Na página
143 de A História da Riqueza do Homem, seu autor, Leo Huberman, nos dá notícia
de que um número cada vez maior de pessoas discordava tanto da teoria quanto da
prática mercantilista de Adam Smith e seus seguidores, e explica o motivo da
não concordância: é que as pessoas sofriam com elas. Na prática, tal teoria
prejudicava muita gente ao restringir seu campo de ação na atividade
empreendedora, e assim elas rejeitavam algo que lhes era prejudicial ou danoso.
Tal comportamento indica ter havido época em que as pessoas rejeitavam o que
lhes era prejudicial ou danoso, comportamento inverso ao adotado pelas pessoas
dos tempos modernos, dedução a que se chega ao analisar a notícia dada por Heródoto
Barbeiro no Blog do Barbeiro, em matéria intitulada COPA DO MUNDO DA FIFA, sobre
a situação absurda que prejudica a todos os brasileiros, mas sem despertar
indignação em ninguém: A Arena Fonte Nova, imenso terreiro para brincadeira de
futebola, construída na capital baiana ao custo de seiscentos e noventa milhões
de reais, dos quais quatrocentos milhões é dinheiro do povo, será administrada
por empresa privada. Além do absurdo de se queimar em brincadeira dinheiro de
evitar choro no corredor do hospital, outro absurdo igualmente danoso para o
povo é que mais dinheiro do povo será dado à empresa privada administradora do
campo de futebola sempre que a renda dos ingressos vendidos para os brincalhões
brincarem não for suficiente para cobrir as despesas de manutenção do já
denominado elefante branco, sem que tal fato escabroso cause indignação a
ninguém. Dentro da cultura brasileira de ladroagem, alguém é capaz de não
perceber haver um “jeitinho” de fazer com que a renda seja sempre deficitária?
Em tal caso, o brasileiro do Oiapoque e do Chuí irá pagar para manter o
elefante branco e alimentar corrupção na Bahia. O competente jornalista que nos
dá tal notícia, não obstante o fato de também noticiar assuntos de futebola em
seus noticiários, parece ser a única pessoa a se indignar com esta situação.
Como entender que o povo não se sinta incomodado com algo que é realmente de
causar incômodo? Pessoas normais chegam a dar tapa na própria cara para
escorraçar a muriçoca cujo zumbido as incomoda. Já o povo, entretanto, é
indiferente a situações muito mais danosas do que o zumbido da muriçoca.
Como
explicar tal apatia pelas coisas das quais depende seu próprio bem-estar e de
seus filhos? Simplesmente porque o povo não sabe estar sendo prejudicado, do
mesmo modo como um surdo não poderia tomar conhecimento do zumbido da muriçoca
que vai se alimentar do seu sangue e lhe prejudicar. Mas, o que impede o povo
de saber estar sendo prejudicado? São as armadilhas preparadas pelo sistema de
administração pública montado pelos grandes aglomerados de ricos para manter o
povo afastado do conhecimento da verdade. Mas, e como funciona esse negócio?
Esse negócio não é de agora apenas. Sempre foi assim. O povo nunca esteve
antenado com a realidade de sua vida. Sempre foi enganado. Vinícius Bittencourt
nos dá um perfeito exemplo desta situação na página 119 do seu fabuloso livro
Falando Francamente. Na Idade Média, esclarece, por se desconhecer a relação
entre os micróbios e a peste, em vez de matar os micróbios matavam-se as
mulheres às quais eram atribuídas as bruxarias por se acreditar serem elas as
causadoras das doenças.
Neste exato
momento, vive o povo mais uma enganação com a farsa da justiça. A justiça é uma
enganação tão grande quanto matar bruxas em vez dos micróbios. Embora haja gato
pingado com nobreza de caráter na instância máxima da justiça nesse país de
requebradores de quadris, o voto decisivo no julgamento que vem procurando há
anos defender os bandidos do Mensalão foi proferido por um juiz elevado aos
píncaros do bom caratismo e moralidade inabalável pelos deformadores de opinião
cujas opiniões são trocadas por dinheiro. Pois esse poço de moralidade teve o
telefone desligado na cara depois de ouvir de outro “poço de moralidade” o
seguinte: “VOCÊ É UM JUIZ DE MERDA”. Esse outro “poço de moralidade”, também
jurista competente nas artimanhas jurídicas, companheiro de Sarney, cujas
artimanhas podem ser conhecidas no livro Honoráveis Bandidos. A história sobre
o mau caratismo do ministro desempatador a favor dos criminosos do Mensalão pode
ser vista no jornal Tribuna da Imprensa, com o título de EM SEU LIVRO DE
MEMÓRIAS, SAULO RAMOS ARRASOU CELSO DE MELO. A matéria é do jornalista Alberto
Gonçalves.
O povo vive
uma eterna fantasia, e esta é a razão de viver tão mal. A fantasia da
religiosidade faz crer que Deus distribui carros de presente. A fantasia da
política faz pessoas espertas, de baixo nível moral e nenhum senso de
sociabilidade manter o povo enganado com discursos recheados de falta de
correspondência na prática como o falatório de serem todos iguais perante as
leis por eles criadas. A fantasia da justiça faz com que os não privilegiados
pela proteção do dinheiro amargurem as agruras da masmorra, e os abençoados por
tal proteção disponham de Embargos Infringentes, farsa visível no fato de haver
várias opiniões divergentes sobre o mesmo acontecimento. Os acusados são
defendidos por juízes nomeados pelos próprios acusados. Seus defensores dão nó
em pingo d’água em sua defesa. Quando uns afirmam haver crime e outros afirmam
o contrário, é como se fosse possível haver várias interpretações entre
Cientistas da física sobre a lei da gravidade, ou da química sobre a composição
da água.
Tudo é só
farsa. A da democracia nada mais é do que um tipo de escravidão que conta com o
beneplácito do escravo. A população mundial trabalha apenas para desfrute de
uma insignificante minoria de espertos que acreditam poder manter tal esperteza
indefinidamente sem se lembrar de uma Revolução Francesa Mundial. Por outro
lado, a farsa da felicidade para sempre consiste em se acreditar que o vigor da
juventude não chegará aos males de Parkinson e Alzheimer, ao diabetes, aos
sofrimentos à espera nas UTIs, nas cirurgias de próstata, catarata e na perda
da audição. Do mesmo modo, a farsa da educação consiste em fazer apologia da
idiotice de acumular fortunas ainda que vivendo em meio a necessitados a quem
cabe a tarefa de tomar conta de montanhas de dinheiro, e esperar que estes
necessitados se limitem apenas a zelar por elas. Inté.
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