“Vivemos em um país que produz muito
alimento e tem muita gente passando fome. Para além do escândalo ético, isso é
uma aberração em termos de organização econômica e social. A fome não admite
neutralidade, e, em termos jurídicos, considerando a nossa Constituição, um
governo que não toma nenhuma medida para assegurar o acesso básico à
alimentação da população, quando os alimentos existem em abundância, está, no
mínimo, incorrendo em prevaricação. Não há argumentos quando crianças passam
fome”. (do livro DA
FOME À FOME – diálogos com Josué de Castro), de Tereza Campello e Ana Paula
Portoletto.
Por que será que a intelectualidade não
merece da sociedade a mesma admiração dispensada à beleza e à vulgaridade da
exposição da nudez? Quando a juventude souber a resposta a esta questão, o
mundo ficará bom de se viver nele. Mas, se houver tempo para esta aprendizagem porque
o mau humor da natureza em respostas aos maus tratos da praga humana não tá prá
brincadeira, não. Mas, isso é outra história porque no momento o cantinho de
pensar tem sua atenção voltada para o que disse mestre Josué de Castro, médico
e intelectual que dedicou a vida ao estudo da problemática em torno da fome,
principalmente da fome desnecessária.
Vemos constantemente na imprensa
notícia de dezenas de milhões de toneladas de grãos e carne produzidos pelo agribiuzinesse
endeusado pela falsidade da papagaiada de microfone em troca da despensa
abastecida. Por que, então, a despeito de tanto alimento, há fome? Por que o
povo dá mais atenção a escoiceadores de bola do que a um assunto tão relevante
quanto a crianças morrendo de fome? Quando doutores repudiam a palavra
socialismo não estariam sendo indiferentes à monstruosidade de inocentes
crianças em tamanha penúria? Não seriam moralmente mais dignas as ideias
socialistas na incessante luta por justiça social? A repugnância de quem torce
o nariz para o socialismo não será menos desejável do que ser indiferente a
crianças morrendo de fome? Não teria sido esta repugnância resultante de
trabalho dos Midas a fim de embolsarem a riqueza necessária à salvação destas
infelizes crianças que por ignorância do que seja vida social não só pobres
como ricos despejam no mundo, indiferentes à realidade de que o ser humano
demanda os recursos que a natureza vai cansar de produzir?
Sabem os senhores? O curioso nisso
tudo é que tirando fora os religiosos para os quais quem sofre é porque merece
sofrer, e os ricos para os quais pobre é pobre por ser preguiçoso, fora estes
anormais, qualquer pessoa ao ver uma criança morrendo por fome compadece e toma
alguma atitude para amenizar aquele sofrimento. Entretanto, como as pessoas não
veem, então, é como se não existisse o problema. Se não dormem não por lhes
pesar na consciência este drama, mas sim pelo resultado dos males trazidos para
a vida, entre eles a insônia.
Dói na alma de quem não conta com
deus, ver pais de crianças bem nutridas agradecendo a um tal de senhor de
bondade infinita a mesa farta, sem pensar que outras crianças, esquálidas, nada
têm para comer simplesmente porque os bilhões de quilos de comida produzidos
são destinados a serem trocados por lucro a fim de aumentar a riqueza de quem
só precisa de riqueza por vício e nunca por necessidade, como determina a
cultura cruel do venha a mim e os outros que se danem.
Cruel, além de antissocial, porque
quando se trata de vida em sociedade, ou todos estejam bem ou ninguém estará,
realidade tão à vista que nem mesmo as engendragens satânicas do pão e circo conseguem
mais esconder na totalidade uma vez que insatisfações pipocam mundo afora com
resultado imprevisível.
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