Certamente
por não ser intelectual, o escrevinhador deste mal amanhado blog insiste em
afirmar serem completamente inúteis os intelectuais uma vez que a
intelectualidade deles em nada contribui para uma forma menos irracional de
vida, o que deve ser o primeiríssimo objetivo de cada um dos mais de sete
bilhões de seres humanos a destruir perigosamente sua moradia. Não é só o
pseudo intelectual José Sarney que escreve livros do tipo daqueles que quando a
gente larga não quer mais pegar, como disso o saudoso Millôr Fernandes. Acabo
de fazer péssima aquisição comprando o livro O QUE É FILOSOFIA? do intelectualíssimo
José Ortega Y Gasset. O livro é um curso de filosofia ministrado pelo famoso
escritor e a primeira aula começa assim: “Em
matéria de arte, de amor ou de ideias, creio pouco eficazes os anúncios e os
programas. No que concerne às ideias, a razão de tal incredulidade é a
seguinte: a meditação sobre um tema qualquer, quando é positiva e autêntica,
inevitavelmente aparta o meditador da opinião recebida ou ambiente, da que, com
razões mais graves do que vocês supõem agora, merece ser chama de “opinião
pública” ou “vulgaridade”.
A décima
primeira que também é a última aula, como todas as demais, começa e termina sem
dizer prá que veio, salvo para outros intelectuais de inútil intelectualidade: “Todas as vezes que eu disse que nos víamos
forçados a transpor os limites da antiguidade e da modernidade, procurei
acrescentar que só as superaríamos na medida em que as conservássemos. O
espírito, por sua própria essência, é, ao mesmo tempo, o mais cruel e o mais
terno ou generoso”.
Comprar
este livro é jogar dinheiro fora como fiz porque o de que necessitamos é a
praticidade da constatação de estar a humanidade vivendo do mesmo modo como
vivem os irracionais. Portanto, rasgos de profunda intelectualidade não
encontram eco no meio da brutalidade humana que carece ser amenizada antes de
quaisquer outras ponderações uma vez que a vida dos seres humanos é tão louca
que eles são obrigados a transferir para quem não precisa de nada os recursos de
que eles muito precisam. Desta transferência resultam as grandes riquezas dos
fornecedores das coisas de que o povo não pode prescindir: alimento, luz, água,
segurança, transporte, remédios. A propósito da inconsequência do que ocorre no
tocante aos remédios, recente publicação no blog Outras Palavras, escola de
alfabetização política, dá conta de que em função dos lucros exorbitantes com a
venda de medicamentos a indústria farmacêutica conseguiu o que os alquimistas
não conseguiram: FABRICAR OURO.
Enfim, para
obter as coisas das quais necessitam, além do necessário para cobrir os gastos
do fornecedor, os seres humanos são obrigados a repassar uma soma adicional
destinada à formação de riqueza dos prestadores de tais serviços uma vez que
todos os serviços são prestados por particulares sedentos de riqueza como são
todos os Midas do mundo. Ao entregar a estes monstros funções que deveriam ser
exercidas exclusivamente pelo Estado, é como soltar uma raposa dentro do
galinheiro, absurdo que se deve por força da cultura enviesada da injustificada
ineficiência do poder público. Se o Estado se move através de seres humanos,
nada explica que seres humanos possam tocar com eficiência uma empresa privada,
mas não uma empresa pública. Portanto, em vez de uma casta de intelectuais com
a cabeça nas nuvens, a sociedade careca acima de tudo de quem lhe mostre a
realidade de viver de forma incompatível com a racionalidade.
Até as
inúmeras mortes decorrentes de um sistema caótico de trânsito servem para
justificar a existência de empresas privadas que arrancam fortunas dos usuários
das estradas. É tamanho o contrassenso que apesar de saírem das fábricas com
capacidade de desenvolver duzentos e vinte ou mais quilômetros/hora, os
usuários das estradas são obrigados a se limitar a sessenta e oitenta
quilômetros ora por conta da abstinência do Estado que deixa quem precisa usar
as estradas entregues à fome de riqueza dos donos das empresas às quais foi transferido
o direito de explorar as rodovias. Enfim, o que precisa ser pensado e repensado
é o que leva o povo a não inteiramente submisso à condição de burro-de-carroça
para formar as imensas fortunas que existem nos infernos fiscais. Isto, sim,
deve ser martelado incessantemente em vez das tagarelações inúteis da inútil
intelectualidade. É tudo uma questão de ter os pés no chão por ser impossível
tê-los no espaço juntamente com a cabeça dos intelectuais. Inté.
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