No
depoimento à justiça, o empresário Emílio Odebrecht se referiu
a Palocci, preso por banditismo, como Homem de visão, um estadista. No Brasil, homem
de visão e estadista vai prá cadeia por crime de lesa pátria, o que dá razão à chanceler
venezuelana ao afirmar ser o Brasil uma vergonha para o mundo. O que
acontece com este nosso país? Se a imprensa de determinado grupo social é o
espelho que reflete a alma desse grupo, considerando “alma” não um fantasma do
outro mundo como pensam os frequentadores de igreja, axé e futebola, a mais
pura nobreza de sentimento, a alma de nossa sociedade está tão podre quanto as
carnes que alimentam as crianças brasileiras e que animam alegres adultos em
cervejas e churrascos aos domingos. Ao comtemplar a parte da imprensa que reflete
a alma do convívio social, eis o que nos apresenta o noticiário: “Mulher de
Tiririca declara que ele é bonito e gostoso. Nana Magalhães, a esposa gata de Tiririca, está dando o que falar por aí. Desta vez, a modelo
resolveu fazer declarações picantes
sobre a intimidade dos dois. // Mariana Goldfarb conta que Cauã Reymond dá
palpite em suas roupas. // Carolina
Dieckmann contou que sofreu muito durante as gestações de seus dois
filhos. // Sou
bem-resolvido com o tamanho do meu pau, mas já ouvi dizer que a grossura
importa mais na hora de satisfazer uma mulher. Qual a circunferência ideal? //
Thammy declara que homens dão prá cima dele”. Aí está, pois, apenas uma
lambiscadinha da mostra de nossa alma social. Estas são as personalidades
célebres e famosas que o espelho reflete.
No que se
refere à administração pública, então, é de morrer de vergonha tanta canalhice.
Em matéria no Jornal do Brasil, intitulada “Só
a rua salva a Lava-Jato”, a alta técnica jornalística de Hélio
Gaspari em apenas uma frase: “Todos operam no caixa dois, diz o coro,
mas eu nunca operei, responde cada um dos cantores” mostra o mar de lama em
que chafurda esta sociedade da qual os sentimentos nobres fogem como o diabo da
cruz. É de espantar como homens da envergadura moral de Jarbas Vasconcelos
consegue se aludir à trupe de parasitas do erário chamando-os de colegas. São
criminosos chamados de “excelências” que roubam descaradamente o dinheiro do
leite das crianças e justificam enriquecimento misterioso negando as acusações,
no que são apoiados por advogados de escritórios milionários que de olho no
produto do roubo garantem serem falsas as acusações. No mesmo jornal, outras
notícias dão conta de um conluio entre “autoridades” e frigoríficos
para vender carne podre à população, e o governo, advogando o crime desses
criminosos, tal qual os ricos escritórios de advocacia, minimiza tal absurdo.
Se para o governo é irrelevante que a população seja envenenada, prá que
governo, então? Outra notícia do mesmo Jornal do Brasil dá conta de não se
poder mais apurar a denúncia contra Aécio Neves por ter vencido o prazo de
validade. Tá certo tamanho absurdo? Então o sujeito rouba o dinheiro do leite
das crianças e fica por isso mesmo? Que sociedade é Esta? Mais adiante, o mesmo
jornal noticia que mulher de “autoridade” gastou oito vezes a renda que declara
possuir. De onde teria vindo o excedente, senão do bolso dos frequentadores de
igreja, axé e futebola? Passando para outro jornal, A Folha de São Paulo,
aquele que demitiu do quadro de colunistas o Guilherme Boulos por ser um
defensor dos fracos e oprimidos que a genialidade de Chico Anísio na figura do
deputado Justo Veríssimo queria e a Folha de São Paulo quer que se explodam,
dá-se com notícia de que há cinquenta anos Costa e Silva assumiu a Presidência
com a promessa de promover o bem geral do país.
Tendo em vista que o país continua na mesma merda, conclui-se pela inutilidade
dos governos. Outra notícia dando conta de que a incidência
de câncer colorretal aumenta entre os mais jovens, evidencia algo de muitíssimo
errado no modo de condução da juventude inexperiente. Mais outra notícia dá
conta de que um dos ladrões do erário, um tal de Youssef, passa a regime aberto
com dívida de R$ 1 bi, dinheiro também tirado da sociedade que vai dar vida
faustosa ao meliante. Outro ladrão do erário, um tal de Nestor Cerveró, além de
ter liberada sua mansão no Rio de Janeiro, seu advogado que ficará com uma
parte do roubo diz que a dívida de seu cliente é impagável. Assim, fica o
bandidão de um olho prá cima e outro prá baixo livre para curtir vida faustosa
às custas da manada que se dependura no corrimão dos coletivos rumo às
senzalas. Que sociedade é esta? Passando para outro jornal, O Globo, tem-se que
a diretoria da H. Stern vendeu para o governador Cabral seis milhões e joias, o
que desmente a existência de controle sobre o uso do dinheiro público pelos
tribunais de conta entre cujos membros também existem ladrões, o que não pode
deixar de ser em se tratando desta vergonha de país, no qual, como disse a
doutora Eliana Calmon, há bandidos de toga. Isto lá é país? O mesmo jornal noticia
também que Romero Jucá, presidente do PMDB, propõe que mais de R$ 3 bilhões de
reais sejam destinados a campanhas políticas e que Lula recebeu quase R$ 1 milhão em
2015 de empresa de palestras. É simplesmente inadmissível que a
sociedade aceite não só privar-se de um dinheiro daquele tamanho a ser gasto
para convencê-la a votar em ladrões para assaltá-la, mas também ser tão boba a
ponto de ser convencida de que um analfabeto ganhe um milhão fazendo palestras.
O que tem um analfabeto a ensinar? Ao voltar os olhos para a Carta Capital,
damos com o seguinte: “Suruba
é a palavra perfeita para descrever Brasília atualmente. Os poderosos perderam
o pudor, o ambiente é de alegre promiscuidade. Dizem o que pensam e defendem
para o País, sem vergonha de parecerem machistas, elitistas, hipócritas,
espertalhões, e ainda mergulham em conchavos para salvar a pele de
todos e dos amigos contra a Operação Lava Jato”. Na mesma
revista: “Reforma da Previdência ignora
426 bilhões devidos por empresas ao INSS. Dívida é o triplo do déficit anual calculado pelo governo. Entre as
devedoras, estão as maiores do país, como Bradesco, Caixa, Marfrig, JBS e Vale.
Enquanto propõe que o brasileiro
trabalhe por mais tempo para se aposentar, a reforma da Previdência Social ignora os R$ 426 bilhões que não são repassados pelas empresas ao
INSS. O valor da dívida equivale a três vezes o chamado déficit da Previdência
em 2016”.
Esta é a alma da sociedade brasileira refletida no espelho representado
pela imprensa. Não há termo capaz de definir a estupidez de uma juventude que chafurda
num merdeiro desse tamanho rumo ao caos em vez de articular pacifica e inteligentemente
uma sociedade espiritualmente sadia onde seus filhos tivessem paz, água sem
bosta, comida sem veneno administração e não respirassem a podridão fedorenta
que exala de Brasília. Um pê esse para terminar: Se Lula processou o
procurador Dallagnol por acusá-lo de chefe de quadrilha e roubo, por que não
processou Ivo Patarra, autor do livro O Chefe, que o acusa dos mesmos crimes?
Inté
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