quinta-feira, 10 de novembro de 2016

ARENGA 335


A História do nosso passado deve ter o mérito de evitar sejam repetidos erros cometidos, uma vez que a única coisa que os seres humanos fizeram na vida foi errar. Erraram tanto que chegaram à situação de lhes restar apenas a escolha de desaparecer como os dinossauros ou mudar radicalmente o modo de vida num prazo muito curto sob pena de não dispor de tempo suficiente para fazer a mudança. Entre os muitos erros é encarar a História apenas para decorar fatos, nomes e datas a fim chutar entre as três alternativas propostas pela prova no colégio, em lugar de observar o que ela nos diz a respeito do comportamento humano através dos tempos. Os historiadores Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, na página 135 do livro História Geral e do Brasil, Editora Scipione, nos contam que a História reflete apenas a opinião dos vencedores, sem levar em conta o que têm a dizer os vencidos. O esfacelamento mental a que foram submetidos os jovens por uma educação capenga da qual resultam ganhadores de dinheiro em vez de pensadores não lhes permite concluir que tal afirmação mostra a causa da infelicidade humana. Sendo o conhecimento da causa o caminho que leva à solução do problema, o conhecimento do fato de ser a história da humanidade uma sequência de vencedores e vencidos, este fato leva também ao conhecimento da causa de todos os sofrimentos do mundo. Se os seres humanos são obrigados por natureza a viverem juntos, o que pressupõe viver de modo harmonioso, o ambiente do qual resultam vencedores e vencidos está longe do comportamento necessariamente harmonioso indispensável à saúde social.

Os seres humanos desprezaram a capacidade de raciocinar que lhes poderia levar a uma vida agradável, preferindo viver como as feras que se não tiverem o que vencer, também não terão o que comer. É fato que a mesma necessidade de matar para viver também obriga os humanos a matar. Entretanto, constituindo estes a única espécie capacitada a pensar, teriam de limitar a monstruosidade da matança às espécies que eles subjugaram e domesticaram exatamente para lhes fornecer o alimento.

Embora a História registre a existência de malucos que se separaram dos demais e se isolaram em montanhas, desertos ou cavernas, preferindo a solidão à companha de seus pares, trocando feijão, arroz e carne por gafanhoto e mel, tais excentricidades não merecem atenção alguma por se tratar de pura maluquice ou invencionice uma vez que o ser humano, por natureza, só pode viver junto a outros seres humanos, até mesmo pela necessidade inerente à personalidade humana de ser admirado. Grande pena é que o motivo pelo qual os seres humanos são admirados atualmente são motivos torpes como ter a mulher a bunda e os peitos artificialmente grandes e o homem, os músculos e a rola, donde se deduz estar a mentalidade humana reduzida à insignificância. Atualmente até existem filósofos que filosofam através dos meios de comunicação em troca de pagamento, de modo que suas conclusões são pré-fabricadas por quem lhes compra a filosofia. Vive-se um mundo de falsidades. As pessoas que comentam os acontecimentos sociais, denominados formadores de opinião, que censuram determinados comportamentos e sugerem comportamentos melhores em prol de uma sociedade melhor, são as mesmas pessoas que fazem apologia de refrigerantes, do compra-compra, dos bancos, na verdade encarnações de satanás pela ação antissocial que exerce o sistema bancário. Há também inconsequência no fala-fala sobre reforma disso e daquilo porque o que precisa ser reformada é a mente torpe de quem dá as ordens brutas das quais resulta a organização social por um lado, e, por outro lado, também carece de reforma a passividade da mente daqueles que se submetem a tais ordens sem aquilatar suas consequências.

Vive-se uma sociedade totalmente desequilibrada na qual pessoas passam fome enquanto outras bebem uma garrafa de uísque Macallan ao custo de um milhão e quinhentos mil reais, segundo o amigão Google informa a quem lhe pedir para mostrar os dez uísques mais caros do mundo. Entre tantas evidências da disparidade que torna insustentável a situação humana está também a seguinte notícia na imprensa: Com verba sobrando, país da Europa tem reserva de R$ 3 trilhões para gerações futuras. A substituição das pupilas por cifrões afetou nos Reis Midas do mundo a função cerebral em vez da visual. E afetou de modo tão grave que não lhes é permitido perceber a possibilidade de vir a fome dos miseráveis do mundo a obrigá-los a não esperar, e gastem eles mesmos a fortuna destinada a permitir que os descendentes dos atuais ricos donos do mundo tomem uísque Macallan. O mal que se espalha pelo mundo está avisando ser melhor cepar fora a cabeça dele antes que ele cresça, em vez de cepar a cabeça de jovens para fazer bonito perante Deus. Inté.

 

   

  

 

 

 

 

 

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