terça-feira, 20 de janeiro de 2015

ARENGA OITENTA E CINCO


                Como todo chefe religioso, também o papa é uma grande inutilidade que só a estupidez humana justifica. A única diferença do papa para os outros chefes religiosos conhecidos é que a riqueza da religião dele não é dele, ao contrário dos que podem ser vistos entre os bilionários que aparecem na revista Forbes. O papa acaba de dar outra declaração tão inútil quanto os pedidos de paz aos ambientes em conflito, principalmente conflitos para disputar a melhor maneira de servir a Deus. Servir como? Do jeito que dizem os frequentadores de igreja pode-se ter certeza que não é porque se Deus é tão poderoso pela força da santidade e grandeza espiritual, não haveria de igualar-se aos poderosos pela força da grandeza material e pequenez espiritual. Estes, sim, vivem arrodeados de paxá-sacos que nem mosca azul na carne estragada. Mas, Deus? Se eu acreditasse na Sua existência não viveria dizendo que Ele é o maioral, o bam-bam-bam, o dono do pedaço, o gostosão e coisa e tal. A grandeza espiritual se faz acompanhar sempre da humildade. Assim, não se deve admitir um Ser Superior com complexo de pavão.

O coitado do papa ainda não percebeu o quanto há de ridículo e inútil essa transformação de pessoas mortas em santos. A que serve isso? A que serve os pronunciamentos do papa? Ele acaba de se pronunciar sobre os assassinatos ocorridos em Paris, que também tiveram como causa a disputa pela forma de adular Deus, afirmando que toda religião merece respeito. Acontece já não ser mais o tempo em que ou se respeitava a religião ou morria porque havia um tribunal religioso condenava e executava a sentença de tacar fogo em quem não adulasse Deus, tribunal esse que hoje é tão ridicularizado quanto se comunicar por meio de fumaça colorida e fazer santos. Em meio àquela estupidez inicial, ainda maior que a atual, surgiram algumas pessoas que se destacavam pela inteligência, e que por isso mesmo foram consideradas “diferentes” pelas pessoas comuns, aquelas que só se preocupam em juntar riqueza. A maioria absolutíssima da humanidade vive em função de riqueza e desinteligência. Para tipos desse tipo, é incompreensível que alguém se interesse menos por dinheiro do que em querer saber o motivo pelo qual o vento sopra e prá quê que ele sopra, em vez de se contentar como todo mundo faz em saber que o vento sopra prá refrescar. Serve até de propaganda para vendedor de apartamento em lugar de clima quente. Mas, estas figuras esquisitas e que buscam entender as coisas nos seus mínimos detalhes, em função de sua inteligência privilegiada e muita observação, adquiriram sabedoria que para os ajuntadores de riqueza parece burrice. Observei esta realidade quando um dia, entre doses de uísque no Aerobar do estimado amigo Newton, um fazendeiro milionário cujo conhecimento equivalia ao que a juventude moderna demonstrou no Enem me deixou intrigado ao dizer que se tivesse estudado estaria morto. Explicou que se tivesse usado o tempo para estudar não teria ganhado o dinheiro que ganhou negociando.

Por vários motivos, sendo o aprendizado da infância o maior deles, todos acabam interessados em dinheiro e religião, mas não em ter opinião, interesse ou curiosidade pelo mundo e o modo de viver nele. Deixa-se que a vida simplesmente aconteça. Como lagartas, os seres humanos devoram o que encontram pela frente, sem noção da necessidade de poupar não só dinheiro, mas também os recursos naturais, e sem lembrar que embora sua evolução termina também dentro de um casulo de madeira a ser enterrado e apodrecerá como todo despojo em vez de ganhar asas e voar. Embora as conclusões a que chegaram os pensadores sejam consideradas assunto de conversa entre eruditos, a verdade é que os pensadores nos levam ao entendimento de ser preciso haver comunhão não só ente pessoas, mas também entre pessoas e natureza, orientação plena de sabedoria, que muitos sofrimentos podia evitar se fosse observada ao pé da letra. Como não é, e prevalece a orientação dos que menosprezam os pensadores e sua preferência pela sabedoria, o resultado é a completa desunião tanto entre as pessoas como entre as pessoas e a natureza, mistura que resultou nisso que aí está e que não precisa ser definido porque o zunido de balas e a quantidade de choro e cadáveres dizem tudo.

