sexta-feira, 19 de junho de 2015

ARENGA 127


Quando se diz que a imprensa é a alma da sociedade, dir-se-ia com maior propriedade que as notícias da imprensa o são. IMPRENSA faz parte do mundo dos ricos. NOTÍCIA envolve também o rebotalho do lado de fora do mundo dos ricos. As notícias, sim, dão a medida exata da qualidade do ambiente que dá origem a elas. Por exemplo, a notícia de que o piloto do avião presidencial pode virar ministro do Superior Tribunal Militar traz a realidade de uma sociedade sem maiores cuidados com a eficiência de suas instituições. Mesmo que o Brasil merecesse respeito, e que o piloto da Presidência da República transportasse a representação de um país soberaníssimo, respeitado mundo afora pela sua capacidade de levar paz onde há arma, ainda assim, esse piloto não poderia ocupar um cargo que nada tem a ver com sua altíssima especialização na técnica de aviador de alta qualidade. Esta situação lembra o dizer do general De Gaulle sobre a insinceridade do Brasil. Aqui são administradas com total irresponsabilidade as instituições públicas. Coisas que não acontecem na empresa privada são comuns quando é do povo a empresa. Não vale citar a Petrobrás porque ninguém aguenta mais ouvir falar na Petrobrás. A Petrobrás é uma vergonha total e dá tristeza ouvir a palavra Petrobrás.  Do mesmo modo, também a indicação do piloto para ministro de justiça é resultado da irresponsabilidade com que são administradas as instituições nesse exuberante, mas desgraçado país, por abrigar uma população de uma ignorância e queda por roubo do tamanho do mundo. Nada por aqui precisa ser sério, como disse o general De Gaulle. Para assumir a responsabilidade de transportar presidentes ainda que indignos, certamente o piloto ocupa todo o seu tempo nos assuntos relacionados com a sua responsabilidade de ser o comandante daquele aviaozão, responsabilidade bastante para que seu tempo lhe permita dedicação a outras atividades a ponto de também estar pronto para outra responsabilidade embora tão grande quanto a que está vinculado, mas que exige especialização completamente diferente. Tomar decisões com base na legislação requer alguém que tenha nessa atividade a mesma prática que o piloto tem de tomar decisões baseadas na aviação. A cultura do descaso com a coisa pública até faz crer que não tem dono ou que é de graça. Da irresponsabilidade com que é cuidada a instituição da educação resulta uma juventude que tira zero no Enem e faz fila na madrugada para mendigar empréstimo ao estudo que a constituição lhe garante por conta dos impostos. Presenciei há muitíssimo tempo uma cena, que mesmo ainda sendo jovem o bastante para ser burro como todo jovem, me fez pensar sobre o que acabara de perceber naquela situação. Em conversa, alguém perguntou ao prefeito de uma cidadezinha o motivo pelo qual ele contratara um técnico menos experiente do que o outro que concorria ao cargo, e a resposta do prefeito foi que o critério era político. A irresponsabilidade no critério da indicação para a administração pública vai da mais humilde prefeiturazinha do interior lá do interior do interior até o suntuoso palácio que o povo paga para ouvir os semideuses que lá habitam avisarem da janela para ter paciência que o bolo, ó, só tá que cresce.

Outra notícia que também é a cara desta sociedade de fazer vergonha é a seguinte: SE FOSSE PAÍS, SÃO PAULO ESTARIA ENTRE AS 50 POTÊNCIAS MUNDIAIS. Nas entrelinhas está o que os Grandes Mestres do Saber denominaram de causa dos males do mundo: a ignorância. O corre-corre por dinheiro só permite aprender como correr atrás de dinheiro. Se ligar em coisas imateriais sem ser religião resulta em melhor qualidade de vida. Tomar conhecimento, por exemplo, da qualidade que deveria ter o que come e bebe, e a qualidade que realmente tem a comida e a bebida sobre a mesa, este conhecimento resultaria em grande recompensa, inclusive ganhar o dinheiro que o hospital vai ganhará na tentativa de recuperar o estrago feito pelo veneno que não podia estar na comida ou na bebida. Está errado quem dedica a vida à cata de dinheiro. São Paulo tem tanta riqueza e é infeliz. Seu povo não sabe ser infeliz porque é povo. Assim como São Paulo, as sociedades sem complexo de pavão vivem de forma mais harmoniosa e seu povo tem menos inimigos raivosos. Aprender sobre a ligação existente entre o fato de fazer fortuna e as crianças transformadas em bicho é uma excelente forma de elevar a espiritualidade acima do rame-rame de apenas trabalhar escravizado pela obrigação eterna de fiscalizar se não está faltando nada da riqueza ajuntada além de fiscalizar o trabalho do empregado escravizado pelo emprego.

Não fosse o perigo de se transformar em choro, seria de causar risos a seguinte notícia no jornal: TIROTEIO SUSPENDE LARGADA DO 'DESAFIO DA PAZ' NA VILA CRUZEIRO. É ou não é a expressão exata de uma sociedade de completos imbecis? É através de gestos ridículos como abraçar prédios e praças, zuar panelas e tambores num ambiente onde não faltam os requebros, que esse ajuntamento socialmente imprestável de manada reivindica mais capim. O barulho e as orações inúteis são a forma de reivindicação dos bichos em forma de gente, incapazes do menor raciocínio. A lucidez evidencia a queda gradativa da religiosidade, coisa imperceptível a quem é povo. A dinâmica da vida que o poeta chamou de roda viva vai diminuindo a credibilidade nas coisas da religião até chegar ao ponto de se tornarem ridículas muitas delas. As remanescentes, entretanto, levam multidões às igrejas onde muitos viram alvo de metralhadoras e outros tem cepadas fora do corpo as cabeças. O que hoje é mitologia já foi religião. Entretanto, sua única utilidade hoje não vai além de curiosidade e agradável deleite espiritual através de suas histórias infantis. Para quem já deixou de ser povo, as palhaçadas da religiosidade como os pedidos de paz do papa, transformação de lembrança de mortos em santos, produção de imagens vendidas aos montes nas lojas com as quais os mendigos espirituais trocam ideias, tudo isso representa a mesma falta de lógica existente na mitologia. Os gregos, por exemplo, segundo Thomas Bulfinch escreveu no livro MITOLOGIA, explicavam de modo muito mais interessante a criação das coisas do que as explicações sem pé nem cabeça da criação divina atual. Acreditavam eles na existência de um lugar habitado por seres que não morriam e viviam uma felicidade eterna, os hiperbóreos. Afirmavam ser completamente inacessível tal lugar por terra ou mar, de forma que ninguém jamais chegaria lá. Aqui está a evidência de que a única coisa a exercer influência em nosso destino são as nossas ações. No tempo em que os gregos afirmavam a inacessibilidade ao lugar onde viviam a raça especial, uma vez que era aqui na Terra, deixou de ser inacessível depois do transporte aéreo. Se houvesse petróleo por lá, com certeza Bush tascava um drone na cuca dos hiperbóreos.

Não resta a menor dúvida, todo o mal do mundo é causado pelas consequências de acontecimentos como o que gerou a seguinte notícia: MAIS RICO DO BRASIL PASSA DE R$ 2 BI PARA R$ 32 BI EM 9 ANOS – JORGE PAULO LEMANN AUMENTOU FORTUNA ENTRE 2004 E 2013. Tá faltando esperteza para substituir a “esperteza” Nenão? Inté.

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário