domingo, 12 de março de 2017

ARENGA 394


Entre as muitas histórias que integram a bela mitologia grega que convidam ao exercício do pensamento existe uma tragédia chamada Medéia, criada por um poeta chamado Eurípedes. Conta que o príncipe Jasão foi encarregado pelo rei Pélias de recuperar o velocino de ouro, uma pele de carneiro alado cuja lã era feita de ouro, usurpado daquele reino. Numa embarcação chamada Argo embarcou ele em companhia de outros bravos jovens que ficaram conhecidos como Argonautas. Chegando ao reino do rei usurpador, Aietes, Jasão foi incumbido de executar três tarefas consideras impossíveis por seus companheiros como condição de ter de volta o velocino de ouro. Como a mulher de Zeus, o deus mais poderosos entre todos os deuses apreciava Jasão, fez com que a filha de Aietes chamada Medéia e que dispunha de grandes poderes se apaixonasse por Jasão e o auxiliasse no cumprimento das difíceis tarefas, o que o levou ao sucesso e Medéia, apaixonada, acompanhou Jasão que algum tempo depois abandonou-a por ter-se apaixonado pela filha do rei Creonte, o que levantou na alma de Medéia um sentimento de vingança tão terrível que ela afirmou ser a mulher comumente temerosa, que foge à luta, que estremece à vista da arma. Mas, quando seu leito é ultrajado, não existe alma mais sedenta de sangue. Foi tão violenta a ação de Medéia que matou os próprios filhos para causar sofrimento no pai, Jasão, e tramava morte pavorosa para ele, sua nova mulher, Glauce, e para seu pai por dado a filha a Jasão em casamento. Embora não pareça, as maquinações de Eurípedes ao criar esta história traz à juventude a necessidade de pensar em outra coisa que não apenas o profissionalismo ganhador de dinheiro. Como assim, haveria de inquirir o incrédulo frequentador de igreja, axé e futebola. Acontece que sendo a sociedade feminina como Medéia e como ela relegada a total desprezo pelos seus dirigentes, estarão seus infelicitadores condenando-se do mesmo modo que Jasão, Glauce e seu pai a se tornarem alvos de terrível vingança por parte da sociedade, como já aconteceu por mais de uma vez durante o curso da História, inclusive, segundo o historiador Barns, página 888 do segundo volume de História da Civilização Ocidental, entre as causas que provocaram os horrores da Revolução Russa de 1917 estaria a sangria dos recursos públicos em função de conluios entre fornecedores do governo e funcionários públicos. Exatamente o que está sendo demonstrado pela Operação Lava Jato, perseguida pelos funcionários públicos que se beneficiam dos conluios.

Os habitantes do planeta Terra estão à deriva do mesmo modo como estariam os passageiros de um barco cuja    tripulação, seduzida pela magia do canto de sereias, abandonasse a responsabilidade de suas funções para viver um mundo irreal de loucas fantasias sugeridas pelo encantamento. Do mesmo modo, seduzidos pelo canto do sistema econômico, os dirigentes do destino da humanidade vivem a falsa realidade de haver vantagem no consumismo e no “levar vantagem” sobre os mais fracos e desprotegidos, desumanidade recomendada pela economia, da qual resultam as grandes riquezas e as grandes pobrezas. Desumanidade aqui não tem o mesmo sentido de piedade, caridade, bondade, pieguices dos frequentadores de igreja, axé e futebola infensos à atividade de pensar em outra coisa que não BBB, “famosos” e “celebridades” cuja mentalidade não vai além dos vasos sanitários. A desumanidade em ser indiferente às dificuldades alheias está na impossibilidade de se formar com tal comportamento uma sociedade espiritualmente elevada, portanto, diga de seres humanos, visto que tal sociedade não pode existir enquanto houver quem não possa satisfazer plenamente suas necessidades essenciais. Equivale a dizer que sentimento humanitário é ter a clarividência necessária para compreender a necessidade de ter em relação à todas as pessoas indistintamente a mesma preocupação que se tem em relação a si mesmo e aos familiares. Embora os babacas repetem como autômatos “deseja para os outros o que deseja para você mesmo”, não é o que fazem, e é em função desse não fazer que se deve a ilusão de serem as coisas necessárias à existência material e a religiosidade os dois únicos aspectos da vida merecedores de meditação. Falsidade das maiores porque se da meditação religiosa resulta a infelicidade do ataque a bomba que matou ao menos quarenta e quatro iraquianos e feriu outros cento e vinte a caminho do templo de orações, como noticia a imprensa, das meditações econômicas resultam infelicidades sem fim como estas registradas em matéria do jornalista Silvio Caccia Bava publicada no jornal Le Monde Diplomatic Brasil, denominada Convulsões Sociais: “Com o corte nas políticas sociais praticado pelo governo federal e o ajuste imposto aos governos estaduais e municipais obrigados a cortar salários e previdência dos servidores públicos o conflito está aberto.  A soma destes fatores com insensibilidade do governo sem voto e sua postura submissa ao rentismo estão levando o país para um período de convulsões sociais.   As pessoas se refugiam em casa com medo da violência generalizada. O atraso no pagamento dos servidores e o congelamento de seus salários levaram as PMs e os bombeiros a permanecer em seus quartéis. Supermercados e mais de duzentas lojas são saqueados pela população na região metropolitana. No estado, outros cem saques são registrados. O comércio fecha as portas. Mais de 170 veículos são roubados no período.”

A sociedade humana é submetida a maus tratos desde que se tem conhecimento dela e é realmente muito impressionante como se submete a isto sem se cogitar outra forma de convivência tanto os maltratadores quanto os maltratados uma vez que de tal comportamento resultará infelicidade para uns e outros. Embora felicidade suponha total ausência de sofrimento, o que é inteiramente impossível na vida porque a maioria deles são impostos pela natureza, realidade desconhecida apenas enquanto dura a inexperiência e o vigor da juventude, a inteligência, contudo, deve levar a procedimentos que evitem os sofrimentos evitáveis. Inté.  

 

 

 

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