 Todos os Grandes Mestres do Saber recomendam cultivar a inteligência e o conhecimento, no que estão mais do que certos porque, como afirmam com muita propriedade, os males decorrem da falta de conhecimento, o que se confirma ante a brutal ignorância que tomou conta da juventude e a vida de bicho que vive a sociedade por causa disso. Ainda hoje tive oportunidade de ouvir uma jovem de mentalidade comum afirmar que o fato de nascer uma criança sem cérebro é devido ao pecado de Adão. Se o pecado atribuído a adão foi por ter dado uma trepada na Eva, a pobre criancinha sem cérebro que não é gente por falta do órgão que diferencia gente de bicho não sabe e nem poderá nunca saber da existência de Adão, e Eva, ou pecado, e por isso não pode reclamar: “Peraí, pô, que tenho eu a ver com Adão e Eva? Eles trepam e eu pago o pato? Lembra uma historinha da Editora Case na qual uma senhora deixar escapar um pum no ônibus e um bebão tratou de quebrar o gelo falando que ela não se incomodasse porque todo mundo peida. O motorista peida, o cobrador peida, a mulher do motorista peida, a mãe do motorista peida ... E encheu tanto o saco o bêbado que o motorista e o cobrador pegaram-no pelos braços e o colocaram fora do ônibus e foram embora, mas quando partiu o ônibus ainda se ouviram os gritos do bebão: “Peraí, pô! Todo mundo peida e eu sou culpado? Do jeito em que se encontrava o raciocínio desse bebão encontra-se também o raciocínio dos pobres jovens levados pela canalhice de canalhas da pior espécie travestidos de administradores da riqueza pública a se tornarem zumbis incapazes da mínima clarividência mental. É o que demonstra quem atribui a uma inocente criança um castigo por algo que fez o bobão do Adão, tão bobão que precisou ser convencido insistentemente por Eva para que desfrutasse do bem-bom. Aliás, como iria acontecer a multiplicação sem a trepada inicial? É verdade que não precisava virar esta trepulinança desenfreada e incentivada pelos programas medíocres de televisão destinados a mediocrizar a capacidade intelectual da juventude.

A sociedade teria mais a lucrar se dedicasse algum tempo a observar o que nos dizem os filósofos, figuras consideradas esquisitas para quem tem a ação do pensamento limitada pelo insignificante espaço preenchido apenas pelas atividades de produzir, comprar e vender. Nem mesmo Cristo, o pensador tido como o maior de todos os pensadores, dado o apreço que o povo lhe devota, é levado em consideração depois da ora das orações até mesmo pelos que se perfumam para ir à igreja. Cristo advertiu que o bom é a paz, mas temos guerras. Alguém sabe o motivo pelo qual existem guerras ou a quem elas servem? Não servem senão para atender a brutalidade contida na necessidade de se tomar de quem tem, o que ele tem. Embora haja quem pense e afirme haver necessidade de guerra, esse pensamento será motivado pelo mesmo entusiasmo que leva cientista a declarar-se favorável à religiosidade para receber polpuda recompensa que a fundação americana Templeton paga anualmente a fim de evitar que a religião fique restrita aos apenas alfabetizados com a bíblia no sobaco.

A origem das guerras está nas garras da animalidade que ainda habita o espírito dos seres humanos no seu lento arrastar do ponto de onde partiu para rumo desconhecido. Se as religiões sempre promoveram guerras é por não ser lá onde está a irmandade recomendada por Cristo e sem a qual é impossível a felicidade de que também muito se fala, mas em vão. O resultado das guerras são malefícios que podem ser evitados saindo da barbárie para a civilização, atribuição a ser desempenhada por uma juventude esperta, razão porque não acontece uma vez que a juventude nem sabe a diferença entre “come” e “comer”. Se o tema da redação do Enem fosse sobre os assuntos nos quais eles são versados, aqueles em torno do que acontece com “famosos” e “celebridades”, nem assim os jovens seriam aprovados porque ao responder a pergunta sobre quem o jogador de futebola vai comer, eles responderiam quem é que o jogador vai come, e seriam reprovados do mesmo jeito, e a responsabilidade por tanta burrice é a própria religião ao pregar a desnecessidade de pensar que reduz a capacidade de raciocinar dos jovens ao nível medíocre daquela pobre jovem que está certa de que é o pecado de Adão que dá origem aos sofrimentos. Sem uma juventude inteligente e versada em sociabilidade nunca haverá paz em lugar algum do mundo, o que é fomentado pela própria religião uma vez que ela necessita dos bobos que dão vida boa a seus espertos representantes.

Embora a religiosidade tenha sido capaz de influenciar alguns dos primeiros grandes pensadores, o passar do tempo foi tornando cada vez mais evidentes as inverossimilhanças entre as afirmações religiosas e a realidade, dando origem a uma crescente descrença que lentamente vai aumentando até desnudar por completo a verdade, o que acontecerá no dia de São Nunca quando surgir uma juventude capaz de trombetear o muro que protege as mentiras com mais vigor do que Josué trombeteou o muro que protegia Jericó. Não é de todo impossível algum dia aparecer uma juventude que pense em conhecer o mundo oposto ao mundo dos “famosos” e das “celebridades”, e que ao fazê-lo dê de cara com o que diz o grande cientista Cristopher Hitchens, sobre a religião: “deus não criou o homem à sua imagem. Evidentemente foi o contrário, e essa é a explicação indolor para a profusão de deuses e religiões e o fratricídio entre religiões e no interior delas que vemos ao nosso redor e que tanto tem adiado o desenvolvimento da civilização”. E pelo que diz quem sabe onde tem o nariz, a religião é um grande engodo que a humanidade carrega na consciência e no bolso. Ela vê beleza na pobreza, mas vive na riqueza. Sua maior contribuição para atraso da humanidade é transformar os pobres de bens materiais em pobres de espírito ao fazê-los crer ser normal e até necessária a pobreza.

Para encerrar essa prosa e mostrar a verdadeira face da religiosidade para quem quiser ver como é que era a safadeza nos conventos, há um livrinho de Ana Miranda, intitulado Que Seja Em Segredo, ilustrado pela figura de uma freira de expressão sem expressão, mas com um belo par de peitos à mostra, inclusive com direito de ver o bico de um deles, aquela ponta mais escura que a religião diz destinar às crianças. Menina bobinha essa religião, nenão? Inté.

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