão e circo conseguem mais esconder na totalidade uma vez que insatisfações pipocam mundo afora com resultado imprevisível.

    

 

 

 

 

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