domingo, 11 de janeiro de 2015

ARENGA OITENTA E UM


Uma garota disse a seu pai que a professora dela era muito religiosa porque enquanto corrigia sua prova não parava de exclamar: “Santo Deus”, “Virgem Maria” “Cruz Credo”. O nível deplorável de conhecimento em que se encontra a juventude justifica plenamente esta historinha da Editora Case.  Não saber a diferença entre “come”, e “comer”, como não sabem os jovens, é uma situação inteiramente injustificável que denuncia o fato de total desconhecimento de qualquer outra coisa acima da baixaria encontrada na parte da imprensa da qual participam os jovens, chegando ao ponto de uma jovem declarar que raspa a xoxota porque seu namorado gosta de lamber. Mas, se a juventude está na condição de tão boba a ponto de encontrar a liderança que tanto a encanta nas figuras inexpressivas dos “famosos” e das “celebridades”, a responsabilidade por tamanha falta de senso comum cabe exclusivamente às figuras de outros líderes de araque, os líderes políticos. O modelo de administração pública precisa ser mudado e não é preciso mais do que uma vista superficial sobre a situação em que se encontra o mundo para se chegar a esta conclusão. Qualquer Zemané percebe estar a humanidade vivendo loucura tão grande que uma criança, uma menina de dez anos, é convencida pelos malditos fanáticos a se explodir em meio à multidão, matando seus semelhantes, inclusive outras crianças, situação a que foi levada aquela pobre jovem que destruiu seu futuro e o de outros jovens pelo mesmo convencimento que leva os jovens a agirem como se fossem totalmente desprovidos de inteligência, e, como insetos, atraídos pela claridade da luz da televisão de onde vem a orientação para serem tão bobos como estão. É que a inteligência precisa ser estimulada para se desenvolver. Mas como os jovens foram transformados por seus líderes políticos e religiosos a se tornarem zumbis futucadores de telefones, convencidos de que o negócio é axé, futebola e igreja, não dão à sua inteligência recolhida, a oportunidade de botar a cara de fora para ver quanta burrice por falta dela acontece entre os jovens. Este convencimento é embutido na personalidade da juventude por armadilhas preparadas pelo modo perverso como é exercido o poder de mando, do qual resulta uma situação inexplicável em que assumir um cargo na administração pública equivale a um passaporte para uma vida só concebível nos contos de fada ou presenteada por algum gênio saído da bufa de uma lâmpada mágica. É preciso não ter discernimento para não perceber que esse modelo de vida coletiva vai terminar em fuzuê. A capacidade de percepção é inerente a todos. Porém, os responsáveis pela administração dos recursos públicos usam parte desses recursos para através de armadilhas psicológicas embaralhar a capacidade de percepção e fazer com que o povo volte sua atenção para as coisas sem importância a fim de ficar longe das coisas realmente importantes. Enquanto a juventude que tem o poder de mudar as coisas permanece com a mentalidade daquela jovem que raspa a xoxota para seu namorado lamber, e precisa tornar isso público, com tal mentalidade fica mais fácil para os falsos líderes políticos manejar com tranquilidade a manada que lhes garante o abastecimento de leite, carne, vinhos, palácios, jatinhos, vaga nos melhores hospitais no momento da necessidade, palácios, cartões corporativos, fortuna nos infernos fiscais, além da condição sem correspondência em qualquer outra atividade de passar a ser juiz dos próprios atos perante a lei.  Se alguém diz que o mandatário fez o que não devia fazer, basta que o próprio mandatário negue ter feito o que estão dizendo que ele fez para que o assunto se encerre.

