Entre as
muitas histórias que integram a bela mitologia grega que convidam ao exercício
do pensamento existe uma tragédia chamada Medéia, criada por um poeta chamado
Eurípedes. Conta que o príncipe Jasão foi encarregado pelo rei Pélias de
recuperar o velocino de ouro, uma pele de carneiro alado cuja lã era feita de
ouro, usurpado daquele reino. Numa embarcação chamada Argo embarcou ele em
companhia de outros bravos jovens que ficaram conhecidos como Argonautas.
Chegando ao reino do rei usurpador, Aietes, Jasão foi incumbido de executar
três tarefas consideras impossíveis por seus companheiros como condição de ter
de volta o velocino de ouro. Como a mulher de Zeus, o deus mais poderosos entre
todos os deuses apreciava Jasão, fez com que a filha de Aietes chamada Medéia e
que dispunha de grandes poderes se apaixonasse por Jasão e o auxiliasse no
cumprimento das difíceis tarefas, o que o levou ao sucesso e Medéia,
apaixonada, acompanhou Jasão que algum tempo depois abandonou-a por ter-se
apaixonado pela filha do rei Creonte, o que levantou na alma de Medéia um
sentimento de vingança tão terrível que ela afirmou ser a mulher comumente
temerosa, que foge à luta, que estremece à vista da arma. Mas, quando seu leito
é ultrajado, não existe alma mais sedenta de sangue. Foi tão violenta a ação de
Medéia que matou os próprios filhos para causar sofrimento no pai, Jasão, e
tramava morte pavorosa para ele, sua nova mulher, Glauce, e para seu pai por dado
a filha a Jasão em casamento. Embora não pareça, as maquinações de Eurípedes ao
criar esta história traz à juventude a necessidade de pensar em outra coisa que
não apenas o profissionalismo ganhador de dinheiro. Como assim, haveria de
inquirir o incrédulo frequentador de igreja, axé e futebola. Acontece que sendo
a sociedade feminina como Medéia e como ela relegada a total desprezo pelos
seus dirigentes, estarão seus infelicitadores condenando-se do mesmo modo que
Jasão, Glauce e seu pai a se tornarem alvos de terrível vingança por parte da
sociedade, como já aconteceu por mais de uma vez durante o curso da História,
inclusive, segundo o historiador Barns, página 888 do segundo volume de
História da Civilização Ocidental, entre as causas que provocaram os horrores
da Revolução Russa de 1917 estaria a sangria dos recursos públicos em função de
conluios entre fornecedores do governo e funcionários públicos. Exatamente o
que está sendo demonstrado pela Operação Lava Jato, perseguida pelos
funcionários públicos que se beneficiam dos conluios.
Os
habitantes do planeta Terra estão à deriva do mesmo modo como estariam os
passageiros de um barco cuja tripulação, seduzida pela magia do canto de
sereias, abandonasse a responsabilidade de suas funções para viver um mundo
irreal de loucas fantasias sugeridas pelo encantamento. Do mesmo modo,
seduzidos pelo canto do sistema econômico, os dirigentes do destino da
humanidade vivem a falsa realidade de haver vantagem no consumismo e no “levar
vantagem” sobre os mais fracos e desprotegidos, desumanidade recomendada pela economia,
da qual resultam as grandes riquezas e as grandes pobrezas. Desumanidade aqui
não tem o mesmo sentido de piedade, caridade, bondade, pieguices dos
frequentadores de igreja, axé e futebola infensos à atividade de pensar em
outra coisa que não BBB, “famosos” e “celebridades” cuja mentalidade não vai
além dos vasos sanitários. A desumanidade em ser indiferente às dificuldades
alheias está na impossibilidade de se formar com tal comportamento uma
sociedade espiritualmente elevada, portanto, diga de seres humanos, visto que
tal sociedade não pode existir enquanto houver quem não possa satisfazer
plenamente suas necessidades essenciais. Equivale a dizer que sentimento
humanitário é ter a clarividência necessária para compreender a necessidade de
ter em relação à todas as pessoas indistintamente a mesma preocupação que se
tem em relação a si mesmo e aos familiares. Embora os babacas repetem como
autômatos “deseja para os outros o que deseja para você mesmo”, não é o que
fazem, e é em função desse não fazer que se deve a ilusão de serem as coisas
necessárias à existência material e a religiosidade os dois únicos aspectos da
vida merecedores de meditação. Falsidade das maiores porque se da meditação religiosa
resulta a infelicidade do ataque a bomba que matou ao menos quarenta e quatro
iraquianos e feriu outros cento e vinte a caminho do templo de orações, como
noticia a imprensa, das meditações econômicas resultam infelicidades sem fim
como estas registradas em matéria do jornalista Silvio Caccia Bava publicada no
jornal Le Monde Diplomatic Brasil, denominada Convulsões Sociais: “Com o
corte nas políticas sociais praticado pelo governo federal e o ajuste imposto
aos governos estaduais e municipais obrigados a cortar salários e previdência
dos servidores públicos o conflito está aberto. A soma destes
fatores com insensibilidade do governo sem voto e sua postura submissa ao
rentismo estão levando o país para um período de convulsões sociais. As pessoas se refugiam em casa com medo da
violência generalizada. O atraso no pagamento dos servidores e o congelamento
de seus salários levaram as PMs e os bombeiros a permanecer em seus quartéis.
Supermercados e mais de duzentas lojas são saqueados pela população na região
metropolitana. No estado, outros cem saques são registrados. O comércio fecha
as portas. Mais de 170 veículos são roubados no período.”
A sociedade humana é submetida a maus tratos desde que se tem
conhecimento dela e é realmente muito impressionante como se submete a isto sem
se cogitar outra forma de convivência tanto os maltratadores quanto os
maltratados uma vez que de tal comportamento resultará infelicidade para uns e
outros. Embora felicidade suponha total ausência de sofrimento, o que é
inteiramente impossível na vida porque a maioria deles são impostos pela natureza, realidade desconhecida apenas enquanto dura a inexperiência e o vigor da juventude, a inteligência, contudo, deve levar a procedimentos
que evitem os sofrimentos evitáveis. Inté.
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