Nos meados do século passado, quando ainda não existiam as FMs, a Rádio
Bandeirantes de São Paulo tinha um programa chamado Trabuco, no qual o
radialista Vicente Leporace, com espetacular contundência, esbravejava sobre os
desmandos na administração pública. Mas absolutamente nada mudou. Além da
televisão, são inúmeras as rádios, inclusive a própria Bandeirantes, a fazer
estardalhaço sobre os desmandos que se comparados com os do tempo do grande
Leporace fariam daqueles um quase nada. Mas o que há de interessantíssimo em
tudo isso é que o espalhafato, as denúncias e as indignações não passam de um
faz de conta porque são os próprios meios de comunicação que semeiam a cultura
que dá origem aos desmandos contra os quais eles esbravejam. É uma questão de tirar
o pensamento das igrejas, do axé e do futebola e encarar a realidade histórica.
Quem se dispuser a fazer isto chegará inexoravelmente à conclusão de que o povo
nunca teve outro papel senão o de bobalhão, de peças do jogo de lego com as
quais os falsos líderes montam as mais diversas realidades através exatamente
dos meios de comunicação aos quais o povo delegou o direito de pensar por ele. Graças
a esta delegação de poder, o povo acredita serem normais coisas como o lucro
dos bancos, um banqueiro candidato a presidente da república, haver importância
nas toupeiras mentais que os meios de comunicação consideram famosos e
célebres, ser mais importante estádio de futebola do que hospital e escola, ter
de pagar por tudo aquilo que já se pagou com os impostos, enfim, os meios de
comunicação fazem com que o povo não só encare estas coisas não só
absolutamente normais, mas também necessárias e até mesmo úteis à sociedade. Temos,
pois, que os meios de comunicação que esbravejam contra a existência dos
desmandos são os responsáveis pela existência deles. Esta realidade aparece
sobremaneira nos comentários sobre economia. A página 13 do livro GUIA
POLITICAMENTE INCORRETO DA ECONOMIA BRASILEIRA, começa bem desse jeito: “Imagine
que, após uma noite maldormida e repleta de pesadelos, você acorda mau. Mau com
“u” mesmo: uma pessoa ruim, um canalha ou, como se diz nas novelas, um cara
frio, mesquinho e sem escrúpulos. Diante do espelho do banheiro, você promete a
si próprio: – A partir de hoje, lutarei para prejudicar os trabalhadores.
Espalharei a miséria e a corrupção. Aproximarei o Brasil do Apocalipse! Termina
dizendo que se alguém tomasse tal decisão estaria apoiando as medidas
governamentais. É justamente por isso que os agentes governamentais são
escolhidos pelos meios de comunicação.
Mas tudo fica claro quando se conclui que os esperneadores contra os
desmandos que fazem estardalhaço pelos meios de comunicação são subordinados a
eles pelo vínculo empregatício. É esta tramoia que sustenta a forma atual de
administração pública. Através do pão e circo se alimenta o analfabetismo
político do qual resulta um povo menos interessado no futuro dos filhos do que
bola na rede. Desta forma, sabendo-se que a massa bruta de povo é incapaz de
uma só ação inteligente, todo o converseiro sobre desmandos tem por finalidade
a obtenção de audiência da qual depende maiores lucros. Caso houvesse real
interesse numa sociedade diferente desta maldição que aí está os meios de
comunicação bradariam por um sistema educacional que formasse cidadãos em lugar
de técnicos em fabricar dinheiro. Enquanto o bicho povo se limitar à condição
de bicho terá o destino de ter o rabo esfolado. Aliás, pelos líderes que
escolhem, parece mesmo gostar de tal destino. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário