terça-feira, 1 de maio de 2018

ARENGA 483


o que pensar a matéria publicada no jornal Estado de São Paulo dando conta de que uma pesquisa revelou que 51% dos americanos que se declaram republicanos veem a imprensa como inimiga do povo. A imprensa capitalista é realmente inimiga do povo. Mas é intrigante o que teria levado a massa bruta de povo a chegar a tal conclusão uma vez que povo não pensa. Quanto maior a religiosidade de um povo, maior sua incapacidade de pensar porque a religiosidade inibe o raciocínio quando prega a desnecessidade de se questionar os mistérios de Deus. Assim, causa espanto ter chegado àquela conclusão logo um povo como o americano, tão ansioso por riqueza que resumiu na frase TEMPO É DINHEIRO sua falsa crença de ser perda de tempo parar para pensar em qualquer outra coisa que não esteja vinculada à produção de riqueza. As únicas queixas contra a imprensa de que se tem notícia são provenientes de malandros alegando perseguição política. Posso estar enganado, mas nos meus oitenta e dois anos bem vividos nos quais não faltaram experiências, principalmente com mulheres, bons uísques e até com a maconha, experiência esta que me mostrou ser ela tão prejudicial à saúde que aumentou muito meu problema de estômago e os batimentos cardíacos disparavam, razão pela qual tive de deixá-la. Infelizmente, porém, deixa-la para ser usada pelos pobres jovens que com isso inviabilizam uma velhice menos atormentada procurando curtição sem saber que têm na sua juventude a maior de todas as curtições. Os jovens não sabem o quanto perdem em não adquirir conhecimento com os velhos.

Mas como nosso assunto são os americanos das bundas brancas, causa espanto terem eles percebido ser a imprensa motivo impediente de uma sociedade na qual seja possível viver sem o temor de ser explodido, metralhado, esfaqueado ou esmagado por carros deliberadamente jogados sobre as pessoas. Mas eles apenas ouviram o galo cantar. É improvável terem descoberto que o mal está é nos proprietários dos órgãos de imprensa de um regime capitaneado pelo perverso sistema capitalista cujo carro-chefe é o país deles, os Estados Unidos. Fica ainda maior a estupefação diante da realidade de aparecer tal conclusão justamente no país onde o povo é constituído da maioria religiosa, uma vez que os religiosos são convencidos da desnecessidade de pensar para concordar com os mistérios de Deus independentemente de qualquer questionamento.

A prejudicialidade da imprensa capitalista, apesar de artimanhosamente sutil, pode ser percebida facilmente através do que dizem os meios de comunicação quando afirmam serem positivas para a sociedade atividades do tipo da agiotagem do sistema financeiro endeusado pelos banqueiros, monstros de cuja boca escorre baba de dragão, do consumismo, do agribiuzinesse, do pão e circo, etc., por serem atividades danosas do ponto de vista da sociabilidade da qual decorre o bem-estar social. A sociabilidade é a matéria prima da sociedade humana. As três primeiras atividades têm por finalidade extorquir a sociedade, usando a derradeira para distraí-la enquanto lhe atocham o ferro no rabo e a mão no bolso de forma tão violenta que destas atividades resulta a remessa dos recursos públicos para as caixas-fortes dos infernos fiscais. Sabendo-se que do mesmo jeito como a manada segue o berrante tocado pelo vaqueiro o povo também segue o berrante tocado pela imprensa, sendo esta de propriedade dos escravizadores do povo, os ricos donos do mundo, evidente que seu berrante toque música que conduza a massa bruta de povo para a situação em que ele se encontra. Isto é, convencido de haver felicidade na submissão à escravidão de um emprego. A modalidade de escravidão moderna mantida pela lavagem cerebral feita pelos meios de comunicação aparece de forma bem clara na profissão dos policiais. Eles investem furiosamente contra os oprimidos como eles para defender os opressores. Na página 77 do livro DO KZARISMO AO COMUNISMO, do historiador Marcel Novais, temos um exemplo perfeito desta realidade quando o autor discorre sobre a opressão do governo russo sobre o povo da seguinte maneira: “... todas as vezes que tropas foram chamadas a reprimir manifestações, elas o fizeram de forma eficiente e letal. Essa lealdade é surpreendente quando se sabe que soldados recebiam pouco mais de um décimo do que se considerava necessário para uma subsistência digna. Seus rendimentos tinham de ser suplementados por suas famílias e pela prática comum de venderem parte de sua ração de comida. Soldados não podiam fumar em público, nem frequentar bares ou restaurantes. Além disso, o tratamento dispensado por oficiais a seus subordinados costumava ser cruel”.

Não haveria total concordância com o absurdo de destruir a natureza em troca da produção de dinheiro não fosse a lavagem cerebral pela pregação desta cultura infeliz feita pelos meios de comunicação. Na revista Veja de 04/04/18, em reportagem intitulada UMA NOVA CULTURA, o entrevistado, um egresso das Harvards do mundo, portanto um pregador desta modalidade de vida infeliz, afirma o seguinte: “... precisamos de jovens que escrevam menos artigos e ensaios e produzam mais”. Certamente ensinar a produzir dinheiro uma vez que é para não ensinar produzir textos literários. Do ponto de vista da racionalidade, afirmar tal coisa é propagar a incivilização de considerar o TER superior ao SER como determina a cultura bárbara atual que faz as pessoas indiferentes ao sofrimento alheio. 

Entretanto, determinada cultura impõe o comportamento humano até que a sensatez discorde dela e mostre haver comportamentos mais condizentes com a busca do bem-estar requerido por todos os seres vivos. Acontece que a sensatez mostra de forma indiscutível não estar correto um modo de vida semelhante ao dos irracionais, semelhança devidamente comprovada pela crueldade das destruições das guerras. A partir do momento que parte da massa bruta de povo perca algo da brutalidade, daí em diante nova culta toma o lugar da antiga, como mostra o primeiro parágrafo do capítulo 15 do primeiro volume do livro História da Civilização Ocidental, de Edward McNall Barns: “Pouco depois de 1300 havia começado a decair a maioria das instituições e dos ideais característicos da época feudal. A cavalaria, o próprio feudalismo, o Santo Império Romano, a autoridade universal do papado e o sistema corporativo do comércio e da indústria iam aos poucos enfraquecendo e terminariam por desaparecer completamente. Estava praticamente finda a grande época das catedrais góticas, a filosofia escolástica começava a ser ridicularizada e desprezada, e aos poucos, mas com eficácia, ia sendo minada a supremacia das interpretações religiosas e éticas da vida. Em lugar de tudo isso, surgiam gradualmente novas instituições e modos de pensar cuja importância é suficiente para imprimir, aos séculos que seguiram, o cunho de uma civilização diferente”.

É justamente o de que a humanidade carece. UMA CIVILIZAÇÃO DIFERENTE, porque não tem cabimento em qualquer lógica viverem seres capazes de raciocinar da mesma forma como vivem os incapazes desta fabulosa dádiva natureza, tão incapazes que dialogam com estátuas, creem haver virtude na caridade, fazem apologia do sofrimento, consideram a si mesmos carneiros de Deus, buscam proteção em igrejas onde não raro encontram a morte, bebem e comem água e comida contendo veneno e bosta, além de se matarem mutuamente e involuir espiritualmente sua juventude forma tão cruel que ela passou a ter por ídolos pessoas mentalmente insignificantes, as tais de “celebridades” e “famosos”. Ante tal realidade não se pode contestar a necessidade de uma nova cultura. Né não? Inté.  

 

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