Assim tem sido através dos tempos. Os inocentes primitivos atribuíam àqueles que se destacavam no meio da comunidade por serem dotados de algum poder de liderança e isto acabou em poder de mando aos poucos desvirtuado para poder pessoal que se desenvolveu de tal modo a ponto de chegar à situação de se acreditar que a figura de um rei transcendia a normalidade do mundo das pessoas e se ligava à convivência do mundo das divindades. Entretanto, como a verdade demora, mas sempre aparece, o privilégio do aspecto místico do líder político desapareceu, mas continuaram os privilégios materiais que conferem ao líder político uma vida paradisíaca inimaginável para qualquer pessoa comum como resultado da exorbitância a que os responsáveis pela administração elevaram sua importância perante os demais membros da sociedade ao transformar em direito adquirido mordomias que nada mais são do que desonestidade e a malandragem necessárias para lhes assegurar a aparência de figuras mais importantes do que realmente são, situação que permanecerá imutável enquanto depender da vontade dos próprios líderes políticos acostumados a viver um paraíso. Inteiramente compreensível, levando-se em conta a lei do menor esforço, o apego dos administradores públicos aos cargos que lhes proporcionem viver sem precisar saber quanto custa uma mesa posta. Até o cavalo quando é experto cai fora na hora de sair para o trabalho de ajuntar o gado. Então, para não desgarrar de uma instituição onde se leva vida regalada e ainda por cima com o direito de ter instituto com verbas para preservar a memória dos grandes feitos heroicos por amor à pátria, para preservar esse estado de coisas é que funcionam as armadilhas destinadas a manter o povo longe das atividades políticas. É para isso que servem os gastos monumentais com estádios e templos religiosos para festas destinadas a prender a atenção do povo que segue como manada o caminho indicado por quem se beneficia com a alienação.

O filósofo Bertold Brecht escreveu um poema que esclarece magistralmente o quanto é prejudicial à sociedade a indiferença de seus membros quanto ao destino de sua sociedade. Eis o que diz um trecho do trabalho O Analfabeto Político do filósofo citado: “O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil, que da sua ignorância nasce a prostituição, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”

A este estado de degradação está reduzida a juventude indiferente ao destino do seu próprio futuro. Chamada pelo filósofo de burra e imbecil. Mas não podia ser de outra forma uma vez que os jovens não se dão bem com os livros. Mas isso também não podia ser de outra forma porque quando os jovens estavam ainda nos cueiros ninguém se preocupou em ler histórias apropriadas para com isto incutir na criança o hábito da leitura, única forma de se instruir, e a instrução é a única forma pela qual se chega à civilização, que por sua vez é a única forma de se viver com menos atribulações, visto ser impossível eliminá-las por completo porque a própria natureza se encarrega de nos fornecer atribulações.

Há poucos dias eu tomava o café com massa num hotel em uma região de pecuária, e um grupo de jovens conversava tão alto que incomodava. O garçom me informou tratar-se de estudantes. Devem estudar vaquejada, imaginei.

A abstinência da atividade de pensar conduziu a humanidade para o misticismo que leva a buscar no lugar errado a tranquilidade desejada. Acredita-se que estátua ouve o que se fala com ela e se acredita que Deus dá pulos de alegria por contemplar jornalistas com a cabeça cepada fora do corpo. Só não se acredita na única coisa que merece crédito: o poder de uma educação capaz de convencer sobre a vantagem da cooperação sobre a competição geradora da animosidade que leva às guerras. O misticismo é fonte de infelicidade porque se nutre da ignorância uma vez que o sofrimento é sua base de sustentação. É a ignorância que leva ao convencimento de haver vantagem no sofrimento. Se o sofrimento é capaz de levar à reflexão, a observação inteligente da vida faz a mesma coisa sem a necessidade de gemer. É absurdo acreditar ser necessário o sofrimento como faz a religiosidade. Esta declaração do religioso Ara Norenzayan, psicólogo social da Universidade da Columbia Britânica em Vancouver, no Canadá, e autor do livro Big Gods (Grandes Deuses), à disposição na internete para quem lê assuntos diferentes dos relacionados com “celebridades” e “famosos” mostra exatamente a dependência que tem a religião do sofrimento para existir. São suas as seguintes afirmações sobre a afirmação de que a religião está declinando de importância e que desaparecerá: “Declínio não quer dizer desaparecimento. A segurança existencial é mais vulnerável do que parece. E conforme as mudanças climáticas trouxerem destruição e os recursos naturais forem escasseando, o sofrimento e as dificuldades podem inflamar a religiosidade”.

É um absurdo sem medida afirmar-se ser necessário conviver com dificuldades e sofrimentos unicamente para que a religiosidade exista. A verdadeira razão pela qual existe a religiosidade é manter a humanidade fora da realidade. Alguém já viu Deus? Já viu Cristo? As coisas das quais apenas se ouve não merecem crédito. Inté.

 

 

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