quinta-feira, 10 de maio de 2018

ARENGA487


Nos meados do século passado, quando ainda não existiam as FMs, a Rádio Bandeirantes de São Paulo tinha um programa chamado Trabuco, no qual o radialista Vicente Leporace, com espetacular contundência, esbravejava sobre os desmandos na administração pública. Mas absolutamente nada mudou. Além da televisão, são inúmeras as rádios, inclusive a própria Bandeirantes, a fazer estardalhaço sobre os desmandos que se comparados com os do tempo do grande Leporace fariam daqueles um quase nada. Mas o que há de interessantíssimo em tudo isso é que o espalhafato, as denúncias e as indignações não passam de um faz de conta porque são os próprios meios de comunicação que semeiam a cultura que dá origem aos desmandos contra os quais eles esbravejam. É uma questão de tirar o pensamento das igrejas, do axé e do futebola e encarar a realidade histórica. Quem se dispuser a fazer isto chegará inexoravelmente à conclusão de que o povo nunca teve outro papel senão o de bobalhão, de peças do jogo de lego com as quais os falsos líderes montam as mais diversas realidades através exatamente dos meios de comunicação aos quais o povo delegou o direito de pensar por ele. Graças a esta delegação de poder, o povo acredita serem normais coisas como o lucro dos bancos, um banqueiro candidato a presidente da república, haver importância nas toupeiras mentais que os meios de comunicação consideram famosos e célebres, ser mais importante estádio de futebola do que hospital e escola, ter de pagar por tudo aquilo que já se pagou com os impostos, enfim, os meios de comunicação fazem com que o povo não só encare estas coisas não só absolutamente normais, mas também necessárias e até mesmo úteis à sociedade. Temos, pois, que os meios de comunicação que esbravejam contra a existência dos desmandos são os responsáveis pela existência deles. Esta realidade aparece sobremaneira nos comentários sobre economia. A página 13 do livro GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA ECONOMIA BRASILEIRA, começa bem desse jeito: “Imagine que, após uma noite maldormida e repleta de pesadelos, você acorda mau. Mau com “u” mesmo: uma pessoa ruim, um canalha ou, como se diz nas novelas, um cara frio, mesquinho e sem escrúpulos. Diante do espelho do banheiro, você promete a si próprio: – A partir de hoje, lutarei para prejudicar os trabalhadores. Espalharei a miséria e a corrupção. Aproximarei o Brasil do Apocalipse! Termina dizendo que se alguém tomasse tal decisão estaria apoiando as medidas governamentais. É justamente por isso que os agentes governamentais são escolhidos pelos meios de comunicação.

Mas tudo fica claro quando se conclui que os esperneadores contra os desmandos que fazem estardalhaço pelos meios de comunicação são subordinados a eles pelo vínculo empregatício. É esta tramoia que sustenta a forma atual de administração pública. Através do pão e circo se alimenta o analfabetismo político do qual resulta um povo menos interessado no futuro dos filhos do que bola na rede. Desta forma, sabendo-se que a massa bruta de povo é incapaz de uma só ação inteligente, todo o converseiro sobre desmandos tem por finalidade a obtenção de audiência da qual depende maiores lucros. Caso houvesse real interesse numa sociedade diferente desta maldição que aí está os meios de comunicação bradariam por um sistema educacional que formasse cidadãos em lugar de técnicos em fabricar dinheiro. Enquanto o bicho povo se limitar à condição de bicho terá o destino de ter o rabo esfolado. Aliás, pelos líderes que escolhem, parece mesmo gostar de tal destino. Inté.   

 

 

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