domingo, 6 de maio de 2018

ARENGA 486


Certamente por não ser intelectual, o escrevinhador deste mal amanhado blog insiste em afirmar serem completamente inúteis os intelectuais uma vez que a intelectualidade deles em nada contribui para uma forma menos irracional de vida, o que deve ser o primeiríssimo objetivo de cada um dos mais de sete bilhões de seres humanos a destruir perigosamente sua moradia. Não é só o pseudo intelectual José Sarney que escreve livros do tipo daqueles que quando a gente larga não quer mais pegar, como disso o saudoso Millôr Fernandes. Acabo de fazer péssima aquisição comprando o livro O QUE É FILOSOFIA? do intelectualíssimo José Ortega Y Gasset. O livro é um curso de filosofia ministrado pelo famoso escritor e a primeira aula começa assim: “Em matéria de arte, de amor ou de ideias, creio pouco eficazes os anúncios e os programas. No que concerne às ideias, a razão de tal incredulidade é a seguinte: a meditação sobre um tema qualquer, quando é positiva e autêntica, inevitavelmente aparta o meditador da opinião recebida ou ambiente, da que, com razões mais graves do que vocês supõem agora, merece ser chama de “opinião pública” ou “vulgaridade”.

A décima primeira que também é a última aula, como todas as demais, começa e termina sem dizer prá que veio, salvo para outros intelectuais de inútil intelectualidade: “Todas as vezes que eu disse que nos víamos forçados a transpor os limites da antiguidade e da modernidade, procurei acrescentar que só as superaríamos na medida em que as conservássemos. O espírito, por sua própria essência, é, ao mesmo tempo, o mais cruel e o mais terno ou generoso”.

Comprar este livro é jogar dinheiro fora como fiz porque o de que necessitamos é a praticidade da constatação de estar a humanidade vivendo do mesmo modo como vivem os irracionais. Portanto, rasgos de profunda intelectualidade não encontram eco no meio da brutalidade humana que carece ser amenizada antes de quaisquer outras ponderações uma vez que a vida dos seres humanos é tão louca que eles são obrigados a transferir para quem não precisa de nada os recursos de que eles muito precisam. Desta transferência resultam as grandes riquezas dos fornecedores das coisas de que o povo não pode prescindir: alimento, luz, água, segurança, transporte, remédios. A propósito da inconsequência do que ocorre no tocante aos remédios, recente publicação no blog Outras Palavras, escola de alfabetização política, dá conta de que em função dos lucros exorbitantes com a venda de medicamentos a indústria farmacêutica conseguiu o que os alquimistas não conseguiram: FABRICAR OURO.

Enfim, para obter as coisas das quais necessitam, além do necessário para cobrir os gastos do fornecedor, os seres humanos são obrigados a repassar uma soma adicional destinada à formação de riqueza dos prestadores de tais serviços uma vez que todos os serviços são prestados por particulares sedentos de riqueza como são todos os Midas do mundo. Ao entregar a estes monstros funções que deveriam ser exercidas exclusivamente pelo Estado, é como soltar uma raposa dentro do galinheiro, absurdo que se deve por força da cultura enviesada da injustificada ineficiência do poder público. Se o Estado se move através de seres humanos, nada explica que seres humanos possam tocar com eficiência uma empresa privada, mas não uma empresa pública. Portanto, em vez de uma casta de intelectuais com a cabeça nas nuvens, a sociedade careca acima de tudo de quem lhe mostre a realidade de viver de forma incompatível com a racionalidade.

Até as inúmeras mortes decorrentes de um sistema caótico de trânsito servem para justificar a existência de empresas privadas que arrancam fortunas dos usuários das estradas. É tamanho o contrassenso que apesar de saírem das fábricas com capacidade de desenvolver duzentos e vinte ou mais quilômetros/hora, os usuários das estradas são obrigados a se limitar a sessenta e oitenta quilômetros ora por conta da abstinência do Estado que deixa quem precisa usar as estradas entregues à fome de riqueza dos donos das empresas às quais foi transferido o direito de explorar as rodovias. Enfim, o que precisa ser pensado e repensado é o que leva o povo a não inteiramente submisso à condição de burro-de-carroça para formar as imensas fortunas que existem nos infernos fiscais. Isto, sim, deve ser martelado incessantemente em vez das tagarelações inúteis da inútil intelectualidade. É tudo uma questão de ter os pés no chão por ser impossível tê-los no espaço juntamente com a cabeça dos intelectuais. Inté.     

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