quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

ARENGA OITENTA E DOIS


O papel que o povo desempenha na sociedade é tão importante que a sociedade só existe em função do povo. Sendo assim, merecerá o povo o mesmo destino de manada, também importante pelo seu trabalho de produzir carne e leite para alimentar a sociedade? A resposta é um categórico NÃO porque povo é formado de seres com capacidade de pensar, raciocinar e ter sentimento, inclusive de dignidade, merecendo, portanto, por direito e por justa razão, mais respeito e consideração. É crime cometido contra a humanidade relegar o povo às condições a que se relega. Nos presídios, então, o que acontece ali merece a velha expressão “é de fazer dó” o sofrimento daqueles infelizes. Nunca dará certo isso de considerar o povo apenas mero fornecedor de força-trabalho, razão pela qual está fadado ao fracasso o modelo de administração pública de todas as sociedades humanas por não levar em consideração as necessidades e aspirações do povo ao empregar os recursos públicos apenas em benefício de uma insignificante casta de ignorantes de sociabilidade e impedidos pela usura de perceber estar a sociedade se afundando em vertiginosa autodestruição por conta unicamente da exclusão social gritante, chegando ao absurdo de serem destinados apenas 2,9% da riqueza mundial para atender as necessidades de 69,8% da população, enquanto senhores barrigudos fazem pose na revista Forbes ao lado de riquezas indevidamente consideradas como de suas propriedades porque o suor derramado para produzi-las não escorreu da cara destes imbecis, motivo pelo qual o velho Marx denunciava de roubo, de gatunagem, a posse da sobra do produto que o trabalhador produz e que fica com o dono do emprego, e que é, na realidade, a origem de toda riqueza, concomitante com outros processos, todos desonestos. O certo mesmo é que toda grande fortuna tem atrás de si uma história de indignidades.

A lembrança dos tempos de coletores de comida faz com que ainda se acredite na necessidade de se ajuntar riqueza como forma de segurança contra possível escassez, o que resulta na situação insustentável registrada por um chargista retratando algumas pessoas abastadas em luxuoso banquete enquanto se aproxima deles sorrateiramente uma turba de outros também ignorantes, mas com a diferença abismal de ser um grupo infinitamente maior, e, além disso, constituído de famintos. A percepção do artista está a anos luz da falta de percepção tanto dos necessitados quanto dos abastados. A violência crescente é prenúncio da realidade de que os desconsiderados como seres humanos não permanecerão eternamente deslumbrados com o falso mundo de festas, “celebridades” e “famosos” com que se tem conseguido prender a atenção do povo com muito assunto sobre sexo, por despertar interesse sempre, além das vulgaridades que se tornaram distração para as famílias. Aliás, tal situação confirma ser a família o núcleo da sociedade. Estando as famílias tão desestruturadas a ponto de os pais almejarem os filhos em algum dos muitos tipos de prostituição à disposição, do mesmo modo, também se encontra desestruturada a sociedade. Entretanto, embora pareça improvável, por mais lento que possa acontecer, o esclarecimento acontece. Vagarosamente, mas acontece. Vai aos poucos superando a obscuridade da ignorância e a cada dia mais pessoas questionam e reivindicam direitos usurpados pela casta que se julga tão privilegiada a ponto de se considerar única no planeta.

Tirar proveito da força-trabalho dos irracionais é diferente de fazer a mesma coisa com seres humanos em virtude da capacidade de raciocinar inerente a estes últimos. Como raciocinam muito mal em função da influência das “celebridades” e “famosos”, chegam sempre a conclusões erradas que os leva à promover a violência crescente como meio de manifestar seu justo descontentamento, quando poderiam ter saciada sua sede de justiça de modo inteligente como, por exemplo, dedicando interesse em assuntos como a fala do governador de São Paulo sobre faltar guilhotina. Ali estão todas as causas de toda a desarrumação em que se encontram todas as sociedades de todo o mundo. Embora tenha sido assim desde sempre, não pode mais continuar sendo como sempre foi porque a quantidade dos seres humanos brutos no mundo cresceu demais e nenhum ambiente sobrevive quando superlotado de seres brutos. Certamente Deus se esqueceu de avisar quando parar a multiplicação.  A realidade é que logo não haverá mais água para os pobres. Será que eles vão se contentar em ficar apenas olhando os ricos nas piscinas, lugar onde a enchente não chega, enquanto a ralé é multada pela empresa dos ricos por ter de gastar água para limpar a lama trazida pela enchente que só chega onde há pobreza e religiosidade em vez de piscinas?

Palmas para quem disse ser a ignorância a causa de todos os males do mundo. É por causa dela que em qualquer lugar onde se ajuntam várias pessoas inevitavelmente surge desavença e confusão, razão pela qual se faz necessário um aparato legislador para estabelecer proibições, outro aparato julgador, outro fiscalizador e ainda outro repressor, a absorver os recursos que poderiam estar a serviço da saúde e, principalmente da educação, porque havendo uma educação capaz de incutir nos jovens a sabedoria necessária para lhes despertar interesse pela realidade da vida, saberão formar uma sociedade sem conflitos. É necessário repetir à exaustão que cada moeda gasta em educação economiza mil moedas em gastos desnecessários.

O desconhecimento da realidade não permite ao povo religioso perceber que o poder negativo da ignorância venceu o poder divino que atribuiu superioridade ao ser humano quando juntamente com o sopro da vida também recebeu orientação para ser superior aos bichos, mas o que se vê é que a ação levada a efeito com muita astúcia e maldade por quem acredita ter a lucrar com a desavença impede a marcha rumo à superioridade por ser a inferioridade a característica do ambiente onde o valor pessoal é medido pela capacidade de juntar riqueza. Assim é que a recomendação divina foi tornada sem efeito pela maldade dos ajuntadores de dinheiro que através de suas artimanhas mantém os seres humanos no mesmo nível dos bichos porquanto todos se estraçalham do mesmo modo. Inté.

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