A que se
deve a infelicidade de Antony
Garotinho, Sérgio Cabral e todas aquelas pessoas que a televisão mostrou sendo
arrancadas pela polícia do conforto da companhia de suas famílias, da mesa farta
de sua casa, e passaram a viver num cubículo denominado cela de presídio? Seriam
estas pessoas realmente más, ou teria a maldade da qual resultou sua infelicidade sido implantada em suas personalidades independentemente da vontade delas?
Tivessem elas a oportunidade de regressar no tempo e tomar caminho diferente desse que as levaram à execração pública e ao cárcere teriam preferido permanecer no erro? Certamente que não.
Estão nesta situação porque sua personalidade fora deformada pela educação que lhes deram seus pais, não por se tratar do criminoso nato da teoria do psiquiatra Cesare Lombroso. Tivessem sido educadas para a convivência social da qual depende solidariedade em lugar de usurpação não estariam agora na situação de levar tristeza àqueles que lhes têm apreço. Se a juventude dos meados do século passado era considerada transviada, sendo "transviar" definido pelo dicionário como "afastar-se do caminho ou da retidão", o caminho do qual teria se afastado a juventude anterior, se é que dele decorra algum prejuízo, ele se resumia aos próprios jovens de comportamento exuberante cujo expoente máximo foi James Dean que morreu cedo em consequência de sua paixão pela velocidade. Porém, o afastamento da juventude atual daquele caminho que devia trilhar prejudica toda a humanidade, de modo que a juventude moderna é infinitamente mais transviada que sua antecedente, devendo seu comportamento enviesado à educação que os leva a estupidez de amar riqueza e divindades em lugar do semelhante. Não lhes ensinaram a realidade de não
haver quem possa viver sem comer. Não lhes ensinaram, por fim, o que lhes
deviam ter ensinado. Então, seriam os pais dos jovens que os desviam do caminho certo? Não! Não, simplesmente porque eles não poderiam ensinar o que
não sabiam. E não sabiam porque seus pais também não podiam lhes ter ensinado porque também não sabiam. Ah! Então
os pais dos pais dos jovens são os responsáveis por desviar a juventude do caminho, né não? Né não. E
não é porque também aprenderam a estupidez de frequentar igreja e ajuntar riqueza como caminho para a tranquilidade. A quem, então, atribuir a culpa de ter transviado a juventude do caminho pelo qual deveria caminhar? Ao sacana que inventou o princípio do É MEU com o qual
inviabilizou a harmonia social. O "é meu" é a fonte da infelicidade humana, muito embora imensa papagaiada de microfone e escritores assalariados, aos quais se incluem filósofos, a serviço dos Reis Midas adeptos do "é meu" garantam e assinam embaixo que ajuntar riqueza é a melhor forma para se viver bem.
Estaria a humanidade, assim, condenada à infelicidade? Não necessariamente porque alguns jovens deixam de seguir pelo caminho indicado pela papagaiada de microfone e teimam em seguir pelo caminho certo. Aí estão os jovens da Operação Lava Jato enfrentando mil e um obstáculos para levar avante o trabalho de procurar fazer com que todos os jovens sejam levados ao caminho que leva a uma sociedade civilizada. A este fato
alvissareiro junta-se outro fato não menos alvissareiro: Um jovem que fora
elevado por sua capacidade ao cargo de ministro devolveu este emprego altamente
qualificado ao presidente da república que o convidou quando outro ministro, por
ser adepto do é meu, lhe sugeriu entrar para a bandidagem e praticar macutaia.
Mas não é só isso. Vários jovens fazem um movimento revolucionário em torno do
descaso do governo composto por adeptos do é meu, exigindo mais educação.
Ao lado disto tudo, um poeta, Milton Nascimento, fez música de uma poesia que
escreveu, chamada Canção do Estudante, cuja última frase é JUVENTUDE E FÉ. Bateu
na tecla certa o poeta. Aliás, quando ele botou fé na juventude ele também era
um jovem. Bateu na tecla certa porque só os jovens são possuidores da
maleabilidade mental necessária para trocar o “é meu” pelo “é nosso” sem o qual
a infelicidade campeará com intensidade cada vez maior. Estes acontecimentos
levam à esperança em que mais jovens saiam da baixeza espiritual a que foi
levada pelos adeptos da cultura milenar do é meu a fim de mantê-los no analfabetismo
político. Como outros jovens conseguiram se livrar dele, do analfabetismo político, causa dos infortúnios do mundo segundo o Grande Mestre do Saber Bertold Brecht, outros jovens seguirão
o exemplo e se juntarão a eles na sublime tarefa de substituir a vida de mundo
cão por um tipo de vida no qual não se inclua a necessidade do suicídio
individual e muito menos coletivo, destino inevitável a continuar a cultura infelicitante
do é meu. Inté.
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