domingo, 17 de julho de 2016

ARENGA 287




O tempo passou na janela e só Carolina não viu. Diz a poesia do nosso Chico Buarque sobre aquela mulher que guardava nos olhos fundos toda a dor deste mundo. Mas não foi só a Carolina do poeta maior que não viu o tempo passar na janela. O presidente dos franceses, chamado de majestade por um deputado, segundo informa o amigão Google, ao debochar dos seus súditos franceses quando usa o dinheiro deles para pagar trinta e cinco mil e novecentos reais mensais a um cabelereiro para cuidar de sua careca também demonstra não ter percebido o tanto de tempo que passou por todas as janelas do mundo. Embevecido como todos seus colegas no mundo encantado das mordomias, nem sequer se lembra a “majestade” francesa do ano de 1789, época em que outros debochadores tiveram a cabeça cepada fora do corpo em consequências de seus deboches. Além da Carolina do Chico e de sua “majestade” francesa, também os ricos donos do mundo e seus moleques-de-recado, os governantes, como também os moleques de recado destes, os papagaios de microfone, escritores assalariados e os filósofos que filosofam em contraprestação ao contrato de trabalho assinado com as emissoras dos ricos donos do mundo, também estes não veem o tempo passar na janela de seus palácios, mansões, na falsa alegria que botam na cara ao anunciar assuntos de futebola. Ninguém parece enxergar o que vem pelaí. Como até as genialidades se enganam, como diz o escritor Movér, o grande Chico se equivocou quando disse em outra poesia magistral da música A Banda que o homem sério parou de contar dinheiro para ver a banda passar. Certamente por ato falho, foi levado a exteriorizar o desejo de justiça social manifestado em suas letras porque só haverá justiça de todas as espécies quando contar dinheiro deixar de ser a primeira preocupação dos homens. A triste realidade é que a usura e a mesquinhez destes avarentos sanguessugas sociais jamais permitirá que estes monstros parem de contar dinheiro para coisa nenhuma, ainda que seja para curtir a beleza e a melodia da música A Banda. Está aí na imprensa mais uma evidência do perigo das ações acintosas a um povo maltratado e transformado em material humano, demonstrando que novos tempos substituem os velhos tempos: Um contador de dinheiro tão milionário que debochava da pobreza ao usar uma camisa de ouro cravejada de diamantes, na Índia, foi brutalmente assassinado.

Os protagonistas de um sistema de administração baseado na corrupção que dilapida o erário é monumental equívoco do qual haverão de se arrepender seus promotores porque de tal procedimento advirá tormentos para todos indistintamente. A tranquilidade procurada por todos só poderá ser encontrada numa sociedade civilizada. Mas para que uma sociedade seja civilizada faz-se necessário um povo de mentalidade capaz de repudiar notícias desse tipo:

– Sabrina Sato usa biquíni caríssimo na Grécia.

– Trança masculina é a nova tendência de moda para homens.

– Famosas investem em visual sexy durante a gravidez.

– Mariana Goldfarb aproveitou a privacidade do quarto de luxo para tomar sol nua.

Namorada de Cauã Reymond posta foto nua em rede social.

– A nova moda na web é cobrir os seios com peixe.

Não, senhores escravocratas! Os senhores estão enganados redondamente em acreditar haver vantagem em manter o povo tão imbecilizado a ponto de se ligar em tais futilidades porque tal povo jamais constituirá uma sociedade na qual os filhos de vossas senhorias estarão a salvo do destino dos donos do mundo na Rússia de 1917 e na França de 1789. Os tempos do poder absoluto descrito por George Orwell no livro 1984 não encontram mais ecos nestes novos tempos de contestações a pipocar por todo lado. Apenas uma cena do livro citado é suficiente para nos mostrar o conformismo absurdo que ora se rejeita com toda razão. Vejamos como o autor nos mostra o poder da opressão ao criar uma cena na qual duas pessoas oprimidas sentem felicidade dentro da infelicidade, a mesma infelicidade vivida pela humanidade sem que ela se dê conta: “...Julia e Winston ficavam deitados lado a lado numa cama desprovida de lençóis sob a janela aberta, nus por causa do calor. O rato nunca mais voltara, mas com o calor os percevejos haviam se multiplicado tremendamente. Pelo jeito, não fazia diferença. Sujo ou limpo, aquele quarto era o paraíso.” (Página 180 do livro 1984, de George Orwell).

O estado mental capaz de fazer aquele casal inventado pelo escritor sentir-se num paraíso estando num quarto quente e infestado de percevejos é o mesmo estado mental que leva a humanidade a sentir-se tão feliz comendo e respirando veneno, bebendo água misturada com bosta, sentindo na pele os efeitos da devastação da natureza nas secas e enchentes das quais resultará fome e mais guerras. Apesar disto estão aí grandiosas festas esportivas numa felicidade tão autêntica quanto da felicidade daquele pobre casal infeliz. Tal estado de coisas se deve exclusivamente ao fato de não ter a humanidade visto o tempo passar para perceber ainda se encontrar envolvida no engodo da religiosidade usada pelos Reis/Deuses. A leitura da bíblia mostra que o Deus que a humanidade diz ser de bondade infinita matou mais do que qualquer Alexandre, Ciro, Napoleão ou Hitler porque Nenhum destes matadores eliminou toda a população do mundo de uma só vez como fez Deus, deixando vivos no planeta apenas oito pessoas numa barca lotada de bichos vagando a esmo.  Muitas mentalidades, entretanto, já percebem a chegada de novos tempos, para alimento da esperança de quem gostaria de viver os seres humanos vivendo uma irmandade real, diferente daquela das igrejas que acaba quando atravessa a porta de saída. Inté.

 
 


 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

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